Quando pensamos em saúde, muitas vezes nos esquecemos da importância de cuidar da pele, o maior órgão do corpo humano. Não estou falando aqui do popular skin care. Refiro-me ao câncer de pele, o tipo de tumor mais frequente no Brasil. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), mais de 220 mil novos casos do tipo não melanoma e cerca de 9 mil novos casos de melanoma serão registrados em 2024, aqui no País.
Entre os tumores de pele não melanoma, o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular são os mais comuns, geralmente surgindo em pessoas que se expuseram cronicamente ao sol ao longo da vida, com o aparecimento de crostas que não cicatrizam e sangram com facilidade. Homens de pele e olhos claros e que passaram a juventude ao ar livre são particularmente vulneráveis. Muitas vezes esses cânceres aparecem na região frontal da face, perto do nariz, na orelha, no pescoço e até no couro cabeludo.
O melanoma, por outro lado, é menos incidente, mas muito mais agressivo. Ele pode aparecer em qualquer fase da vida e, embora frequentemente associado à exposição solar intensa e intermitente (como nas férias), pode surgir em locais que muitas vezes não são percebidos, como a planta dos pés, embaixo das unhas e até nas mucosas, como no nariz.
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Prevenção
Ela é, sem dúvida, a melhor abordagem. Proteger-se dos raios ultravioleta (UV) é fundamental e precisamos educar nossa população, desde a infância, para esse cuidado. Usar protetor solar, evitar o sol entre 10h e 16h e adotar acessórios como chapéus de aba larga e óculos com proteção UV são medidas simples, mas eficazes.
A visita anual ao dermatologista é uma prática indispensável para monitorar alterações nas pintas e manchas, especialmente em indivíduos de pele clara (chamados de fototipos 1 e 2), que são mais suscetíveis ao desenvolvimento de melanoma após anos de exposição ao sol, mesmo que esporádica.
O diagnóstico precoce é importantíssimo, pois o tratamento do melanoma em estágios iniciais geralmente se limita à cirurgia. No entanto, quando a doença se aprofunda e atinge os gânglios, tratamentos mais complexos podem ser necessários, incluindo imunoterapia e terapia-alvo, que têm mostrado eficácia, especialmente em casos de doença metastática com baixo volume de disseminação, ou seja, aqueles casos que acometem a pele e linfonodos, e ainda não chegaram ao pulmão, ao fígado ou ao cérebro.
Contudo, o acesso a esses tratamentos ainda é um desafio. Apesar da incorporação da imunoterapia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2020, restrições orçamentárias limitam seu alcance. Essa realidade só reforça a importância da prevenção. Melhor do que enfrentar os efeitos de uma doença avançada é evitar que ela aconteça.
Portanto, falar sobre câncer de pele não é apenas uma questão médica; é uma questão de saúde pública e educação. Precisamos conscientizar a população de que o cuidado com a pele não é um luxo, mas uma necessidade. Campanhas de conscientização, uso regular de protetor solar e consultas dermatológicas anuais devem ser incentivadas. Afinal, a prevenção salva vidas e reduz os custos de tratamentos complexos, beneficiando toda a sociedade.
No ano passado, o Instituto Vencer o Câncer (IVC) lançou um livro que trouxe todos os aspectos do câncer de pele, desde prevenção e diagnóstico até estratégias de tratamento e principais inovações no controle da doença. A publicação, gratuita, está disponível para download no portal do instituto.
Encorajo todos a refletirem sobre suas práticas de exposição ao sol e a adotarem hábitos que promovam uma vida mais saudável. Se cuidar hoje pode significar não apenas evitar um tratamento contra um câncer no futuro, mas garantir qualidade de vida por muitos anos.
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