A Agência Nacional de Vigilância em Saúde (Anvisa) divulgou na última quarta-feira, 11, os resultados do seu mais recente Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Das 3.294 amostras de alimentos de origem vegetal avaliadas, 26,1% apresentaram irregularidades, incluindo resíduos de agrotóxicos acima do limite seguro e uso de pesticidas proibidos no País ou não autorizados para determinados cultivos.
“É um percentual consideravelmente elevado, uma vez que representa mais de 850 amostras em condições inadequadas”, estima a nutricionista Giselly Costa, mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisadora da área de insegurança alimentar e uso de agrotóxicos.
Além disso, 0,68% dos alimentos apresentaram risco de causar problemas de saúde logo após o seu consumo. Significa que, em 22 amostras, foram identificadas substâncias com potencial de causar danos agudos, que podem aparecer depois de uma refeição ou dentro de um dia após a ingestão. O abacaxi e a laranja lideraram esse índice, com sete e seis amostras com toxicidade, respectivamente.
Danos de curto prazo podem incluir espasmos musculares, náuseas, vômitos, convulsões e desmaios, segundo Giselly. Por isso, para a pesquisadora, embora o percentual encontrado possa ser considerado baixo, o ideal é que ninguém tenha acesso a alimentos que carregam substâncias tóxicas ou que, ao menos, elas atendam aos limites recomendados pela Anvisa.
Também foi avaliado o risco crônico, que considera os impactos à saúde decorrentes do consumo diário e contínuo ao longo da vida. Mas, nas avaliações realizadas em 2023, não foi identificada nenhuma situação com potencial desse tipo. Para fazer essa previsão, a Anvisa cruzou os dados de resíduos encontrados com informações sobre os hábitos alimentares da população, incluindo alimentos processados derivados de cada cultura.
Nesta edição do PARA, foram analisados 14 alimentos, que representam 31% do consumo de vegetais pela população brasileira: abacaxi, alface, alho, arroz, batata-doce, beterraba, cenoura, chuchu, goiaba, laranja, manga, pimentão, tomate e uva.
Avaliação geral
A análise das 3.294 amostras revelou diferentes tipos de irregularidades relacionadas ao uso de agrotóxicos. Entre elas, 226 alimentos (6,9%) apresentaram resíduos em concentrações superiores ao limite máximo de resíduos (LMR) estabelecido pela Anvisa.
Além disso, foi detectado o uso de pesticidas que são proibidos no Brasil: o carbofurano, encontrado em 18 amostras, e o procloraz, presente em duas. Para ter ideia, em 2022, o carbofurano foi proibido pela Anvisa por sua ligação com aborto espontâneo e anormalidades congênitas. Já o procloraz foi descontinuado em 2016 por provocar distúrbios hormonais e danos ao aparelho reprodutor.
Mas a irregularidade principal foi o uso de pesticidas não permitidos para certos cultivos, o que foi notado em 718 amostras. Um exemplo foi o abacaxi: das 57 amostras analisadas, 36 continham resíduos acima do limite permitido e 18 apresentaram pesticidas que não poderiam ser usados nessa fruta, embora sejam permitidos para outras culturas.
Apesar das taxas desanimadoras, os dados também mostram que 37% das amostras analisadas não continham qualquer resíduo de agrotóxico, e 36,9% apresentaram resíduos dentro dos limites permitidos.
Por fim, para a Anvisa, a exposição aos resíduos em níveis que possam causar danos à saúde foi considerada baixa. “As situações de potencial risco agudo são pontuais e têm origem conhecida, e a Anvisa segue adotando medidas para mitigar esses riscos”, concluiu o órgão.
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De acordo com Giselly, essa tarefa não é simples, já que se trata de um problema estrutural, e não individual. “Infelizmente, o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo, devido a um sistema agrícola fortemente submetido à utilização dessas substâncias”, explica.
Ainda assim, isso não significa que devemos evitar os alimentos de origem vegetal, que são fundamentais para uma alimentação saudável. Como visto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabelece um limite máximo de resíduos (LMR) visando a segurança alimentar.
Mas, nesse sentido, uma alternativa para reduzir a exposição a agrotóxicos é optar por alimentos orgânicos. “Esses alimentos são produzidos com técnicas que respeitam o meio ambiente e não utilizam agrotóxicos no processo produtivo”, destaca a nutricionista.
Confira outras recomendações para minimizar os riscos relacionados à ingestão de pesticidas, de acordo com a Anvisa:
- Lavar bem os alimentos: Lavar frutas, verduras e legumes em água corrente pode ajudar a reduzir a presença de resíduos de agrotóxicos. Segundo o Ministério da Saúde, depois disso é recomendável colocar o alimento de molho em água clorada. As instruções de preparo são: use água sanitária (sem alvejante e perfume) com 1% de hipoclorito de sódio ou hipoclorito de sódio a 1%. Dilua duas colheres (sopa) para cada litro de água.
- Escolher alimentos rotulados com a identificação do produtor: Esta ação pode contribuir para o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos seus produtos e à adoção das boas práticas agrícolas no campo. Dessa forma, eles colaboram e estimulam as iniciativas dos programas estaduais e das redes varejistas de garantir a rastreabilidade e o controle da qualidade dos alimentos.
- Optar pelo consumo de alimentos da época: Em geral, eles recebem carga menor de produtos químicos, o que reduz a exposição a agrotóxicos. O mesmo vale para aqueles alimentos produzidos com técnicas de manejo integrado de pragas.
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