Na última década, o consumo de bebidas energéticas aumentou no Brasil. Em 2021, último ano com dados atualizados da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir), os brasileiros ingeriram 22% a mais desses produtos do que em 2020, quando o consumo já era 16,5% superior ao do ano anterior.
Essas bebidas concentram substâncias que estimulam o sistema nervoso central e, por isso, costumam ser usadas para espantar o sono e aumentar a energia. Não à toa, ganharam espaço na rotina de quem tem dias agitados. Mas a ingestão preocupa os médicos, já que cobra consequências para a saúde. Veja algumas delas a seguir.
1. Elas oferecem riscos ao coração
Como possuem substâncias estimulantes do sistema nervoso central, as bebidas energéticas também têm impacto no funcionamento do sistema cardiovascular. A curto prazo, ou seja, no momento do consumo, elas causam o aumento dos batimentos cardíacos, o que pode levar a arritmias.
Em longo prazo, quando o consumo é frequente, as bebidas energéticas podem levar a quadros de hipertensão arterial, popularmente conhecida como pressão alta. Quando não controlada, a hipertensão é um fator de risco para doenças cardiovasculares e pode causar infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca.
Por isso, a bebida é contraindicada para pacientes que já têm doença cardiovascular, como aqueles com histórico prévio de infarto, com insuficiência cardíaca, hipertensão ou arritmia, principalmente aqueles com difícil controle do quadro.
“Outro ponto importante em relação à ingestão de bebidas energéticas é que existe sempre um consumo associado à bebida alcoólica, então estaríamos potencializando duas substâncias que têm relação, principalmente, com arritmia”, alerta Jorge Koroishi, cardiologista do Hcor.
Ele ressalta que é necessário ficar atento a três aspectos: evitar a combinação com álcool, manter a hidratação com água e, por fim, cuidar da dose de cafeína ingerida — a recomendação de órgãos de saúde é limitar o consumo de cafeína a, no máximo, 400 mg por dia e cada lata de energético tem, em média, 80 mg.
2. Podem causar problemas para dormir
Justamente pela presença de cafeína, as bebidas energéticas inibem o efeito da adenosina, um modulador da atividade do sistema nervoso central que, quando acumulado, causa sonolência.
A curto prazo, esse pode ser o efeito desejado. No entanto, o consumo excessivo de energéticos pode causar distúrbios do sono, segundo o biomédico Gabriel Pires, membro da Associação Brasileira do Sono (ABS). “À medida que começo a exagerar no consumo de bebidas energéticas, meu sono vai ficando cada vez mais perturbado e, com o tempo, posso desenvolver insônia”, explica. Por isso, esse tipo de bebida é contraindicado para pessoas que têm problemas para dormir.
Mesmo para indivíduos sem distúrbios do sono Pires recomenda evitar os energéticos e, se ainda assim a pessoa quiser consumir a bebida, ele orienta não ingerir diariamente e sempre controlar a dose. Segundo o biomédico, não existe recomendação clara de qual é a quantidade segura de energético, uma vez que o total de cafeína e taurina varia muito de marca para marca.
Outro cuidado importante é evitar a bebida depois da metade da tarde. “Na medida em que não consigo dormir por efeito colateral do energético, vou ter uma noite de péssima qualidade e acordar cansado no próximo dia. Então, me sujeito a tomar mais energético para passar o dia ativo e aí vou em um ciclo vicioso de privação de sono e estimulação de vigília.”
Vale ressaltar que a privação de sono pode levar a problemas de memória, danos à atenção e à concentração, além de favorecer o desenvolvimento de doenças crônicas.
3. Aceleram o desgaste dos dentes
Há outras substâncias que compõem as bebidas energéticas, como ácido fosfórico e ácido cítrico, que são agentes erosivos. Elas diminuem o pH da saliva, o que a torna mais ácida e colabora para a desmineralização dos dentes.
Além disso, a presença da cafeína também pode contribuir com esse processo. Por sua ação diurética, ela diminui a salivação, o que também favorece o desgaste.
“Esse dente que é desgastado diariamente pode fazer falta lá na frente”, adverte o dentista José Todescan Júnior, lembrando que, ao contrário da pele, que se recompõe depois de ser coçada, a camada desgastada dente não volta a se formar.
Existem ainda alguns energéticos que contêm açúcar, o que pode facilitar o desenvolvimento de cáries. Nesse cenário, os pacientes com bruxismo, cáries e lesões nos dentes não devem consumir esse tipo de bebida.
Aqueles sem problemas na boca também devem evitar os energéticos e, ao ingeri-los, tomar alguns cuidados. “O que se indica é, pelo menos 30 minutinhos antes de consumir essa bebida, escovar os dentes com creme dental com fluoreto de amina. Na ingestão, usar um canudo, que vai diminuir um pouquinho a erosão do dente, e depois de beber, consumir um alimento rico em cálcio”, aconselha o especialista.
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4. Aumentam o risco de doenças crônicas
Os energéticos também aumentam a ingestão calórica e de açúcar, já que muitas vezes possuem quantidades elevadas de açúcares adicionados.
Como consequência, levam a um desequilíbrio entre o consumo diário dos diversos macronutrientes necessários para uma nutrição adequada, segundo Fulvio Clemo Santos Tomaselli, diretor do Departamento de Endocrinologia do Esporte e do Exercício da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Quando ingeridas com frequência, elas estão associadas a um maior risco de obesidade. Dessa forma, junto aos problemas de coração e à privação de sono que podem gerar, as bebidas energéticas aumentam o risco de desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes.
5. Estão associadas ao sofrimento psíquico
Pesquisas científicas encontraram ligações entre a ingestão frequente de bebidas energéticas e um risco maior de problemas de saúde mental, como ansiedade e pânico.
O estímulo ao sistema nervoso central por esses produtos também pode aumentar o sofrimento psicológico característico da depressão, os pensamentos suicidas e os sintomas de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Além disso, quando consumidas por jovens de até 21 anos, essas bebidas parecem levar a uma maior propensão a outros comportamentos prejudiciais à saúde, como o tabagismo e o aumento de ingestão de bebida alcoólica.
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