Quando se fala em suplementos alimentares, com destaque para o whey protein, é muito comum pensarmos em uma sala de musculação e em indivíduos com bíceps e tríceps exuberantes. Ocorre que esse produto pode ser um grande aliado para quem quer envelhecer bem. É que, ao auxiliar no aumento de massa muscular, o suplemento desempenha um papel importante para quem está chegando à casa dos 60 – e deseja viver muito mais, com força e autonomia. Mas, atenção: vale buscar um profissional de saúde para indicar a melhor forma de uso, que pode variar de acordo com cada pessoa.
O que é o whey protein
Trata-se da proteína obtida a partir do soro do leite, que é de rápida absorção e digestão. Mas não só: ela oferece todos os aminoácidos essenciais de que o corpo precisa e não é capaz de produzir sozinho. Um destaque vai para a leucina, que desempenha papel crucial no crescimento e na reparação dos músculos. Além disso, o whey é fonte de cálcio e vitaminas do complexo B.
De acordo com a nutricionista Liziane da Rosa Camargo, mestre em gerontologia biomédica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), é muito fácil preparar e consumir o whey – outro atrativo se pensarmos em envelhecimento. “Com o passar do tempo, o consumo de alimentos proteicos acaba diminuindo bastante, seja por causa da dificuldade de mastigar, da perda de apetite, de problemas de saúde ou até do uso de medicamentos. Dessa forma, o whey se torna um ótimo componente para suprir as necessidades proteicas dos idosos”, justifica Liziane.
A perda de massa muscular, que começa a partir dos 30, 40 anos, é um processo natural. Mas essa condição se agrava mesmo mais para frente, até chegar a uma condição chamada sarcopenia.
O que é a sarcopenia?
A sarcopenia é marcada pelo processo de perda de massa e função muscular. É uma condição comum, que afeta até 20% das pessoas com 65 anos e mais de 50% daqueles com mais de 80 anos.
Segundo a nutricionista Myrian Najas, professora de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), existem dois tipos de sarcopenia. “A primeira diz respeito à perda de massa muscular, uma condição fisiológica pela qual todos nós passaremos, e ela vai piorando conforme envelhecemos. Existe ainda a sarcopenia secundária, que normalmente acontece em decorrência de alguma doença ou de algum fator estressor que causa a perda de músculo, como uma queda ou cirurgia”, descreve.
Não tratar a sarcopenia pode prejudicar significativamente a qualidade de vida do idoso. Afinal, atividades cotidianas, como subir escadas, carregar objetos e até se locomover são mais difíceis de realizar.
“A sarcopenia pode aumentar o risco de quedas, fraturas e outras condições médicas, como doenças cardíacas, diabetes e demência. As causas não são totalmente compreendidas, mas acredita-se que tenha a ver com uma combinação de fatores, incluindo o próprio envelhecimento natural, a inatividade física, problemas de saúde crônicos e uso de medicamentos”, ensina Liziane.
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O papel do whey contra a sarcopenia
O whey é um componente relevante nesse cenário, já que ele facilita a ingestão de proteínas – nutrientes essenciais para a formação e manutenção dos músculos.
“Ele tem ainda propriedades anti-inflamatórias, o que é importante, considerando que a inflamação crônica também está associada à perda muscular”, acrescenta Liziane. “Mas, apesar de o suplemento ser uma ferramenta valiosa, a prevenção da sarcopenia também está associada a outros fatores, como a prática regular de exercícios físicos, especialmente no treinamento de resistência”.
A nutricionista Cynthya Lima, mestre em nutrição humana pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), ressalta a importância da combinação do suplemento com uma rotina de treino. “A associação do whey protein com exercícios físicos é o cenário perfeito para que a gente consiga proporcionar a melhora do desempenho muscular, facilitando a síntese proteica, que é a tão sonhada hipertrofia. O paciente ganha força, autonomia e disposição, tudo aquilo que ele perde com o passar do tempo e com a diminuição da ingestão de proteína”.
Para pessoas que já têm sarcopenia, o whey também pode ser benéfico, pois auxilia na construção e no crescimento de massa muscular, preservando a fibra já existente – mas, de novo, é fundamental incluir uma atividade física na rotina. Se o idoso não puder se exercitar por recomendação médica, o suplemento ainda tem sua validade, ajudando a cumprir a meta diária de ingestão proteica.
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Cuidados e orientação especializada
Apesar de todas as vantagens, os especialistas recomendam cautela na hora colocar o whey na rotina. O ideal é contar com o apoio de um profissional da saúde.
Atualmente, há várias marcas no mercado – e de todos os tipos. Tem o whey concentrado, o isolado e o hidrolisado, com variações na concentração de proteínas e presença de outros compostos. Dá para encontrar ainda versões com ou sem sabor, por exemplo. Assim, fica mais fácil utilizar o produto em receitas, como panquecas, bolos, muffins, mousses, sorvetes e até em iogurte com frutas, sucos e misturado ao leite. Um especialista pode auxiliar na escolha certa de acordo com o perfil de cada pessoa.
Além disso, o profissional ensina como é o consumo adequado. “É preciso ter cuidado com o uso indiscriminado. O excesso de proteínas também está envolvido com algumas desordens, como doenças renais. Nem todos os idosos podem fazer uso dessa suplementação. Então, é importante a avaliação médica e nutricional ampla e cuidadosa desse paciente, para entender a dose adequada e o tempo correto de uso”, alerta a geriatra Ronny Roseli Domingos, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Liziane reforça que o whey protein não é para todo mundo. A principal contraindicação diz respeito a idosos com problemas renais, já que o suplemento pode contribuir para uma sobrecarga nos rins.
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