Na semana passada, a cantora Preta Gil revelou que ia se distanciar das redes sociais para focar em seu tratamento - ela descobriu um câncer no intestino no começo do ano, e vem se tratando desde então. “Eu decidi que preciso me ausentar das redes sociais e mergulhar mais fundo na minha cura emocional e espiritual, pois sinto que essa dor está atrapalhando meu processo de cura do câncer”, escreveu ela em seu perfil do Instagram.
Me identifico com Preta, com algumas diferenças. No meu caso, as redes sociais e este blog foram ferramentas importantes durante meu tratamento contra o câncer de mama, que descobri em 2021. Passei aquele ano todo em tratamento, e quando fiz a última sessão de radioterapia, a cabeça bugou.
Um ano depois, entrevistei o Dr. Abraão Dornellas, oncologista do Hospital Albert Einstein, que disse ser muito comum isso acontecer não durante, mas depois do tratamento. “Quando a paciente começa a quimio, parece que se prepara para uma guerra. Quando termina, ela se sente meio sem significado. É esse momento que muitas mulheres percebem de fato o que está acontecendo e cai a ficha”, explicou ele, na época.
Quando tudo acaba, há uma nova quebra de rotina: você ainda não está bem, mas não está em tratamento. Inconscientemente, esperamos que vamos voltar a ser a pessoa de antes do diagnóstico, mas ela não existe mais. E agora, quem sou eu?
Essa foi uma das razões pelas quais me afastei deste espaço. Ao mesmo tempo, entrevistar e pesquisar sobre câncer para escrever sobre o tema me trazia memórias com as quais eu ainda não queria lidar. Meu objetivo era olhar para frente, e não para trás.
Dois anos depois do diagnóstico e sem sinal de câncer, volto a este blog para trazer novos depoimentos e retomar as discussões com a mesma premissa inicial: tratar do tema de uma forma leve, mas direta. E, assim, dissipar os estigmas em relação à doença, que sempre vale lembrar: não é sinônimo de morte.
Que temas você gostaria de ver por aqui? Vamos continuar essa conversa no Instagram (ou no Threads: @moreiradri.
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