Basta João Amorim ficar em silêncio por alguns segundos para que o som agudo de um apito comece a ecoar. O músico de 38 anos é um dos 28 milhões de brasileiros que sofrem com zumbido no ouvido, de acordo com estimativas do Ministério da Saúde. “Se eu tento abafar o barulho, ele aumenta”. Definido como uma ilusão sonora produzida na parte interna do ouvido, o zumbido não tem tratamento específico, já que há inúmeras possíveis causas por trás do problema. Mas, independentemente da origem, a laserterapia pode ser uma aliada no combate ao desconforto.
Pelo menos é o que acaba de revelar um estudo realizado pelo Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Tyndall National Institut, na Irlanda. “Muitos pacientes tiveram uma boa melhora e, alguns, até a remissão total dos zumbidos”, revela o pesquisador Vitor Hugo Panhóca, um dos autores da investigação.
Durante oito sessões, Panhóca e os colegas analisaram a eficácia de algumas modalidades de tratamento para pacientes que sofrem com zumbido idiopático, ou seja, sem causa aparente. Divididos em 10 subgrupos, os 100 voluntários, homens e mulheres entre 18 e 65 anos, utilizaram os seguintes métodos: fitoterápicos, medicamentos, laser combinado com acupuntura e laser de baixa intensidade (sozinho ou com vacuoterapia).
Foi observado, então, que, ao aumentar a circulação sanguínea, a laserterapia proporcionou um efeito anti-inflamatório e de relaxamento muscular na região. “Existe um disco que liga o ouvido interno aos ossos dos ouvidos, e o relaxamento desse ligamento traz um efeito positivo para os pacientes que apresentam o zumbido, sobretudo quando ele está relacionado a disfunções temporomandibulares”, pontua Panhóca.
Entre os motivos mais associados ao surgimento do zumbido, o bruxismo está entre os mais comuns. Trata-se do movimento de ranger os dentes durante o sono. Segundo o pesquisador, a laserterapia é reconhecida na área de saúde como um método eficaz, e existem aparelhos de laser já aprovados pela a Anvisa.
Cabe destacar ainda que o uso de laser não tem contraindicação, despontando como uma esperança para todo mundo que sofre com o zumbido, como o músico João. Exposto frequentemente à música alta por causa do seu trabalho, ele convive com esse barulho todos os dias. “Em alguns momentos, parece que meu ouvido apita mais alto, principalmente se estiver tapado. Quando escuto sons agudos, ele dói, parece até que estala”, comenta.
Entendendo o zumbido
O zumbido é a percepção de um som que não tem uma fonte. A sensação é comumente descrita como barulho que só se escuta dentro da cabeça do paciente, e que pode ser percebido em uma ou ambas as orelhas. Descrições qualitativas se referem ao zumbido como sons de toque tonal, assobio, palpitações, rugido ou barulho semelhante ao de uma cigarra.
Existem dois tipos de zumbidos cientificamente classificados de onde derivam as demais variações: o objetivo e o subjetivo. O objetivo tem uma manifestação mais rara, equivalente a apenas 5% dos casos, e decorre de sons fisiológicos, quando o paciente escuta o próprio corpo. Nesse caso, eles podem ser provocados por ruídos musculares, circulatórios e cardíacos. Já o subjetivo, por ser um ruído imensurável, tem difícil diagnóstico, e as causas variam bastante.
“Há diversas possibilidades de origem, como presença de cera na orelha externa, malformações vasculares, contrações musculares involuntárias, alterações auditivas, otites crônicas, efeitos colaterais de medicamentos, além de doenças cardiovasculares, metabólicas ou neurológicas”, lista Pablo Pereira, otorrinolaringologista e cirurgião de cabeça e pescoço.
Quando não é encontrada qualquer relação do tipo, trata-se do zumbido idiopático que, como comentamos, não tem causa definida. Além de barulho, o indivíduo pode sentir dores pontuais e ter prejuízos no sono, na saúde mental e até em suas relações sociais no dia a dia.
Para Jean Trindade, amapaense que convive há três anos com o zumbido, o principal receio é perder definitivamente a audição do ouvido direito. Sofrendo de um quadro progressivo, o amapaense conta com o acompanhamento de otorrino e psiquiatra, além de investir em atividade física. “Se eu estiver de fone, já não ouço por completo canções antigas que não foram remasterizadas, porque há perda de qualidade. Agora, tento memorizar o sons das músicas”, diz.
Os depoimentos em áudio são, respectivamente, de João Amorim, Jean Trindade, Thalita Benevides e Dirceu Melo.
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