Uso de redes sociais está ligado a mudanças cerebrais em crianças e adolescentes; entenda o estudo

Adolescentes que crescem verificando as redes sociais com mais frequência estão se tornando hipersensíveis ao feedback de seus colegas, mas consequências não são claras, explica pesquisadora

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Por Ellen Barry
Atualização:

O efeito do uso das redes sociais nas crianças é uma área de pesquisa repleta de desafios, pois pais, mães e legisladores vêm tentando observar os resultados de um vasto experimento já em pleno andamento. Estudos sucessivos acrescentam peças ao quebra-cabeça, detalhando as implicações de um fluxo quase constante de interações virtuais que começam na infância.

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Um novo estudo realizado por neurocientistas da Universidade da Carolina do Norte tenta algo novo, realizando sucessivas varreduras cerebrais em crianças e adolescentes do ensino médio entre 12 e 15 anos, um período de desenvolvimento cerebral especialmente rápido.

Os pesquisadores descobriram que adolescentes que, por volta dos 12 anos, já verificavam habitualmente seus feeds de redes sociais apresentaram uma trajetória particular, com sua sensibilidade às recompensas sociais dos colegas aumentando com o tempo. Os adolescentes com menos engajamento nas redes sociais seguiram o caminho oposto, com uma queda no interesse por recompensas sociais.

O estudo, publicado na JAMA Pediatrics, está entre as primeiras tentativas de capturar mudanças na função cerebral correlacionadas ao uso das redes sociais ao longo de anos.

Como a adolescência é um período de expansão das relações sociais, as diferenças cerebrais podem refletir uma mudança natural em relação aos colegas, o que pode levar ao uso mais frequente das redes sociais. Foto: Jake Michaels/The New York Times

O estudo tem limitações importantes, reconhecem os autores. Como a adolescência é um período de expansão das relações sociais, as diferenças cerebrais podem refletir uma mudança natural em relação aos colegas, o que pode levar ao uso mais frequente das redes sociais.

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“Não podemos fazer alegações causais de que as redes sociais estão mudando o cérebro”, disse Eva H. Telzer, professora associada de psicologia e neurociência da Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, e uma das autoras do estudo.

Mas, acrescentou ela, “os adolescentes que verificam habitualmente suas redes sociais estão mostrando essas mudanças bastante dramáticas na maneira como seus cérebros reagem, o que pode ter consequências de longo prazo na idade adulta, preparando o terreno para o desenvolvimento do cérebro ao longo do tempo”.

Uma equipe de pesquisadores estudou um grupo etnicamente diverso de 169 alunos da sexta e sétima séries de uma escola no interior da Carolina do Norte, dividindo-os em grupos de acordo com a frequência com que relataram checar os feeds de Facebook, Instagram e Snapchat.

Por volta dos 12 anos, os alunos já apresentavam padrões distintos de comportamento. Usuários habituais relataram verificar seus feeds 15 ou mais vezes por dia; usuários moderados verificavam entre uma e 14 vezes; usuários não habituais checavam menos de uma vez por dia.

Os sujeitos receberam varreduras cerebrais completas três vezes, em intervalos de aproximadamente um ano, enquanto jogavam um jogo de computador que oferecia recompensas e punições na forma de colegas sorridentes ou de cara fechada.

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Ao realizar a tarefa, os usuários frequentes mostraram ativação crescente de três áreas do cérebro: circuitos de processamento de recompensas, que também respondem a experiências como ganhar dinheiro ou comportamentos de risco; regiões cerebrais que determinam a saliência, captando o que se destaca no ambiente; e o córtex pré-frontal, que ajuda na regulação e controle.

É bom ou ruim?

Os resultados mostraram que “os adolescentes que crescem verificando as redes sociais com mais frequência estão se tornando hipersensíveis ao feedback de seus colegas”, disse Eva Telzer.

As descobertas não capturam a magnitude das mudanças cerebrais, apenas sua trajetória. E não está claro, disseram os autores, se as mudanças são benéficas ou prejudiciais. A sensibilidade social pode ser adaptativa, mostrando que os adolescentes estão aprendendo a se conectar com os outros, ou pode levar à ansiedade social e à depressão se as necessidades sociais não forem atendidas.

