As vacinas contra covid para crianças de 6 meses a 2 anos de idade devem começar a ser distribuídas aos Estados só na próxima semana, informou nesta quinta-feira, 3, o Ministério da Saúde. O imunizante da Pfizer, o único aprovado para essa faixa etária no País, recebeu aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) há mais de um mês e meio. A falta de imunizantes específicos para esse público-alvo, porém, travou o início da campanha de vacinação.
O Ministério da Saúde recebeu a primeira remessa, de um milhão de doses, somente na última semana. A pasta, diante disso, publicou nota técnica há alguns dias em que libera a aplicação e lista os cuidados a serem tomados na campanha – uma das diferenças é que o imunizante será administrado em três doses. Em um primeiro momento, a recomendação é que a vacina seja destinada apenas para crianças com comorbidade, o que gerou críticas de especialistas em saúde.
Conforme a nota técnica do ministério, tendo em vista a aprovação pela Anvisa da vacina coivid-19 da Pfizer para o público infantil de 6 meses a 4 anos de idade “e considerando a necessidade de organizar e distribuir os recursos disponíveis para os imunizantes”, fica orientado o início da vacinação contra a covid para as crianças a partir de 6 meses de idade nos seguintes moldes:
- A vacina da Pfizer é recomendada para crianças de 6 meses a 2 anos, 11 meses e 29 dias;
- A Coronavac é recomendada para crianças com 3 ou 4 anos de idade;
- Já crianças acima de 5 anos de idade podem receber ambos os imunizantes aprovados para a faixa etária, Coronavac ou Pfizer.
No caso da faixa de 6 meses a 2 anos, a indicação vale apenas para crianças com comorbidades. A recomendação para quem não tem comorbidades, continua o documento, será avaliada após a aprovação para incorporação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Não foi especificada uma data para isso.
Procurado pelo Estadão para comentar quando a vacinação deve começar, o Ministério da Saúde informou que “o início do processo de distribuição aos Estados está previsto para a próxima semana”. A partir de então, os Estados poderão iniciar a vacinação de crianças de 6 meses a 2 anos. Os quantitativos a serem distribuídos não foram especificados.
Demanda
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informou que requisitou 615 mil doses do imunizante da Pfizer ao Ministério da Saúde e que aguarda o envio pelo governo federal para definição do início da vacinação de crianças entre 6 meses e 2 anos.
Um integrante da pasta informou ao Estadão que um primeiro pedido foi enviado na última semana e outro, mais recente, nos últimos dias. Mas ainda não houve uma comunicação formal do ministério sobre quando exatamente as doses serão entregues ao Estado ou quantas serão.
A população de crianças de 6 meses a 2 anos em São Paulo é de 1.379.736. Com o quantitativo solicitado, de 615 mil doses, o governo estima que as crianças nessa faixa etária com pelo menos uma comorbidade – cerca de 195 mil – podem ser vacinadas com as três doses recomendadas.
No entendimento do governo paulista, todas as crianças de 6 meses a 2 anos deveriam ser imunizadas. Porém, como não deve haver vacinas suficientes neste primeiro momento, o Estado segue a recomendação do Ministério da Saúde de priorizar quem possui comorbidade.
Atualmente, a campanha de vacinação contra covid-19 no Estado de São Paulo já contempla todas as crianças de 3 e 4 anos de idade. A imunização avançou nessa faixa etária, informou o governo estadual, devido à doação de 2 milhões de doses da vacina Coronavac realizada pelo Instituto Butantan, em setembro deste ano.
Críticas
A medida de destinar as doses apenas para crianças com comorbidades recebeu críticas de especialistas. Nesta terça-feira, 1º, as sociedades Brasileira de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm) publicaram nota conjunta em que “endossam a recomendação da Câmara Técnica Assessora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) da imediata incorporação da vacina Comirnaty (Pfizer) para crianças brasileiras de 6 meses a 4 anos”.
“A nota técnica (do Ministério da Saúde) não segue a recomendação da câmara técnica, nós fomos surpreendidos com essa publicação”, disse ao Estadão o diretor da SBIm Renato Kfouri, um dos médicos que auxiliam na tomada de decisões do governo federal quanto à imunização. “Atrapalha a vacinação dos municípios, que não conseguem identificar quem são as crianças (com comorbidades), não sabemos esses denominadores para cálculo dessas coberturas. Não foi essa a recomendação da câmara técnica, e sim a vacinação universal.”
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