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Prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer

Opinião | Câncer de colo de útero pode ser eliminado no Brasil com medida simples: vacinação

A vacina contra o HPV pode mudar o cenário em relação a essa doença, que é uma das principais causas de morte entre brasileiras

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Por Fernando Maia

Janeiro marca o início de um ano, sendo um momento muito oportuno para relembrar a importância da saúde da mulher. Neste mês, dedicado especialmente à conscientização sobre o câncer do colo do útero, precisamos reverberar uma mensagem clara: a eliminação dessa doença é possível, e a vacinação contra o HPV é uma das chaves para atingir esse objetivo.

Vacinação contra o HPV é capaz de evitar casos de câncer de colo de útero.  Foto: RFBSIP/Adobe Stock

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Causado em quase 100% dos casos pelo papilomavírus humano (HPV), o câncer de colo de útero ainda é um dos maiores desafios da saúde pública no País. Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam mais de 17 mil novos casos e mais de 6 mil mortes por ano.

Além disso, existe uma grande diversidade regional. Enquanto no Sudeste a incidência estimada é de cerca de 12 casos por 100 mil mulheres, na região Norte é de aproximadamente 20 casos por 100 mil mulheres. Esses números se tornam ainda mais alarmantes quando lembramos que a doença é altamente prevenível, graças à vacina contra o HPV, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

O HPV infecta tanto homens quanto mulheres e, na maioria das vezes, não apresenta sintomas. Porém, em alguns casos, a infecção pode evoluir para lesões precursoras ou câncer, em especial o câncer do colo do útero – mas também está ligado a outros tipos, como tumores de pênis, canal anal e orofaringe.

A vacinação contra o HPV, introduzida no Brasil em 2014, protege contra os subtipos mais perigosos do vírus, que causam cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero. A imunização em meninas e meninos antes do início da vida sexual é crucial para garantir uma maior eficácia.

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A imunização contra o HPV tem avançado nos últimos anos. Dados recentes mostram que mais de 98% das meninas e 80% dos meninos de 9 a 14 anos – faixa etária prioritária para imunização – receberam a vacina.

A meta recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alcançar a proteção coletiva é de 90%. Entretanto, esses dados são heterogêneos, com alguns estados registrando cobertura muito inferior, como o Acre, onde apenas 57% das meninas e 43% dos meninos estão vacinados.

Desafios para a vacinação

Mesmo com a vacina amplamente disponível, mitos e desinformação ainda são grandes obstáculos. Muitos pais hesitam em vacinar seus filhos por acreditarem, erroneamente, que isso poderia incentivar o início precoce da vida sexual. Além disso, há a falta de campanhas educativas, especialmente em comunidades mais vulneráveis.

Outro fator importante é o impacto da pandemia de covid-19 na cobertura vacinal, incluindo o HPV. Muitas famílias deixaram de levar os filhos aos postos de vacinação, e essa lacuna ainda não foi totalmente preenchida. Precisamos de um esforço conjunto para reverter essa situação. Campanhas de conscientização, treinamento de profissionais de saúde e parcerias com escolas são essenciais para garantir que a vacina chegue a quem mais precisa.

Além das políticas públicas, a participação da sociedade é essencial. Escolas, empresas, ONGs, universidades e outras entidades podem desempenhar papéis importantes na disseminação de informações e na facilitação do acesso à vacina e ao exame preventivo.

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O Grupo Mulheres do Brasil e o Instituto Vencer o Câncer, por exemplo, lideram iniciativas locais para educar pais, professores e adolescentes sobre a importância da vacinação contra o HPV em cidades como Recife e São Paulo. Além disso, lançaram a iniciativa da Aliança Nacional pela Eliminação do Câncer do Colo do Útero em agosto do ano passado, visando unir esforços com as diversas instituições que atuam nesta área. A perspectiva é fomentar mais ações neste ano, em diversas localidades do País.

Eliminar o câncer do colo do útero é mais do que um sonho: é uma meta realista e alcançável. No entanto, o sucesso dessa jornada depende da união de esforços de toda a sociedade. Começar o ano com um compromisso com a saúde da mulher é plantar as sementes de um futuro em que o câncer do colo do útero não será mais uma ameaça.

Em janeiro, mais do que refletir, é hora de agir. Vacine seus filhos. Incentive outras famílias a fazerem o mesmo. O impacto será sentido por gerações. O Brasil tem tudo para ser um exemplo mundial de como vencer essa batalha.

Opinião por Fernando Maia

Doutor em Saúde Coletiva pela Faculdade de Medicina da USP, ex-coordenador-geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde e consultor estratégico da Aliança Nacional para Eliminação do Câncer do Colo do Útero

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