A queda na cobertura vacinal não é um problema apenas entre as crianças. A taxa de aplicação da tríplice bacteriana (dTpa), por exemplo, que protege contra coqueluche, difteria e tétano, vem apresentando queda acentuada nos últimos quatro anos entre as grávidas. Dados disponíveis mais recentes disponíveis no Datasus, do Ministério da Saúde, mostram que a cobertura do imunizante para essa população estava em apenas 30,11% até o fim de outubro deste ano. Em 2018, o porcentual havia fechado em 60%, já bem abaixo da meta de 95% que consta no Plano Nacional de Imunizações (PNI).
Esse cenário coloca em risco a saúde das gestantes. Sem estarem vacinadas, elas ficam mais suscetíveis a desenvolver quadros graves das doenças. “A vacinação é importante para a gestante, mas também protege o bebê com os anticorpos que a mãe produz após receber a vacina”, explica Normeide França, pediatra e infectologista da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Saber quais vacinas é necessário tomar e quais são os imunizantes contraindicados é fundamental para uma gravidez segura. Confira, abaixo, a recomendação de especialistas.
Imunizantes recomendados durante a gestação
São quatro vacinas indicadas no calendário vacinal da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm): tríplice bacteriana (dTpa), hepatite B, influenza e covid-19.
A tríplice bacteriana, que também é chamada de dTpa, serve para proteger contra difteria, tétano e coqueluche. Sua aplicação vai variar de acordo com histórico vacinal da gestante.
- Se a gestante já foi vacinada com pelo menos três doses ao longo da vida, será necessário receber apenas uma dose de dTpa a partir da 20ª semana de gravidez.
- Gestantes que tomaram duas doses de vacina devem receber apenas uma dose de dTpa a partir da 20ª semana.
- Para gestantes que receberam só uma dose, é recomendada a aplicação de uma dose de dT (contra difteria e tétano) e uma dose de dTpa a partir da 20ª semana, com intervalo mínimo de um mês entre as duas doses.
- Gestantes não vacinadas e/ou com histórico vacinal desconhecido precisam tomar duas doses de dT e uma dose de dTpa a partir da 20ª semana de gestação.
A vacina contra a hepatite B também está entre as recomendadas pela SBIm. Nesse caso, o imunizante deve ser administrado em três doses, com intervalo de um mês entre a primeira e a segunda doses, e de seis meses entre a primeira e a terceira. A vacina deve ser aplicada em gestantes que não foram vacinadas previamente.
O imunizante da influenza, por sua vez, deve ser administrado em dose única anual. Em casos específicos, especialmente para gestantes imunodeprimidas, pode ser aplicada uma segunda dose após três meses da dose anual.
Nos últimos anos, a vacina contra a covid-19 passou a ser recomendada para gestantes, que estão mais vulneráveis a desenvolver formas graves da doença e a ter complicações obstétricas. O Ministério da Saúde indica a aplicação das vacinas da Pfizer ou do Instituto Butantan/Sinovac (Coronavac). “Essas vacinas têm se mostrado seguras e são as mais recomendadas para gestantes”, explica a médica Normeide França.
Vacinas que são contraindicadas na gravidez
Grávidas não devem receber vacinas produzidas com bactérias e vírus vivos ou atenuados, como explica a infectologista Normeide. Segundo ela, esses imunizantes são desenvolvidos com vírus ou bactérias enfraquecidos, mas isso não significa que sua capacidade de replicação no organismo tenha sido anulada. “As vacinas feitas com vírus ou bactérias mortos são mais seguras porque os vírus ou as bactérias não têm capacidade de se multiplicar no corpo da gestante”, afirma. De acordo com ela, as grávidas podem adoecer mesmo com a presença de uma quantidade mínima de vírus ou bactérias, uma vez que a capacidade de defesa de seu organismo fica reduzida.
Assim, quatro imunizantes não são recomendados pela SBIm. São eles: tríplice viral, varicela, HPV e dengue – todos produzidos com vírus ou bactérias enfraquecidos, mas ainda vivos. Essas vacinas devem ser aplicadas no puerpério e durante a amamentação.
Imunizantes indicados em situações especiais
- A vacina contra a hepatite A e a vacina combinada contra hepatites A e B devem ser administradas nos casos em que a gestante esteja morando ou vá viajar para locais com alta incidência da doença.
- A lógica é a mesma para aplicação da meningocócica – tanto a B, quanto a conjugada ACWY –, que depende da situação epidemiológica da região em que vive a gestante.
- A pneumocócica, contra pneumonia, meningite e otite, deve ser aplicada em gestantes de risco para doenças pneumocócicas.
- A da febre amarela também é recomendada com ressalvas: com base em avaliação médica e quando há altos riscos de infecção.
A amamentação pode imunizar o bebê?
A imunização do bebê começa ainda no útero. “A mãe passa os anticorpos pela placenta durante a gestação e também depois, pelo aleitamento”, aponta Normeide, da SBP. Porém, mesmo que o recém-nascido continue recebendo os anticorpos pelo aleitamento materno, é importante que ele também seja vacinado, uma vez que a imunização que recebe pela mãe é temporária.
“O bebê fica protegido com as vacinas que a mãe tomou durante a gravidez por, em média, seis meses. Com o passar do tempo, ele vai eliminando os anticorpos recebidos da mãe”, diz a médica. “Os anticorpos produzidos pela criança que toma suas próprias vacinas têm uma duração muito mais longa.”
Expediente
Reportagem | Alunos do 1º Curso Estadão de Jornalismo de Saúde: Aline Albuquerque, Ana Luiza Antunes, Beatriz Bulhões, Beatriz Leite, Camila Pergentino, Camila Santos, Fernanda Freire, Flávia Terres, Francielle Oliveira, Giovanna Castro, Guilherme Lara da Rosa, Guilherme Santiago, Isabel Gomes, Isabela Abalen, Iuri Santos, Kally Momesso, Katharina Cruz, Layla Shasta, Letícia Pille, Mariana Macedo, Matheus Metzker, Milena Félix, Pedro Miranda, Pedro Nakamura, Rafaela Rasera, Sofia Lungui, Stéphanie Araújo, Thais Porsch, Victória Ribeiro e Vitor Hugo Batista Coordenação e edição | Carla Miranda, Andréia Lago e Ítalo Rômany
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