Como se forma uma onda de calor? Especialistas explicam

Fenômeno tem se tornado cada vez mais frequente por conta das mudanças climáticas; parte do Brasil vai enfrenta alta de temperaturas até a terça-feira, 18

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Foto do author Giovanna Castro
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O Brasil enfrenta uma nova onda de calor, que teve início nessa quarta-feira, 12, elevando os termômetros, principalmente, em áreas do Estado do Rio de Janeiro, incluindo a região metropolitana da capital, no noroeste de Minas Gerais, no oeste baiano, no Vale do São Francisco, além do se sertão entre Bahia, Pernambuco e Piauí.

Conforme a empresa de meteorologia Climatempo, a temperatura nestes locais pode chegar aos 40ºC e a previsão é de que o fenômeno se estenda até terça-feira, 18. O Estadão perguntou a especialistas como exatamente as ondas de calor se formam e por que estão sendo cada vez mais frequente no País e no mundo.

O que caracteriza uma onda de calor?

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) define a onda de calor como cinco ou mais dias consecutivos com temperatura máxima diária que ultrapassa a temperatura máxima média mensal em 5°C ou mais.

Formação

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Conforme especialistas em climatologia, as ondas de calor têm como precursor um sistema de alta pressão atmosférica, que inibe a formação de nuvens e gera uma espécie de “bloqueio” temporário contra a entrada de massas de ar mais frias.

“Há movimento descendente da massa de ar, o que significa que se traz ar seco da atmosfera superior para baixo”, afirma Alexandre Costa, cientista do clima e professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Já as massas de ar frio transitam horizontalmente na atmosfera.

É por esse bloqueio contra a entrada de ar frio e pela inibição de nuvens que esse tipo de sistema costuma ser persistente, prolongando as ondas de calor, conforme Costa. “Ele se retroalimenta”, diz.

Renata Libonati, professora de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz ainda que os locais sob essa condição atmosférica tendem a refletir mais radiação solar, o que contribui ainda mais para o aumento da temperatura.

Áreas verdes, como o Parque Augusta (no centro de São Paulo), viram refúgio de paulistanos na semana de calorão Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Retenção de calor

O tipo de superfície terrestre, o relevo e a geolocalização impactam diretamente na retenção e no acúmulo de calor. Quanto menos retentor de calor for o material do solo e mais suscetível à passagem de frentes frias for a região, mais difícil se torna a formação de onda de calor. Ou seja, é mais fácil a dissipação do calor.

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“Se há regiões mais arborizadas, com maior umidade do solo, a superfície vai contribuir menos para aumentar ainda mais essa temperatura. Mas se há áreas urbanizadas, que estão em seca, além da radiação do solo, haverá o processo em que a própria superfície do solo contribui para aumentar essa onda de calor”, explica Renata.

Como a onda de calor se dissipa?

O sistema de bloqueio pela alta pressão não consegue se manter infinitamente, conforme Costa, porque outras perturbações atmosféricas terminam forçando o seu deslocamento ou rompem com a “bolha” de ar seco.

“Se tiver o tempo muito seco: ou terá resfriamento por emissão de infravermelho (presente da radiação solar) - noites secas de céu claro terminam sendo frias por conta disso -, ou tem, por conta do aquecimento diurno, a produção de convecção. E aí eventualmente termina formando nuvens”, explica o professor.

A evaporação na superfície terrestre por conta do calor acaba causando chuva. E, com precipitação, tende a haver a dissipação do fenômeno e o fim da onda de calor.

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Fenômeno cada vez mais frequente

As ondas de calor são um fenômeno climático natural, mas eles têm aumentado de frequência, intensidade e duração por conta do aquecimento global.

“Antes ocorria só seca, sem onda de calor. Agora não. Percebe-se que esses eventos extremos de secas e ondas de calor estão começando a ocorrer juntos, simultaneamente - é chamamos de eventos compostos. Obviamente, os impactos desses eventos são muito maiores do que quando ocorriam isoladamente”, diz Renata.

A professora da UFRJ faz uma analogia com o imposto de renda para explicar as consequências do aquecimento global.

A pessoa tem determinada renda e paga anualmente uma porcentagem de impostos sobre ela. Se o governo decide aumentar impostos sobre renda, a cidadão se vê em um dilema: aumentar a renda para cobrir o valor ou baixar o seu padrão de vida.

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As duas alternativas exigem algum esforço: trabalhar mais para ganhar mais ou cortar gastos. Se for excluída a despesa com uma diarista, por exemplo, a solução pode ser você mesmo fazer a faxina.

“É exatamente isso que o sistema climático faz. Quando a ação humana faz a temperatura média do planeta subir, o sistema climático sai do equilibro e precisa trabalhar mais e mais rápido para voltar ao equilíbrio. Então os eventos extremos passam a correr mais frequentemente”, diz Renata.

Há regiões mais propensas a ondas de calor?

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De acordo com Costa, apesar de o problema do aumento das ondas de calor ser global, há regiões mais afetadas - e o Brasil está entre elas. Regiões tradicionalmente mais quentes de latitudes médias, que têm dias de verão particularmente longos, tendem a ser mais atingidas por esse tipo de fenômeno.

Há, ainda, o impacto direto da ação humana regionalmente. “Com o aumento das queimadas e a perda de umidade na Amazônia, há redução das correntes de umidade que vão para as regiões centrais e Sudeste do Brasil, tornando elas mais propensas a ondas de calor”, continua o professor da UECE.

Como se proteger?

As ondas de calor impactam diretamente a saúde humana e de animais. A recomendação do Ministério da Saúde é redobrar os cuidados com hidratação, bebendo mais água, consumir alimentos leves e evitar exposição ao sol nos períodos mais quentes do dia, geralmente à tarde.

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Correções

Na primeira versão publicada, a fala da especialista Renata Libonati dizia que o aquecimento global teria como objetivo manter o equilíbrio do sistema climático. No entanto, o aumento dos fenômenos como as ondas de calor é o que busca manter o equilíbrio do sistema, em meio ao aquecimento global. O texto foi corrigido.

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