Suplementos probióticos podem atrapalhar sua saúde intestinal; entenda por quê

Especialistas recomendam cuidado com o exagero: em pessoas saudáveis, os suplementos probióticos oferecem poucos benefícios e podem causar mais mal do que bem

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Por Anahad O’Connor

Os suplementos probióticos se transformaram em uma indústria multibilionária, estimulada por promessas de que os produtos vão povoar seu intestino com bactérias que podem melhorar sua saúde de várias maneiras.

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Mas cuidado com o exagero: em pessoas saudáveis, os suplementos probióticos oferecem poucos benefícios e podem causar mais mal do que bem.

Estudos mostram que tomar suplementos probióticos – para a saúde geral ou para combater os efeitos dos antibióticos – pode alterar a composição do seu microbioma e reduzir os níveis de diversidade microbiana em seu intestino, que está ligada a vários problemas de saúde.

Os suplementos probióticos vêm na forma de cápsulas, gomas, pós e pílulas que contêm microorganismos vivos que, segundo se acredita, aumentam a saúde intestinal. Há um subconjunto de pessoas que podem se beneficiar de tomá-los, como pessoas com doenças gastrointestinais. Estudos descobriram que os suplementos probióticos podem reduzir os sintomas da síndrome do intestino irritável e da doença inflamatória intestinal. Eles podem prevenir a diarreia do viajante e reduzir alguns efeitos colaterais dos medicamentos antibióticos.

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Mas, para a maioria das pessoas, existem maneiras mais confiáveis de nutrir o microbioma intestinal.

Primeiro, coma uma variedade de vegetais, nozes, sementes, feijões e grãos integrais, que fornecem aos micróbios intestinais o combustível rico em fibras de que precisam para prosperar. Pesquisadores descobriram que comer alimentos fermentados, como iogurte, chucrute, kimchi e kefir, que contêm probióticos e outros compostos benéficos, tem efeitos positivos na saúde e no microbioma intestinal.

Os micróbios intestinais fazem parte de um vasto ecossistema de bactérias, vírus, archaea e fungos localizados principalmente no cólon. As pessoas que abrigam microbiomas intestinais diversos tendem a envelhecer com mais saúde e desenvolver menos doenças.

Esses micróbios prosperam com a fibra encontrada em frutas e vegetais, transformando-a em novos compostos ou “pós-bióticos”, como butirato, acetato e outros ácidos graxos de cadeia curta que parecem ser excepcionalmente bons para a saúde.

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Mas, como os residentes de qualquer comunidade, os micróbios do intestino podem trabalhar juntos ou competir uns contra os outros. Às vezes, a proporção de bactérias boas e ruins pode ficar desequilibrada – uma condição conhecida como disbiose.

Embora existam inúmeras marcas de suplementos probióticos, muitos deles contêm um número limitado de cepas bacterianas, principalmente dos grupos lactobacillus, bifidobacterium e alguns outros. Esses microrganismos são bastante comuns e têm sido associados a muitos benefícios à saúde.

Mas tomar doses concentradas de algumas cepas de bactérias pode perturbar o equilíbrio do intestino, disse Lorenzo Cohen, professor e diretor do Programa de Medicina Integrativa do MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas, em Houston.

“Você pode inadvertidamente criar uma forma de disbiose por ter muito de uma coisa boa”, disse ele. “Você está expulsando não só as coisas ruins, mas também as coisas boas que são importantes para criar uma alta diversidade de microbiomas.”

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Alguns médicos podem recomendar a adição de alimentos fermentados, como iogurte natural, à sua dieta em vez de tomar um suplemento. Foto: Felipe Rau/Estadão

Antibióticos

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É comum que as pessoas tomem probióticos juntamente com antibióticos. Os antibióticos tratam infecções bacterianas, mas também podem eliminar bactérias benéficas. A ideia por trás de tomar um suplemento probiótico com um antibiótico é reequilibrar o microbioma intestinal e minimizar os efeitos colaterais. Estudos demonstraram, por exemplo, que os probióticos podem prevenir a diarreia associada a antibióticos.

