Tem colesterol alto e não trata? Muita gente está na mesma situação; veja os riscos

Pesquisa com quase 8 mil pessoas mostra situação preocupante também em relação ao tratamento de hipertensão e diabetes

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Por Fernanda Bassette

AGÊNCIA EINSTEIN Um amplo estudo realizado com quase 8 mil pacientes apontou que eles não controlam adequadamente alguns dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares: colesterol, hipertensão e diabetes. Além disso, a maioria dos pacientes está com obesidade ou excesso de peso e mais da metade não pratica nenhuma atividade física. Os resultados foram publicados recentemente no Global Heart, da World Heart Federation, um dos principais periódicos científicos na área da cardiologia.

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A pesquisa, chamada EPICO (Estudo Epidemiológico de Informações da Comunidade), foi coordenada pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Ao todo, participaram 332 unidades básicas de saúde de 32 cidades do estado. Todos os profissionais de saúde envolvidos (médicos, enfermeiros, agentes de saúde, entre outros) foram treinados para a coleta padronizada e adequada dos exames. Os pacientes foram avaliados pessoalmente.

Participaram 7 724 pacientes entre 18 e 94 anos, sendo que mais da metade (53,7%) tinha 60 anos ou mais e 66,7% (5 153) eram mulheres. Dentro da amostragem, 96,2% dos pacientes tinham hipertensão, 78,8% diabetes tipo 2 e 71,1% dislipidemia/colesterol elevado. Ao todo, 60% da amostra tinha dois ou três fatores de risco associados.

Descontrole dos fatores de risco

O colesterol foi o fator de risco menos controlado. Segundo a pesquisa, mesmo com o uso de medicação para controle da doença, somente 13% dos pacientes estavam com os níveis dentro dos parâmetros considerados normais (LDL abaixo de 100 mg/dl), e ao considerar aqueles em uso de drogas hipolipemiantes, apenas 5,2% apresentavam valores no nível considerado ideal.

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O colesterol alto é um dos principais causadores da aterosclerose, que consiste no acúmulo de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos, aumentando o risco de infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC).

O controle da pressão arterial também está muito aquém do esperado. O estudo revela que somente 34,9% dos pacientes hipertensos que utilizam medicação anti-hipertensiva estavam com os níveis pressóricos dentro da meta (13 por 8 mmHg).

Além disso, a pesquisa constatou que, entre os idosos com mais de 60 anos, o controle da pressão era ainda pior, com apenas 1 em cada 4 idosos medicados mantendo a hipertensão sob controle. Para piorar, cerca de metade dos pacientes avaliados não apresentava a pressão ideal, independentemente do sexo ou idade.

Os pacientes diabéticos não estão cuidando adequadamente da saúde, de acordo com a pesquisa. Apenas 64% deles apresentavam valores glicêmicos abaixo de 115 mg/dl. Ter diabetes é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, além de aumentar o risco de problemas em outros órgãos, como rins e olhos, podendo levar à perda da visão.

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O colesterol foi o fator de risco menos controlado pelos participantes da pesquisa. Taxas são avaliadas por meio de exame de sangue. Foto: REUTERS/Jessica Rinaldi

Mais dados preocupantes

O estudo também revela que mais da metade dos pacientes avaliados (54,3%) não praticava nenhuma atividade física regular; 76,6% estavam com sobrepeso ou obesidade (menos de 25% apresentavam peso adequado); 20% eram fumantes; 50% não tinham completado o ensino fundamental; e 40% recebiam menos de um salário mínimo.

“O estudo mostra a realidade da atenção primária no sistema público brasileiro. A maioria dos pacientes são mulheres, que não fazem exercícios, não se alimentam corretamente, possuem baixa escolaridade e baixo nível econômico e social. Mesmo com conhecimento dos seus fatores de risco para as doenças cardiovasculares, a maioria não os controla adequadamente. É um cenário preocupante”, diz Henrique Fonseca, doutor em cardiologia, Head de Estudos Clínicos em Vacinas e Imunoterapias na Academic Research Organization do Hospital Israelita Albert Einstein e um dos investigadores principais do EPICO.

As doenças do coração ainda são a principal causa de morte de homens e mulheres no Brasil e no mundo. Estima-se que, pelo menos, 380 mil brasileiros morrem todos os anos devido a doenças cardiovasculares. “Nós esperávamos encontrar um cenário de controle ruim, mas encontramos um cenário péssimo. Precisamos entender por que as pessoas não controlam os fatores de risco das doenças que mais matam no mundo”, diz Fonseca.

Acesso a medicamentos não é o problema

Diante desses resultados, explica Fonseca, surgem perguntas sobre quais seriam os motivos para que os pacientes não controlem os fatores de risco. “A falta de acesso à medicação, por exemplo, vimos que não é. Todos os medicamentos são fornecidos pelo SUS [Sistema Único de Saúde], e os pacientes têm acesso a eles, bem como através de programas como o Farmácia Popular”, diz o professor.

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Ainda assim, persistem as questões: será que os pacientes não estão aderindo adequadamente aos tratamentos propostos? Será que as prescrições dos medicamentos estão corretas? Será que eles estão recebendo informações adequadas dos profissionais de saúde sobre os riscos desse descontrole dos fatores de risco? Será que faltam políticas públicas de conscientização?

“Encontramos vários gargalos e possibilidades para melhorias futuras. Esse é um projeto de diagnóstico do cenário para implementação de ações. Os pacientes detêm algum conhecimento de que possuem fatores de risco para doenças cardiovasculares, estão sendo medicados para isso, têm acesso às medicações, mas mesmo assim estão muito aquém do controle desses fatores de risco. Onde estão os problemas?”, questiona Fonseca.

“Novos estudos precisam ser feitos para descobrirmos o que impede um monitoramento mais rigoroso do diabetes, hipertensão e dislipidemias [colesterol alto]”, completa.

O impacto desse descontrole, avalia o médico, é o aumento do risco de mortalidade por doenças cardiovasculares, além do aumento dos custos para o sistema de saúde. Isso ocorre porque os pacientes não são adequadamente tratados na atenção primária e podem sofrer um evento cardiovascular no futuro, como um infarto, um AVC ou uma insuficiência cardíaca, necessitando de hospitalização e cuidados especiais contínuos.

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Fonte: Agência Einstein

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