Vacina contra a bronquiolite para idosos: veja como funciona e quando estará disponível no Brasil

Anvisa deu parecer favorável ao registro da primeira vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), principal causador da bronquiolite

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Foto do author Renata Okumura

Na segunda-feira, 4, a Anvisa deu parecer favorável ao registro da Arexvy, vacina da empresa GlaxoSmith Kline contra a bronquiolite. Trata-se do primeiro imunizante que protege pessoas idosas do vírus sincicial respiratório (VSR), o principal causador da doença. A previsão é que ele chegue ao mercado brasileiro por volta de junho de 2024 – primeiramente na rede privada.

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A aprovação do registro da vacina é classificada como um marco importante por especialistas. O registro do imunizante foi enquadrado como prioritário, já que atua contra uma condição considerada debilitante. A vacina será aplicada de forma intramuscular e em dose única nas pessoas com mais de 60 anos de idade.

A bronquiolite é uma inflamação aguda dos bronquíolos pulmonares terminais, ou seja, das ramificações mais finas que servem para conduzir o ar para dentro dos pulmões. O VSR é o principal responsável pelos casos de bronquiolite e de pneumonia em crianças pequenas e idosos.

Segundo Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o VSR sempre esteve muito associado aos quadros de bronquiolite na infância, mas observa-se também um grande impacto na população idosa. “É mais frequente entre as crianças, mas tende a ter letalidade maior entre idosos”, reforça Flávia.

Na segunda-feira, 4, a Anvisa deu parecer favorável ao registro da vacina contra bronquiolite para idosos, prevista para chegar ao mercado brasileiro em 2024. Na foto, campanha de vacinação contra a covid-19. Foto: Tiago Queiroz - Foto: 27/02/23

Como funciona a vacina contra a bronquiolite aprovada pela Anvisa?

A Arexvy é baseada na tecnologia de proteína recombinante. Significa que uma substância semelhante à encontrada na superfície do vírus é fabricada em laboratório e usada para incitar a produção de anticorpos.

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“O desenho vacinal visa promover resposta imune humoral, por meio da produção de anticorpos neutralizantes, bem como resposta imune celular”, resume Melissa Palmieri, consultora de vacinas da Alliança Saúde, grupo de referência em diagnóstico de saúde no País.

Segundo ela, a aprovação pela Anvisa é a primeira fase para que a vacina possa ser comercializada no Brasil. “O próximo passo será solicitar o registro de preços junto à Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e, uma vez aprovado o preço, a empresa fabricante poderá começar a distribuição do produto no Brasil. Ainda não há estimativa do valor de aplicação na rede privada.

“Neste momento, não temos uma expectativa de curto prazo de disponibilidade para os brasileiros mesmo na rede privada, pois ainda é preciso passar por essa fase. Esperamos que no ano que vem já esteja disponível”, acrescenta Flávia.

Para Cláudia França Cavalcante Valente, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), a vacina deve estar disponível em junho de 2024.

“Primeiramente, ela chegará na rede privada. Na rede pública, há sempre um longo processo de discussão para novas incorporações”, observa Melissa. Nesse caso, o fornecimento depende da incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS). “Para isso, qualquer vacina precisa passar por avaliação rigorosa. Além do fator preço, o impacto da doença também é levado em consideração”, comenta Flávia. Ou seja, são realizadas análises que envolvem questões de saúde e econômicas para concluir se uma vacinação de rotina para toda uma população faz sentido.

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Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou sobre os passos seguintes após a aprovação do registro. O espaço permanece aberto para posicionamento.

Qual a importância da vacina?

O vírus sincicial respiratório (VSR), assim como o coronavírus e o vírus influenza, podem causar síndromes respiratórias graves que aumentam o risco de internação hospitalar e até necessidade receber atendimento na UTI.

“E a população acima de 60 anos tem maior risco de complicações. As infecções pelo VSR aumentam também o risco de infecções bacterianas pneumocócicas”, acrescenta Cláudia.

Qual o impacto do VSR na saúde dos idosos?

O VSR é o terceiro vírus mais prevalente em infecções respiratórias em idosos, e o responsável por quadros de exacerbações de patologias respiratórias crônicas, com taxas de morbidade e mortalidade que podem ser maiores que as causadas pelo influenza nesta população.

“Uma meta-análise recente estimou que 5,2 milhões de casos de VSR ocorreram em países de alta renda entre adultos com idade acima de 60 anos em 2019, levando a 470 mil hospitalizações e 33 mil mortes hospitalares”, conta a consultora de vacinas da Alliança Saúde.

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“No Brasil, em 2023, a letalidade associada à síndrome respiratória aguda grave por VSR em pacientes com 60 anos ou mais é de aproximadamente 19%, segundo o Informe da Vigilância de Síndromes Gripais de 21 de novembro de 2023″, diz Melissa.

Ainda de acordo com ela, a infecção natural pelo VSR resulta em imunidade incompleta, permitindo infecção sintomática recorrente ao longo da vida de um indivíduo.

O VSR infecta adultos, principalmente os que apresentam comorbidades subjacentes. O declínio progressivo da função imunológica relacionado à idade – conhecida como imunossenescência – também aumenta o risco de desfechos mais graves após infecção por VSR.

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