Vírus de Epstein-Barr, contraído por Anitta: transmissão ocorre além do beijo; entenda

Cantora revelou diagnóstico recente e levantou dúvidas sobre o tema. Especialistas explicam sintomas e tratamento

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Por Beatriz Bulhões
Atualização:

O diagnóstico da cantora Anitta como portadora do vírus de Epstein-Barr (chamado de EBV, na sigla em inglês) levantou dúvidas sobre o tema. A mais comum, por exemplo, é sobre a forma de transmissão do vírus, visto que ele é causador da Mononucleose, constantemente chamada de “doença do beijo”. No entanto, a transmissão não ocorre somente dessa maneira.

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O infectologista Adriano Silva explica que o vírus é passado pela saliva e, por isso, pode ser transmitido no encontro das bocas. Por outro lado, como as gotículas de saliva são transmitidas no ar durante a fala, esse não é o único meio possível de transmissão. “Se você der um beijo no rosto, por exemplo, ou então abraçar, pegar… você pode contrair o vírus”, detalha.

O especialista alerta ainda que o vírus é muito mais comum do que se imagina. Conforme o profissional do Centro Médico Hospital Aliança, em Salvador, cerca de 85% da população brasileira tem esse vírus e convive com ele sem sintomas. O vírus é da família Herpes, um “primo” do causador da herpes labial, herpes vaginal ou herpes zóster.

Anitta revelou diagnóstico, mas manifestação grave da doença é rara Foto: Luciana Prezia/Estadão

“O que está acontecendo com a Anitta não é nenhuma raridade. A maioria dos adultos têm sorologia positiva para o vírus, normalmente adquirido na infância”, explica.

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A evolução para doenças mais graves, como a esclerose múltipla, apesar de ter preocupado a funkeira, é incomum. “Diga à cantora Anitta para ela não ficar preocupada. Diga também que a maioria das pessoas tem isso e não tem nem sintomas, quanto mais sintomas graves”, brinca o infectologista Roberto Badaró, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professor da Universidade de San Diego, na Califórnia.

Como o vírus de Epstein-Barr é transmitido?

Badaró acredita que a associação da doença ao beijo veio do grande número de pacientes que apresentam sintomas no início da adolescência, “quando começam os namoros”. Entretanto, ele mesmo confirma que não há dados oficiais.

Foi o caso da jornalista Bruna Castelo Branco. Com 11 anos de idade, no ano de 2004, ela começou a sentir muita dor de garganta, somados a pequenos inchaços e placas brancas na faringe. Sofrendo com uma das formas mais intensas da Mononucleose, ela também apresentou placas pela pele e ficou internada por quatro dias em um hospital particular de Salvador.

“Eu ainda não beijava, que fique claro”, ressalta, hoje com 29 anos. “Eu sempre tive mania de morder lápis e canetas, além de roer unhas, então acredito que essa tenha sido a forma de transmissão”.

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Silva confirma que é muito complicado associar a transmissão ao beijo, considerando que a maioria dos brasileiros tem a doença. “As pessoas juntam todo o preconceito que já têm com Anitta, pelas músicas e atitudes, para dar a entender que é uma doença ‘só do beijo’, de pessoas promíscuas. Mas não é nada disso, não tem nada a ver com o comportamento”, salienta.

Ainda assim, caso você seja diagnosticado com a Mononucleose, o isolamento é recomendado, mas não há necessidade de se retirar da sociedade sem que haja sintomas, segundo os médicos. Bruna lembra que, após receber alta do hospital, ainda ficou uma semana sem ir às aulas.

No caso da estudante de Letras Maria Vitória Dias, de 25 anos, apesar de estar na casa da ex-namorada e ter sido diagnosticada pela ex-sogra, médica, nenhuma das duas se infectou, mesmo entre beijos e abraços.

É possível se curar após a infecção pelo vírus de Epstein-Barr?

A jovem acredita que o fato de estar se recuperando de um quadro de covid-19 tenha possibilitado o surgimento da doença. Assim como a herpes, o infectado fica com o vírus por anos até que algo faça com que ele se manifeste, como uma queda na imunidade ou episódios de estresse e ansiedade.

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O tratamento também é feito apenas conforme a sintomatologia produzida. “Não existe uma medicação específica que mate o vírus. O que a gente faz é tratar as doenças, se ele (o vírus) produzir, obviamente”, resume. Tanto no caso de Maria Victoria quanto no caso de Bruna, as duas receberam medicamentos corticoides para a garganta.

Perguntado sobre uma cura, o especialista ressalta que “cura para a doença não é a cura para o vírus”. O médico ilustra o caso com o comportamento de outro vírus similar, pertencente à mesma família: o da catapora. Aqui, alguém que teve a doença, mesmo anos após o quadro, continua com o vírus no corpo. Essa permanência poderá causar uma outra doença, herpes-zóster.

Quais são as formas graves da infecção causada pelo vírus de Epstein-Barr?

Além da Mononucleose, o EBV pode estar relacionado ao aumento no risco de outras sete doenças, incluindo lúpus eritematoso sistêmico (LES), esclerose múltipla (EM) e diabete do tipo 1. Badaró acrescenta ainda o Linfoma de Burkit, uma doença grave que foi associada ao EBV após pesquisas no continente africano, embora a relação específica de causa e efeito ainda não tenha sido descrita totalmente pela medicina.

“O infectado tem que acompanhar os anticorpos IgG e IgM, um teste parecido com o de covid-19, para verificar se esses anticorpos desaparecem”, aconselha o professor titular do Centro Universitário de Saúde do Senais e Cimatec.

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