Mas um estudo de uso de probióticos com antibióticos produziu resultados surpreendentes. Pesquisadores do Weizmann Institute of Science recrutaram adultos saudáveis e administraram antibióticos por uma semana.

Em seguida, um grupo tomou um suplemento probiótico popular por quatro semanas que continha pelo menos 10 espécies de bactérias. Outro grupo recebeu transplantes de fezes contendo seus próprios micróbios intestinais, que foram coletados antes da administração dos antibióticos. Um terceiro grupo serviu como controle.

Os microbiomas das pessoas do grupo de controle voltaram ao normal cerca de três semanas após o uso dos antibióticos. Os microbiomas das pessoas que receberam os transplantes de fezes após o tratamento com antibióticos se saíram melhor, voltando ao normal em poucos dias.

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Mas os microbiomas das pessoas que tomaram os probióticos não voltaram ao normal nem mesmo depois de cinco meses. Os cientistas descobriram que eles também tinham menos diversidade do microbioma intestinal em comparação com as pessoas nos grupos de controle ou transplante.

Em outro ensaio clínico recente, cientistas de Stanford recrutaram adultos com síndrome metabólica – uma combinação de fatores de risco para diabetes tipo 2, como obesidade abdominal, pressão alta e triglicerídeos altos – e depois os dividiram em dois grupos. Um deles recebeu um probiótico contendo várias cepas de bactérias consideradas boas para a saúde metabólica e digestiva. O segundo grupo não tomou probióticos e serviu como controle.

Após 18 semanas, os cientistas descobriram que algumas pessoas que tomaram o suplemento probiótico apresentaram melhorias na pressão arterial e nos níveis de triglicerídeos. Mas outras no grupo probiótico mostraram uma piora nos níveis de açúcar no sangue e insulina.

Os pesquisadores dizem que as diferenças na dieta podem ter desempenhado um papel importante nos resultados, mas não está claro. As descobertas ressaltam que os suplementos probióticos podem ter efeitos muito diferentes em pessoas diferentes, disse Erica Sonnenburg, autora do estudo e pesquisadora sênior em microbiologia e imunologia em Stanford.

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“É um tema comum”, acrescentou ela. “Os probióticos podem ser benéficos para alguns indivíduos. Mas também parece que, para outros, podem piorar as coisas.”

Então o que você deve fazer?

Se você tomou antibióticos ou tem uma doença digestiva, converse com seu médico sobre se faz sentido tomar um suplemento probiótico – e, em caso afirmativo, qual marca ou produto. Você pode ser aconselhado a dispensar completamente os probióticos se tiver uma doença grave ou sistema imunológico comprometido devido ao risco de desenvolver uma infecção.

Alguns médicos podem recomendar a adição de alimentos fermentados à sua dieta em vez de tomar um suplemento. “Quando recomendo micróbios vivos, geralmente é no contexto de alimentos fermentados”, disse Chris Damman, gastroenterologista do Centro de Saúde Digestiva do Centro Médico da Universidade de Washington. “Os alimentos fermentados são os probióticos da natureza.”

Um dos benefícios dos alimentos fermentados é que eles normalmente contêm não apenas probióticos (os micróbios vivos), mas também prebióticos (a fibra que os micróbios comem) e pós-bióticos (as vitaminas e outros nutrientes que eles produzem). Em um estudo publicado na revista Cell, Sonnenburg e seus colegas de Stanford descobriram que sugerir às pessoas comer alimentos fermentados todos os dias durante um período de 10 semanas reduziu seus níveis de inflamação e aumentou a diversidade do microbioma intestinal.

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Se você não conhece muito bem os alimentos fermentados, Damman recomendou começar aos poucos.

Tente usar chucrute ou kimchi como guarnição em suas refeições. Coma uma tigela de iogurte natural no café da manhã. Beba uma xícara de kefir sem açúcar como lanche ou use-o para fazer um smoothie de frutas.

“Não tomo probióticos, mas como uma variedade de alimentos fermentados – e geralmente é esse o conselho que dou às pessoas”, disse Damman. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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