Venezuela registra o maior aumento de casos de malária no mundo e ameaça Brasil
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 400 mil casos foram ser registrados no território venezuelano, quase dez vezes mais que no início da década
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Por Jamil Chade, correspondente e Genebra
GENEBRA - Diante do colapso do sistema de saúde e da falta de campanhas de prevenção, a Venezuelaregistra o maior aumento porcentual de casos de maláriano mundo. Dados publicados nesta terça-feira, 24, pelaOrganização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, em 2017, mais de 400 mil casos foram ser registrados no país, quase dez vezes mais que no início da década. Para a entidade, essa realidade já é uma ameaça ao Brasil, diante do fluxo de refugiados e imigrantes que poderia provocar uma nova onda de transmissão.
A tendência de alta na malária é uma realidade em diversas partes do mundo, mas a situação venezuelana chama a atenção. “O aumento é real e muito preocupante”, disse Pedro Alonso, diretor da OMS para o Combate à Malária.
Em sua avaliação, houve uma redução importante nas campanhas anti-malária, o que permitiu o salto no número de casos. “Nos anos 1950, quando a OMS lançou suas primeiras campanhas, a Venezuela foi o primeiro país a conseguir que regiões inteiras fossem declaradas livres da doença”, disse. “Hoje, porém, é o local com maior aumento em todo o mundo”, lamentou, sem dar detalhes sobre o restante dos países.
Em 2010, o país havia registrado 45 mil casos de malária. Em 2016, a taxa já era de 240 mil. Contudo, nem a OMS acreditou nos dados oficiais fornecidos por Caracas e estima que existiam 300 mil casos. Agora, para 2017, os dados preliminares apontam para 406 mil.
Os números oficiais de mortes também não são considerados confiáveis. A Venezuela informou à OMS que registrou apenas um caso em 2016. Mas a entidade estima que as mortes chegam a 280.
Para a agência de Saúde da ONU, o risco é de que esses casos voltem a afetar zonas brasileiras que tinham conseguido se livrar ou reduzir de forma dramática a malária. “Estamos vendo, de fato e por causa do movimento de pessoas, casos de venezuelanos com malária no Brasil. Mas também na Colômbia”, disse Alonso. “O risco é de que essas pessoas não sejam diagnosticadas e que possa haver uma nova onda de transmissão no Brasil”, alertou.
Para ele, a nova realidade exigirá que os governos vizinhos à Venezuela trabalhem para conter a onda e de forma gratuita. “Não há nada mais perigoso que um paciente sem tratamento”, disse.
Enquanto os casos venezuelanos explodem, o Brasil registrou nos últimos seis anos uma queda. Eles passaram de 334 mil em 2010 para 129 mil em 2016. Alonso, porém, diz ainda não ter os números finais de 2017 para o Brasil.
A imigração venezuelana para o Brasil em 20 fotos
1 / 20A imigração venezuelana para o Brasil em 20 fotos
Roraima
Cerca de 40 mil imigrantes vivem atualmente em Boa Vista, capital de Roraima. Em um ano, chegada de venezuelanos aumentou em 10% a população da cidade... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Travessia
Cerca de 700 imigrantes fazem fila diariamente na fronteira da Venezuela com o Brasil, próximo ao município de Pacaraima, em Roraima Foto: Werther Santana/Estadão
Caminho
Após atravessarem a fronteira, muitos venezuelanos caminham por dias pela estrada até a chegada em Boa Vista. Foto: Werther Santana/Estadão
Carona
Na foto, a família de Francisco da Encarnación tenta conseguir uma carona pela BR-174 atéBoa Vista Foto: Werther Santana/Estadão
Abrigo
Os cinco abrigos de Boa Vista estão superlotados. Na foto, o abrigo do bairro Pintolândia, no qualimigrantes vivem dentrode um ginásio e em tendas no ... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Descanso
Nos abrigos, imigrantes dormem em colchões dispostos no chão ou em redes improvisadas Foto: Werther Santana/Estadão
Rotina
Na foto, imigrantes penduram roupas em ginásio transformado em abrigo pela Defesa Civil de Roraima Foto: Werther Santana/Estadão
Em praças
Com os abrigos lotados, imigrantes montaram barracas improvisadas nas praças, mas não contaram com a ajuda do poder público. Na Praça Simon Bolívar, p... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Falta de estrutura
Comércio no entorno de praça cobra R$ 3 para venezuelanos utilizarem banheiros. Sem alternativa, muitos procuram matagais próximos para urinar e defec... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Superlotação
Dentre os abrigos,a pior situação é a do localizado no bairro Pintolândia, que acolhe apenas venezuelanos indígenas. O local tem capacidade para 370 p... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Refeições
Na foto, venezuelanos esperam na fila para receber comida noGinásioTranquedo Neves, transformado em abrigo pela Defesa Civil em Boa Vista Foto: Werther Santana/Estadão
Refeições com sobras
Com a chegada de mais refugiados à cidade e a falta de vagas em abrigos, os que vivem em praças começaram a buscar alternativas para comer. Inicialmen... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Fechamento de fronteira
A governadora de Roraima, Suely Campos (PP), se encontrou na quinta-feira com a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), relatora da aç... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Higiene
Venezuelanos acampados em praça de Boa Vista andam mais de dois quilômetros até o Rio Branco para tomar banho ou lavar roupas. Foto: Werther Santana/Estadão
Comércio improvisado
Ruas do entorno do abrigo Tancredo Neves viraram uma espécie de feira ao ar livre de venezuelanos, com venda de alimentos e cigarros e prestação de se... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Trabalho
O trabalho autônomo foi a opção encontrada por imigrantes que não conseguem emprego na capital de Roraima. Alguns vendem os poucos itens que trouxeram... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Precarização
Outra mudança no mercado de trabalho de Boa Vista trazida pela imigração foi a redução no valor das diárias pagas a profissionais autônomos. Com muita... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Nas ruas
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Prostituição
Moradores contam que a presença de garotas de programa nas calçadas se intensificou com o aumento da imigração venezuelana na cidade. Antes, dizem ele... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Violência
Com o aumento da população, Boa Vista viu o número de ocorrências criminais dobrar. Mas apenas 0,5% dos crimes foi cometido por venezuelanos, segundo ... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
No restante do mundo, a OMS também aponta para o fim do progresso no combate à malária. “Precisamos de US$ 5,5 bilhões por ano para erradicar a doença. Mas temos apenas metade disso”, lamentou. “Os investimentos contra malária ficaram estagnados nos últimos cinco anos, o que significa que não há mais progresso e há aumento de casos”, completou.
Em números absolutos, todos os países com maiores índices de casos - como Uganda, Moçambique e outros países africanos - registraram uma alta na malária em 2017.