Circula nas redes sociais desde sábado, 16, um vídeo em que uma modelo afirma não ter chance de engravidar após a relação sexual porque urinou logo após o ato. “Fiquem tranquilos, porque eu fiz xixi logo em seguida e, quando você faz isso, você não engravida. Então, não tem essa possibilidade”, diz ela no vídeo, que já acumula quase 2 milhões de visualizações no X (antigo Twitter). A declaração gerou indignação e também levantou dúvidas sobre a veracidade da afirmação.

De acordo com o ginecologista e coordenador do Centro Especializado em Endometriose do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Rogério Felizi, não existe nenhuma base científica que comprove que urinar após o sexo possa evitar a gravidez. Essa ideia vem de uma noção equivocada de que a urina poderia “empurrar” os espermatozoides para fora do corpo. Porém, o sistema urinário e o reprodutivo são separados — ou seja, são vias independentes que não se influenciam diretamente. “Após a ejaculação, o esperma é depositado na vagina, e os espermatozoides já estão aptos a seguir para o útero, independentemente de a pessoa urinar ou não”, destaca o médico.
O ginecologista e obstetra Marcelo Nunes, coordenador médico da Maternidade São Luiz Star, da Rede D’Or, explica que o sistema urinário é formado por rins, ureteres, bexiga e uretra, sendo que a urina é transportada dos rins até a bexiga por meio dos ureteres e, quando eliminada, sai pelo canal da uretra. Já o sistema reprodutor feminino — conjunto de órgãos responsáveis pela reprodução e pelo ciclo menstrual — é composto por útero, trompas, ovários e vagina. “Ou seja, não há nenhuma base anatômica nem fisiológica”, ressalta Nunes.
Além da recomendação não ser eficaz, espalhar esse tipo de desinformação pode levar muita gente a achar que está protegida e, assim, abrir mão de métodos contraceptivos realmente eficazes. O resultado é que, além de aumentar o risco de uma gravidez não planejada, as pessoas envolvidas no ato sexual — sejam homens ou mulheres — ficam expostas a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Quais são os principais métodos contraceptivos?
Felizi destaca que, hoje em dia, existem diversos métodos eficazes que ajudam a prevenir a gravidez. Eles variam quanto ao modo de ação, ao tempo de duração e à facilidade de uso, e a escolha do tipo mais adequado depende de fatores como saúde geral, idade, histórico médico e planejamento familiar.
O preservativo, tanto masculino quanto feminino, é um dos métodos mais conhecidos. Ele age como uma barreira física, impedindo que o esperma entre na vagina. Além de ser acessível, é também o único que oferece proteção contra ISTs.
Entre os métodos hormonais, estão a pílula anticoncepcional, o implante subcutâneo, a injeção e o anel vaginal. Todos contêm hormônios que impedem a ovulação e dificultam a passagem dos espermatozoides pelo muco cervical. Quando utilizados corretamente, apresentam eficácia próxima de 99%.
O dispositivo intrauterino (DIU) é outra opção segura. Ele pode ser de cobre, que tem efeito espermicida, ou hormonal, liberando progesterona. É um método de longa duração, que pode permanecer no útero por vários anos, dependendo do tipo, e precisa ser inserido por um profissional de saúde.
Também há os métodos permanentes, como a laqueadura tubária, para mulheres, e a vasectomia, para homens. São procedimentos cirúrgicos que oferecem eficácia muito alta, mas, por serem irreversíveis, são indicados apenas para quem tem certeza de que não deseja mais ter filhos.
Em situações de emergência, existe a pílula do dia seguinte, que deve ser utilizada pontualmente, após uma relação desprotegida. Ela atua principalmente atrasando ou inibindo a ovulação, e sua eficácia é maior quanto antes for tomada, preferencialmente nas primeiras 24 horas após o ato sexual.
“É essencial o uso da camisinha em todas as relações sexuais. Mesmo que se opte por métodos contraceptivos como o DIU, a camisinha ainda se faz necessária. Ela é a única forma de proteção contra ISTs e também proporciona uma camada adicional de segurança contra a gravidez”, enfatiza Felizi.