A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta terça-feira, 1º, a aprovação de uso emergencial da vacina contra a covid-19 Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. O órgão recomendou a vacina para uso em adultos de 18 anos ou mais, em um esquema de duas doses com espaçamento de duas a quatro semanas.
Os resultados da eficácia da vacina mostraram que o imunizante previne doenças sintomáticas em 51% dos vacinados e evitou casos graves e hospitalizações em toda a população estudada. Para avaliação da vacina, a OMS avalia qualidade, segurança e eficácia das vacinas contra a covid, no caso da Coronavac, a avaliação incluiu inspeções no local das instalações de produção.
Entenda quais os benefícios e as mudanças com essa aprovação para brasileiros:
O que significa uma aprovação da OMS para uso emergencial de uma vacina?
O procedimento, utilizado pela OMS em caso de emergência sanitária, permite que países que não dispõem de meios para determinar rapidamente a eficácia e segurança de um medicamento tenham acesso mais rápido aos tratamentos, no caso acesso aos imunizantes contra a covid-19. A aprovação também facilita a logística de distribuição da vacina em todo mundo, por meio de consórcios como o Covax Facility, organizado pela OMS.
Como o Brasil se beneficia com essa decisão?
Para integrantes do governo brasileiro, isso abre caminho para que outros países aceitem a entrada de pessoas vacinadas com as duas doses do imunizante contra a covid-19, com a abertura de fronteiras esperada para os próximos meses. A validação oferece aos países, financiadores, agências de compra e comunidades a garantia de que atende aos padrões internacionais de segurança, eficácia e fabricação.
A decisão permite que brasileiros vacinados com a Coronavac possam viajar para outros países?
Não. A maioria dos países tem restrições que não são necessariamente atreladas as autorizações da OMS. Na União Europeia, por exemplo, turistas precisam apresentar um teste PCR feito até 72 horas antes do embarque e a uma quarentena de 14 dias no país de desembarque, com isolamento e rastreio de contatos. Outra maneira é o turista ter completado o ciclo de imunização pelo menos duas semanas antes da viagem, com imunizantes aprovados pelo órgão regulador da União Europeia. Até o momento, as vacinas que receberam aval são os da Oxford/AstraZeneca, Johnson & Johnson, Moderna, Pfizer-BioNTech e Sinopharm. Fora da lista, a Coronavac ainda está em análise, mas agora as chances de aprovação são maiores. Isso porque o bloco também prevê estender a autorização para vacinas que concluíram o processo de uso emergencial da OMS.
Entretanto, outras restrições que foram recomendadas na União Europeia são as “travas de emergência”, para evitar novos picos da doença e a entrada de cepas diferentes do vírus. Segundo a regra apresentada, turistas de países com variantes podem ser barrados. Já o limiar de controle aceitável seria de até 100 casos de covid por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. Essas restrições podem afetar o Brasil, onde há registros de variantes e a taxa de infecções está em 413,2 novos casos por 100 mil habitantes. “Um Estado-Membro pode suspender urgente e temporariamente todas as viagens de entrada de cidadãos não residentes nesse país”, diz comunicado da UE, sobre a reabertura. “Esses viajantes devem ser submetidos a testes rigorosos e medidas de quarentena, mesmo que tenham sido vacinados.”
A aprovação possibilita que mais vacinas sejam aplicadas no país?
A Coronavac é um imunizante amplamente utilizado no Brasil, entretanto com a aprovação mais doses da vacina podem ser disponibilizadas por meio do Covax Facility, consórcio organizado pela OMS. Hoje, o Brasil já recebe doses da Pfizer e da Astrazeneca por meio do programa, que reforçam as compras diretas e a produção local de vacinas. A Lista de Uso de Emergência da OMS é um pré-requisito para o fornecimento de vacinas pelo consórcio e para negociações internacionais.
Outras vacinas têm essa aprovação para uso emergencial?
Sim, a Coronavac é o sexto imunizante a receber aprovação para uso emergencial pela OMS. Entre os aprovados estão duas vacinas já utilizadas no Brasil, a da Pfizer/BioNTech e da AstraZeneca. Além delas, a vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, a vacina da Moderna e a vacina da farmacêutica chinesa Sinopharm também têm a autorização do órgão.
A partir de agora outros países vão usar a vacina?
Na verdade, outros países como China, Indonésia, Turquia, Colômbia, Uruguai, Chile, Ucrânia, entre outros, já possuem aprovação para uso da Coronavac. Entretanto, com a aprovação da OMS, mais nações podem buscar a compra do imunizante, ou ainda, recebê-lo por meio de consórcios, já que a validação oferece aos países, financiadores, agências de compra e comunidades a garantia de que a vacina atende aos padrões internacionais de segurança, eficácia e fabricação.
Então a Coronavac é segura?
Dados recentes divulgados por meio de um estudo realizado em Serrana (SP) que vacinou 95,7% da população adulta do município, mostraram que a vacina é segura. Foram administradas 54.882 doses na população e o índice geral de eventos adversos foi de 4,4% da primeira dose, a maioria deles leves. Somente 0,02% dos vacinados tiveram registros de efeitos de grau 3 ou superior, mas a maioria teve dor de cabeça ou muscular.
O que os estudos brasileiros apontam sobre a eficácia da Coronavac?
Os testes clínicos da Coronavac no Brasil demonstraram uma eficácia geral de 50,7%, podendo chegar a 62% se o intervalo entre a primeira e a segunda dose for igual ou superior a 21 dias.
Em um estudo de vacinação em massa realizado em Serrana mostrou uma diminuição de 80% no número de casos sintomáticos, após a vacinação e as internações foram reduzidas em cerca de 86%. Já o número de óbitos por conta da covid diminuiu em 95% na cidade.
Entretanto, outro estudo divulgado no dia 21 de maio mostrou que, na média, a efetividade após 14 dias da segunda dose ficou em 42% no grupo de idosos acima de 70 anos, variando de 61,8% (70 a 74 anos) a até 28% (80 anos ou mais). Na faixa etária dos 75 aos 79 anos, a taxa ficou em 48,9%. /COLABOROU FELIPE RESK
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