Você costuma dar as mãos para quem ama? Entenda o incrível poder desse gesto para o bem-estar

Pesquisas indicam que essa forma de conexão oferece um alívio ao cérebro na hora de enfrentar momentos estressantes

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Por Dra. Trisha Pasricha

THE WASHINGTON POST – Tenho curiosidade de saber por que os humanos dão as mãos. Existe alguma razão biológica para isso fazer parte das relações pessoais em tantas culturas?

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Resposta: Dar as mãos tem efeitos marcantes em nosso estado emocional, especialmente quando estamos com quem amamos: ajuda a baixar a pressão arterial, a reduzir a dor e a amortecer experiências estressantes.

Um experimento de 2021 confirmou esse efeito tranquilizador colocando participantes para segurar a mão do cônjuge enquanto assistiam a cenas de filmes de terror como Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado. Esse gesto simples pode limitar o impacto que o estresse tem sobre nosso sistema nervoso autônomo, que regula funções corporais inconscientes, como a dilatação da pupila. Quando as pessoas sentem que estão sob ameaça, segurar as mãos de um ente querido acalma partes do cérebro responsáveis pela vigilância e pela resposta emocional.

Mas as pesquisas também sugerem algo muito mais profundo sobre nossa necessidade de conexão.

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“Quando você realmente entende o que é dar as mãos – o que é e como tem efeitos – você começa a entender quase todas as facetas do que significa ser humano”, diz James Coan, psicólogo clínico e diretor do Laboratório de Neurociência Afetiva da Virgínia, na Universidade da Virgínia. “Esse gesto expressa tudo o que somos uns para os outros”.

O simples gesto de dar as mãos tem efeitos profundos em nosso estado emocional. Foto: Hermes Bezerra/Adobe Stock

Experimentos de mãos dadas

Coan e sua equipe realizaram vários experimentos sobre os efeitos de dar as mãos. O primeiro recrutou 16 mulheres casadas que foram submetidas a uma ressonância magnética cerebral e confrontadas com a ameaça de um choque elétrico. As imagens cerebrais mostraram que o estresse causado pelo choque diminuía quando essas mulheres seguravam a mão de um desconhecido.

Mas o efeito era ainda mais pronunciado quando elas seguravam a mão dos companheiros. Notavelmente, a qualidade do relacionamento também tinha um peso importante. O benefício de dar as mãos foi mais forte entre as mulheres com as pontuações mais altas nos testes de qualidade conjugal. Estudos posteriores mostraram redução do estresse em outros tipos de relacionamento, como entre pessoas que só namoravam ou eram apenas amigas.

De acordo com Coan, as descobertas sugerem que dar as mãos realmente ajuda o cérebro a aliviar o trabalho de enfrentar o estresse. Quando você segura a mão de alguém que ama em um momento difícil, é como se estivesse compartilhando o fardo com essa pessoa.

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Por que as pessoas dão as mãos?

Durante os experimentos, Coan e sua equipe se depararam com uma descoberta estranha. Muitos pesquisadores da área haviam estabelecido que a regulação emocional era controlada pelo córtex pré-frontal. É a parte do cérebro que nos ajuda a controlar os instintos e a enxergar as coisas com racionalidade – dizendo: “Relaxe, é só um filme!” quando você está assistindo a um filme de terror, explicou Coan.

Coan levantou a hipótese de que segurar a mão de alguém próximo causaria um aumento na atividade do córtex pré-frontal à medida que os participantes relaxassem e se sentissem mais seguros. Com mais atividade no córtex pré-frontal, pensava ele, ocorreria menos atividade emocional – como as relacionadas ao medo ou à ansiedade – em outras partes do cérebro.

Mas não foi isso que aconteceu.

Quando os casais se davam as mãos, Coan observava uma diminuição em todas as regiões emocionais do cérebro, como ele esperava. Mas, em seguidos experimentos, não houve aumento associado na atividade do córtex pré-frontal – em vez disso, houve uma diminuição.

