Ventilador não ajuda a amenizar impactos do calor extremo à saúde, mostra estudo

Pesquisa alerta que aparelho não tem muita utilidade especialmente para grupos mais vulneráveis aos efeitos das temperaturas elevadas, como é o caso dos idosos

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Foto do author Victória  Ribeiro

Com o aumento cada vez mais frequente das temperaturas, há uma necessidade urgente de encontrar formas de amenizar o calor. Embora os ventiladores surjam como soluções fáceis e acessíveis, um estudo realizado pela Unidade de Pesquisa em Fisiologia Humana e Ambiental da Universidade de Ottawa, nos Estados Unidos, sugere que esses aparelhos podem não ser tão eficazes quanto se imaginava, especialmente para populações mais vulneráveis aos efeitos do calor, como os idosos.

Publicada na revista Lancet Planetary Health, a pesquisa se baseou em técnicas de “balanço do calor humano”, analisando uma variedade de cenários para estimar a temperatura central do corpo em diferentes condições. Os resultados indicaram, então, que os ventiladores não são eficazes na redução da temperatura interna em situações de calor extremo, o que foi confirmado a partir de análises adicionais e simulações de ondas de calor em laboratório.

Idosos são mais vulneráveis ao calor devido à sua menor reserva de água corporal Foto: Krakenimages.com/Adobe Stock

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De acordo com o estudo, em situações de calor extremo, a partir de 33 °C, os ventiladores podem dar a falsa impressão de que refrescam porque melhoram a evaporação do suor, mas o efeito não é suficientemente forte para reduzir a temperatura corporal interna.

“Em idosos, que podem ter uma capacidade de suor reduzida, os ventiladores oferecem ainda menos benefícios de resfriamento. Na verdade, mesmo em adultos mais jovens, os ventiladores fornecem apenas uma fração do poder de resfriamento de um ar-condicionado”, afirmou Robert Meade, pós-doutorando responsável pela pesquisa, em comunicado divulgado pela instituição.

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O estudo recomenda que as organizações de saúde enfatizem a importância de substituir o uso de ventiladores pelo ar-condicionado, sempre que possível, especialmente para idosos e outros grupos com maior risco de insolação e outros eventos adversos para a saúde durante ondas de calor. “É crucial melhorarmos a acessibilidade e a sustentabilidade do ar-condicionado e outras formas de refrigeração do ambiente para proteger grupos de risco”, acrescentou Meade.

O que acontece com o corpo quando está muito quente?

O corpo humano tem uma temperatura ideal para realizar suas atividades diárias e reage sensivelmente às variações de calor ou frio externo. Por isso, quando está muito quente, nosso organismo entra em ação para tentar regular a temperatura interna.

“Ao receber o estímulo do calor, o corpo promove a vasodilatação (dilatação das artérias) para dissipar o calor. Isso aumenta o fluxo sanguíneo na pele, nos levando a transpirar. O suor é um mecanismo para equilibrar a temperatura corporal”, afirmou Paulo Camiz, clínico geral e geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo e professor da Universidade de São Paulo em entrevista recente ao Estadão.

De acordo com o médico, com o aumento dos vasos sanguíneos, há maior espaço para circulação do sangue. Se não adicionamos mais água ao organismo, a quantidade de sangue por espaço arterial diminui, fazendo com que a nossa pressão baixe, podendo chegar a um quadro de desidratação.

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“A pessoa fica indisposta e isso tem implicações principalmente para o coração, porque a forma de o coração compensar essa desidratação ou essa baixa de volume na circulação é aumentando a frequência cardíaca. Ele tenta mandar mais sangue para o corpo, aumentando a frequência cardíaca”, afirma o médico.

É por isso que pessoas que têm problemas cardíacos e de circulação sanguínea têm maior dificuldade em compensar a falta de água no organismo. Assim como os que têm problemas respiratórios.

Idosos

Idosos são particularmente vulneráveis ao calor devido à sua menor reserva de água corporal, menor sensação de sede e menor capacidade de transpiração, o que limita sua habilidade de regular a pressão arterial e a temperatura corporal.

Camiz também menciona que é comum que idosos sintam como se estivessem “cozinhando por dentro”, termo conhecido como “intermação”, que ocorre quando o corpo aquece e não consegue dissipar esse calor, resultando em hipertermia, um aumento da temperatura corporal não relacionado à febre, mas sim à incapacidade de o corpo de regular sua resposta ao calor.

Para evitar os danos, é essencial evitar exposição demorada ao sol e a permanência em locais quentes. Nesse sentido, o ar-condicionado pode ser um bom aliado para manter a temperatura externa equilibrada com a temperatura corporal. Além disso, é imprescindível manter a hidratação.

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