PARIS - A pouco mais de seis meses do início da 21ª Conferência do Clima (COP 21) das Nações Unidas, a reunião de Paris que precisa chegar a um substituto para o Protocolo de Kyoto, apenas 37 países apresentaram suas "contribuições nacionais" para reduzir emissões de gases de efeito estufa e, com isso, combater o aquecimento global. A advertência para o risco de fracasso foi lançada nesta terça-feira, 19, pelo presidente da França, François Hollande, em encontro de negociadores em Berlim.
A declaração foi feita durante a sexta edição do Diálogo de Petersberg para o Clima, uma reunião informal de 35 ministros em busca de consensos para um acordo na COP 21, que será realizada em Paris entre 30 de novembro e 11 de dezembro.
Nesta terça, os governos da França e da Alemanha tentaram mobilizar a opinião pública internacional dando sequência a uma série de eventos especiais iniciada na segunda-feira, quando o prêmio Nobel da Paz Al Gore esteve na capital francesa. Nesta quarta, acontece na sede da Unesco, em Paris, uma conferência sobre os interesses econômicos envolvidos na luta contra o aquecimento global.
Mas, apesar da mobilização, os esforços até aqui têm se mostrado insuficientes, segundo Hollande. "Nós temos até aqui as contribuições de apenas 37 países", alertou o presidente francês, exortando os negociadores nacionais a apresentarem os documentos, que eram esperados até 31 de março pelos organizadores da conferência - o prazo limite é 30 de outubro.
Segundo Hollande, desses documentos depende o rumo das negociações e o objetivo de limitar o aumento da temperatura média da Terra em 2ºC em relação à era pré-industrial. "Tudo deve ser preparado antes do evento de Paris", advertiu, lembrando a importância dos objetivos e do engajamento das nações. Hollande e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, exortaram em seus discursos os negociadores internacionais a buscarem um acordo que seja "ambicioso, global e obrigatório" na Conferência do Clima.
Brasil. Entre os países que já apresentaram seus compromissos voluntários de redução das emissões estão os membros da União Europeia, os Estados Unidos - que propõem reduzir até 2025 suas emissões em 26% em relação a 2005 - e emergentes como a Rússia e o México. Já o documento do Brasil continua a ser esperado com ansiedade em Paris. "Estamos em um período muito importante, em que cada país apresenta sua proposta nacional. Nós continuamos esperando com grande interesse pela proposta brasileira", revelou uma diplomata envolvida nas negociações em uma reunião com jornalistas realizada em Paris há um mês.
Além das metas e dos compromissos nacionais, duas grandes questões espinhosas ainda seguem em aberto nas discussões para a COP 21: o financiamento, ou quem vai arcar com o maior custo do combate às mudanças climáticas, e a amplitude do engajamento dos países emergentes, como o Brasil. "Essa questão não está resolvida. É uma questão que ainda gera conflito maior nas negociações", confirmou ao Estado a negociadora.
"O princípio da responsabilidade comum, mas diferenciada, não será colocado em questão, porque foi reafirmado na COP 20, no Peru. Mas a classificação dos países (como desenvolvidos, emergentes ou em desenvolvimento) está em questão", disse a diplomata, deixando claro que a posição do Brasil nas negociações pode ser discutida. "Não se pode ignorar que o mundo mudou nos últimos 30 anos. Se os grandes países emergentes não se questionarem sobre suas posições, eu ficaria surpresa."
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