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O que estava acontecendo?

No começo, Coan não conseguia explicar qual parte do cérebro era responsável pelo alívio do estresse dos participantes quando estavam de mãos dadas. Era como se as pessoas estivessem pegando salgadinhos na máquina de venda automática sem pagar nada.

Com o tempo, ele chegou a uma nova conclusão: e se ele estivesse interpretando a linha de base e o estado experimental ao contrário? Talvez o cérebro não estivesse percebendo que dar as mãos era algo novo, algo que estivesse mudando a linha de base, a qual seria estar sozinho. E se nossa linha de base neuropsicológica fosse nos sentirmos conectados a alguém? Talvez o se sentir sozinho fosse sempre o desvio – um desvio que exigiria a ativação metabolicamente dispendiosa do nosso córtex pré-frontal para lidar com a situação.

“Para o cérebro humano, o mundo apresenta uma série de problemas a resolver”, disse Coan. “E acontece que ficar sozinho é um problema”.

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Ele chamou esse fenômeno de teoria da linha de base social: é a ideia de que o cérebro humano deseja relacionamentos e interdependência porque, sem eles, os problemas do mundo ficam gigantescos e exigem muito mais esforço fisiológico e psicológico. Quando sabemos que não estamos sozinhos – quando estamos de mãos dadas – é como se pudéssemos ter acesso a salgadinhos grátis, sem máquina de venda automática.

As complexidades da mão humana

As mãos são uma parte fundamental de como exploramos o mundo desde o momento em que nascemos – e por boas razões. Os bebês recém-nascidos são míopes (não conseguem ver além de alguns centímetros do rosto) e também não conseguem processar cores. Mas nossas mãos – mesmo antes de desenvolvermos qualquer habilidade motora – conseguem processar informações sensoriais quando tocam os objetos ao nosso redor.

As palmas das mãos representam uma pequena fração da área total da superfície da pele, mas retêm cerca de 15% das fibras nervosas táteis. Devido a essa densidade nervosa incrivelmente alta, nossas mãos conseguem discernir entre a miríade de estímulos que o mundo oferece: um bolinho quente, gotas de chuva fria, o pelo macio de um cachorrinho.

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Além disso, as palmas das mãos e especialmente as pontas dos dedos têm terminações nervosas especiais chamadas corpúsculos de Meissner. Eles dão às palmas das mãos o poder de reagir ao toque mais sutil, mesmo a uma profundidade inferior a 10 micrômetros – aproximadamente a largura de um fio de teia de aranha. Os corpúsculos de Meissner permitem que nossas mãos processem o Braille e são a razão pela qual sentimos imediatamente se algo está escorregando entre os dedos.

Também usamos o toque para comunicar sentimentos. Um estudo de 2009 observou 124 duplas de desconhecidos: uma das pessoas ficava vendada e a outra tinha de transmitir uma emoção à primeira só por meio do toque. Os participantes conseguiram reconhecer – sem nunca ouvir nem ver a outra pessoa – emoções como gratidão, nojo, felicidade e medo. Em um estudo recente da Universidade de Londres, os participantes conseguiram identificar corretamente a emoção de outra pessoa apenas olhando para as mãos dela, sem ver seu rosto.

O que quero que meus pacientes saibam

Durante a pandemia, quando eu cuidava de pacientes hospitalizados, numa época em que até mesmo um aperto de mão era inconcebível, muitas pessoas me confessaram que sentiam um vazio profundo devido à falta de contato físico com outros humanos.

Certa manhã, segurei a mão de uma senhora na sala de emergência enquanto meu residente se preparava para fazer um exame, e ela disse: “Acho que você é a primeira pessoa em quem toco em meses”. Ainda penso nesse encontro e nessa fome visceral de contato que muitas pessoas só descobriram que existia quando se viram privadas do toque humano.

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Não tenha medo de estender a mão a alguém que está passando por dificuldades – fomos feitos para isso, claramente. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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