Todo dia, 28 pessoas têm membros inferiores amputados por causa do diabetes no Brasil

No Dia Mundial do Diabetes, profissionais querem conscientizar a população sobre a doença, que muitas vezes só é descoberta quando já provocou alguma complicação; veja como se proteger

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Foto do author Ana Lourenço

De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, a doença acomete mais de 13 milhões de pessoas no Brasil. No entanto, sete em cada 10 pessoas que vivem com diabetes no País só descobriram a condição depois de desenvolverem complicações. É o que mostra uma pesquisa feita pela Federação Internacional de Diabetes (IDF).

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A principal característica do diabetes, que pode ser detectado a partir de um exame de sangue, é o excesso de açúcar circulando pelo sangue. E isso pode acontecer tanto pela falta de insulina como pela incapacidade de esse hormônio executar sua tarefa direito, que é justamente colocar a glicose dentro das células para gerar energia. Se esse açúcar não é aproveitado, podem ocorrer repercussões variadas, como danos aos olhos, fígados, pâncreas e rins, além de aumento no risco de doenças cardiovasculares e até amputações dos membros inferiores.

Inclusive, dados do Ministério da Saúde mostram que, de janeiro a agosto deste ano, o SUS registrou 6.982 amputações de membros inferiores causadas por diabetes, o correspondente a 28 casos por dia.

Fazer um autoexame dos pés é essencial para quem tem diabetes Foto: sorapop/Adobe Stock

Por ser uma doença silenciosa, é preciso cuidado constante. É importante ficar atento a sinais como sede intensa, muita vontade de urinar, perda de peso, fraqueza, fadiga, visão borrada, mal-estar geral, além de náuseas e vômitos. O risco de complicações pode ser reduzido significativamente por meio do diagnóstico precoce, do tratamento oportuno e do autocuidado informado.

“Os médicos precisam compreender a importância de repassar informações sobre a doença, alertar para a necessidade de mais monitorização das metas de controle, rastrear complicações e intervir terapeuticamente”, descreve Hermelinda Pedrosa, coordenadora de pesquisa da Unidade de Diabetes da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e vice-presidente da IDF.

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Por que os pés merecem atenção redobrada

Os casos de amputações têm a ver com um quadro conhecido como pé diabético, e que se refere à uma série de alterações que podem ocorrer com pessoas diagnosticadas com a doença – entre as principais estão a falta de circulação nos membros inferiores e a neuropatia periférica.

A primeira situação acontece devido ao comprometimento da circulação e microcirculação do sangue, o que estreita os pequenos e grandes vasos sanguíneos que nutrem os nervos – assim, pode não chegar sangue suficiente até os pés. Já a neuropatia é marcada pela perda da função dos nervos dos pés, algo que prejudica a sensibilidade protetora.

O primeiro sintoma da neuropatia costuma ser uma dor intensa nos pés, especialmente no período da noite. “Até o lençol tocando já machuca”, conta a ortopedista Jordanna Maria Pereira Bergamasco, diretora da ABTPé (Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé). Se o quadro for descoberto no começo, usar sapatos especiais e ter uma rotina de cuidados dedicada à região pode ajudar. Agora, se ele avança, acaba afetando o sistema nervoso.

Isso aumenta o risco de o paciente machucar os pés e nem perceber. Para ter ideia, ele pode não sentir nenhuma dor ao se queimar andando descalço no chão muito quente, furar o pé com uma pedra no sapato ou cortar a pele ao aparar as unhas. Daí, por causa dos problemas de circulação, vem a dificuldade de cicatrização. Só que esses machucados deixam o espaço aberto para que bactérias se propaguem e gerem uma infecção no local.

“Quando uma pessoa perde a proteção natural do seu pé, perde a sensibilidade protetora dele, precisa evitar qualquer tipo de ferida. Para isso, deve usar calçados específicos e meias de algodão preferencialmente de cores claras, para ficar atento a manchas de sangue e feridas. Além disso, é preciso sempre estar fazendo o autoexame”, explica Jordanna.

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De acordo com ela, o autoexame pode ser realizado com a ajuda de um espelho ou de um parente ou amigo. É essencial examinar a sola dos pés e verificar se há frieiras entre os dedos, que podem ser a porta de entrada para bactérias. Outra recomendação da especialista é evitar usar esmaltes escuros, já que isso pode dificultar a identificação de feridas embaixo das unhas. Qualquer tipo de ferimento nessa parte do corpo (incluindo bolhas) deve ser acompanhado de perto.

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Em casos de infecções avançadas, que atingem os ossos, ou de lesões que quebrem a barreira de proteção de um tecido, o que é chamado de úlcera, a única saída muitas vezes é a amputação. “Normalmente, nota-se abcesso, secreção purulenta, mau cheiro, área inchada e avermelhada, às vezes com áreas de necrose de tecidos. Chegar a esse ponto é muito preocupante, pois pode ser necessária a amputação para resolução do problema”, salienta o médico traumato-ortopedista Luiz Carlos Ribeiro Lara, presidente da ABTPé.

Como cuidar dos pés e prevenir amputações

  • A hidratação é essencial para evitar calos e rachaduras;
  • O paciente deve tirar um tempo para examinar o pé à procura de qualquer ferida, bolha ou corte;
  • É importante que o paciente peça ajuda caso identifique algo fora do normal e nunca tente retirar calos, estourar bolhas ou limpar úlceras;
  • Por causa da falta de sensibilidade na região, o paciente não deve cortar as unhas sozinho;
  • É essencial também evitar sapatos e meias apertadas para não comprometer a circulação;
  • Não é indicado andar descalço, especialmente fora de casa;
  • Mantenha o diabetes sob controle, com alimentação saudável, controle dos medicamentos e prática de atividade física.
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