RIO - Um estudo do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), apresentado nesta quinta-feira, 20, em audiência na Câmara dos Deputados, em Brasília, aponta o navio Voyager I, de bandeira das Ilhas Marshall, como o principal suspeito pelo derramamento de óleo que atinge o Nordeste e o Espírito Santo. A Marinha diz que essa embarcação não está entre as investigadas.
Com base em diversas análises de imagens de satélite e dados de inteligência da Marine Traffic, o coordenador do Lapis, Humberto Barbosa, refutou a principal hipótese defendida pela Marinha: a de que o desastre teria sido provocado pelo navio grego Bouboulina. “Este (Voyager I) é o navio que a gente aponta como suspeito”, afirmou o pesquisador em apresentação a parlamentares da Comissão Externa sobre o derramamento do óleo.
“Não estou dizendo que ele é o culpado. O Lapis não tem ferramenta criminal para dizer que o Voyager I é o culpado. Porém, baseado em evidências de satélite e informações da Marine Traffic, chegamos a essa conclusão”, afirmou.
O Lapis concluiu que o Voyager I passou pela costa brasileira em julho com o transponder desligado, ou seja, como um navio fantasma. O cruzamento das informações de inteligência com as manchas de óleo captadas por satélite nos dias 19 e 24 de julho apontam para essa conclusão. “Estudamos as trajetórias de 111 navios cargueiros e nenhuma delas era compatível com as datas dos vazamentos, apenas a do Voyager.”
A Marinha informou que o Voyager I não está entre as cinco embarcações apontadas como principais suspeitas pelo derramamento de óleo (Maran Apollo, Maran Libra, Minerva Alexandra, Cap. Pembroke e Bouboulina). Ainda segundo a Marinha, as imagens apresentadas pelo Lapis não seriam de óleo, mas de algas.
Embarcação saiu da Ásia
Segundo as informações levantadas pelo Lapis, o navio costuma fazer o trajeto de um país asiático até a Venezuela, passando pela África do Sul. Normalmente, a embarcação navega com o transponder ligado, indicando sua localização ao longo do percurso. No entanto, entre 1.º de julho e 13 de agosto, a embarcação navegou com o transponder desligado, violando o direito marítimo internacional.
O acompanhamento via satélite mostra que o navio partiu de um país asiático em 1.º de julho. Quando passou pelo Oceano Atlântico, a embarcação seguiu um trajeto incomum e fez uma manobra que indicaria uma mudança de trajetória, justamente na altura do litoral do Nordeste. “O percurso mostra alteração na direção do navio, indicando comportamento suspeito ou grande problema mecânico”, disse Barbosa. Desde 30 de agosto, o óleo já foi registrado em 720 pontos.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.