Tripofobia: quando buracos pequenos causam repulsa e desconforto

Ver esse tipo de formato apavora algumas pessoas; entenda por que isso acontece

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Por Dra. Trisha Pasricha

THE WASHINGTON POST – Algumas pessoas têm reações negativas a pequenos buracos agrupados. O fenômeno é conhecido como tripofobia. Entre os gatilhos visuais estão vagens de sementes de lótus, bolhas que surgem na panqueca e até mesmo iPhones com várias lentes de câmera juntas.

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Cerca de 10% a 15% das pessoas se sentem desconfortáveis ao ver essas imagens, disse Nate Pipitone, professor associado de psicologia na Florida Gulf Coast University, que estuda a tripofobia há anos.

As imagens podem causar sentimentos de repulsa e nojo, além de coceira e náusea. Acontece com adultos e crianças, até mesmo aos 4 ou 5 anos de idade.

Pesquisadores estudaram duas teorias evolutivas sobre os motivos dessa aversão. Algumas criaturas venenosas têm padrões tripofóbicos – como os oito olhos da tarântula – e diversas doenças de pele, como a varíola, criam aglomerados de lesões circulares.

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Embora pequenos círculos possam ser perturbadores para algumas pessoas em qualquer contexto, Pipitone descobriu que as reações são particularmente fortes quando sobrepostas a imagens de animais perigosos – e ainda mais a imagens de pele humana.

“Isso sugere que o extremo desconforto observado entre as pessoas que ficam incomodadas com imagens tripofóbicas pode ser uma resposta adaptativa para evitar doenças infecciosas”, disse ele.

O que causa a tripofobia?

Pipitone acredita que a tripofobia está relacionada à forma como certas pessoas processam informações visuais básicas. Estudos mostram que as imagens de buracos que mais incomodam as pessoas tendem a ter um traço visual específico: alto contraste.

Pense em buracos escuros contra um fundo claro. Buracos que parecem mais desbotados não costumam causar tanto desconforto.

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O padrão circular também é um componente fundamental, acrescentou Pipitone. Imagens de folhas de palmeira, por exemplo, têm áreas claras e escuras de tamanhos semelhantes, mas não enervam as pessoas.

Quem tem tripofobia apresenta aversão a buracos agrupados, como um agrupamento de cereais. Foto: Freepik

Muitas criaturas venenosas, como o polvo de anéis azuis, têm o traço visual específico, levando alguns pesquisadores a argumentar que a reação decorre de um reflexo subconsciente, e não de uma resposta de medo aprendida.

Por causa disso, Pipitone não acha que a tripofobia seria suscetível a intervenções psicológicas, como a terapia cognitivo-comportamental.

A solução mais fácil é simplesmente evitar essas imagens sempre que possível. Pipitone me contou que alguns alunos de seu laboratório optaram por não participar de projetos de tripofobia por causa de suas próprias reações.

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Então a tripofobia existe de verdade?

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Outra teoria sobre a tripofobia é um pouco menos darwiniana e tem a ver com o poder da sugestão: se você procurar uma imagem supostamente tripofóbica depois de ouvir que ela causará coceira, é bem provável que sinta coceira simplesmente porque se preparou para isso.

Se você visse a imagem em outro contexto, talvez não se incomodasse. Além disso, não é exatamente correto chamar esse fenômeno de fobia. A tripofobia, que apareceu pela primeira vez na literatura médica há dez anos, é mais frequentemente associada à repulsa, e não ao medo.

Ela não se encaixa perfeitamente em nenhum diagnóstico psiquiátrico. Para ser diagnosticado como fobia pelos padrões do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – um guia usado por médicos para diagnosticar transtornos de saúde mental – o medo ou a ansiedade em torno de determinado gatilho devem ser fortes o suficiente para causar sofrimento significativo ou comprometimento funcional.

“A maioria das pessoas, mesmo que ache as imagens tripofóbicas repulsivas, ainda consegue seguir com sua rotina diária”, disse Pipitone. No entanto, o fenômeno tem implicações para todos nós.

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Pesquisadores estão trabalhando para decifrar configurações específicas de agrupamentos, texturas ou cores para ajudar a informar positivamente o design de itens como roupas ou mesmo edifícios. Alguns cineastas, por outro lado, parecem interessados em explorar o efeito que os padrões tripofóbicos têm nas pessoas.

Chadwick Boseman e Michael B. Jordan em 'Pantera Negra'. Vilão tem pequenos queloides pelo corpo Foto: Matt Kennedy/Marvel

Veja, por exemplo, o vilão da série de terror Sexta-feira 13, Jason Voorhees. Ele usa uma máscara de hóquei com pequenos buracos, o que é estranhamente perturbador. E o antagonista de Pantera Negra (2018), Killmonger, tinha pequenas cicatrizes queloides nas costas que algumas pessoas relataram ter desencadeado tripofobia.

O que quero que os pacientes saibam

A tripofobia é um ótimo exemplo de como todos nós percebemos e processamos o mundo de maneiras diferentes. A mesma informação visual causa angústia em algumas pessoas, mas não em outras.

Agora pense nos muitos problemas médicos que talvez não sejam aparentes – como enxaquecas ou covid longa – e cujos gatilhos no ambiente diário geralmente não incomodam os outros. Para muitas pessoas, é frustrante lutar incessantemente para que os outros acreditem nelas e ouçam o que elas têm a dizer.

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A Dra. Trisha Pasricha é médica no Massachusetts General Hospital, instrutora de medicina na Harvard Medical School e jornalista médica. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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