Pesquisadores no campo das redes sociais alertaram contra tirar conclusões radicais com base nas descobertas.

“Os estudos estão mostrando que a maneira como você usa as redes em determinado momento da vida influencia o modo como seu cérebro se desenvolve, mas não sabemos quanto, nem se é bom ou ruim”, disse Jeff Hancock, diretor fundador do Stanford Social Media Lab, que não esteve envolvido no estudo. Ele disse que muitas outras variáveis podem ter contribuído para essas mudanças.

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“E se essas pessoas entrassem em um time – um time de hóquei ou de vôlei, por exemplo – e começassem a ter muito mais interação social?”, disse ele. Pode ser, acrescentou, que os pesquisadores estejam “identificando o desenvolvimento da extroversão, e os extrovertidos são mais propensos a verificar suas redes sociais”.

Ele descreveu o artigo como “um trabalho muito sofisticado”, que contribui para pesquisas recentes que mostram que a sensibilidade às redes sociais varia de pessoa para pessoa.

“Algumas pessoas têm um estado neurológico que significa que são mais propensas a serem atraídas para entrar nas redes com frequência”, disse ele. “Não somos todos iguais e precisamos parar de pensar que as redes sociais são iguais para todos.”

Na última década, as redes sociais transformaram as experiências centrais da adolescência, um período de rápido desenvolvimento do cérebro.

Quase todos os adolescentes americanos se comunicam por meio das redes sociais, com 97% acessando a internet todos os dias e 46% relatando que estão online “quase constantemente”, de acordo com o Pew Research Center. Adolescentes negros e latinos passam mais horas nas redes sociais do que os brancos, mostraram pesquisas.

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Quase todos os adolescentes americanos se comunicam por meio das redes sociais, com 97% acessando a internet todos os dias e 46% relatando que estão online “quase constantemente”, de acordo com o Pew Research Center. Foto: Christian Wiediger/Unsplash

Saúde mental

Os pesquisadores documentaram uma série de efeitos na saúde mental das crianças. Alguns estudos relacionaram o uso de redes sociais com depressão e ansiedade, enquanto outros encontraram pouca conexão. Um estudo de 2018 com adolescentes lésbicas, gays e bissexuais descobriu que as redes sociais forneciam validação e apoio, mas também os expunham ao discurso de ódio.

Especialistas que analisaram o estudo disseram que, como os pesquisadores mediram o uso de rede social dos alunos apenas uma vez, por volta dos 12 anos, era impossível saber como isso mudou ao longo do tempo ou descartar outros fatores que também podem afetar o desenvolvimento do cérebro.

Sem mais informações sobre outros aspectos da vida dos alunos, “é um desafio discernir como as diferenças específicas no desenvolvimento do cérebro se relacionam com o uso das redes sociais”, disse Adriana Galvan, especialista em desenvolvimento do cérebro adolescente na UCLA, que não esteve envolvida no estudo.

Jennifer Pfeifer, professora de psicologia na Universidade de Oregon e codiretora do Conselho Científico Nacional de Adolescência, disse: “Toda experiência se acumula e se reflete no cérebro”.

“Acho que temos de colocar as coisas nesse contexto”, disse ela. “Muitas outras experiências que os adolescentes têm também vão mudar o cérebro. Portanto, não vamos entrar em pânico moral com a ideia de que o uso das redes sociais está mudando o cérebro dos adolescentes.”

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Eva Telzer, uma das autoras do estudo, descreveu a crescente sensibilidade ao feedback social como “nem bom nem ruim”.

“As redes estão ajudando os adolescentes a se conectar com outras pessoas e obter recompensas das coisas que são comuns em seu mundo social, que é se envolver em interações sociais online”, disse ela.

“Este é o novo normal”, acrescentou. “Entender como esse novo mundo digital está influenciando os adolescentes é importante. Pode ter a ver com alterações no cérebro, para o bem ou para o mal. Ainda não sabemos necessariamente as implicações a longo prazo.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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