Em 1968, Paul Ehrlich, biólogo da universidade de Stanford, nos Estados Unidos, publicou com grande celeuma seu livro 'The Population Bomb', onde defende que os países adotem um controle populacional rígido, de modo a evitar uma escassez de alimentos e outros recursos naturais. Na época, ele próprio foi bombardeado por gente da esquerda e da direita. Os detratores da esquerda diziam que ele tinha inspirações nazistas em defender o controle populacional. Os da direita diziam que suas idéias eram uma afronta aos direitos individuais. Ehrlich tinha 36 anos quando publicou o livro.
Ele errou ao prever que, nas décadas de 1970 e 1980, milhões de pessoas morreriam de fome por causa da escassez de comida. Mas hoje, aos 76 anos, Ehrlich volta a ser comentado. Suas idéias caíram no gosto dos estudiosos e ativistas da sustentabilidade. Ele manteve sua idéia original - de que o crescimento sem limites da população e o hiperconsumo não são compatíveis com a finitude dos recursos naturais.
E mais: junto com sua esposa, Anne Ehrlich, o cientista criou uma fórmula matemática para calcular a pressão dos humanos sobre a Terra: I=PAT. Na equação, I é o impacto ambiental, medido pela multiplicação de P (o tamanho da população de uma área), A (média do consumo individual, medido pelo PIB per capita) e T (tecnologias empregadas e seu impacto em termos de emissões de gases de efeito estufa).
O debate neomalthusiano voltou a ganhar espaço face a questões como segurança alimentar, pobreza, suprimento de energia e mudança climática. A população do mundo atualmente está em 6,8 bilhões de pessoas - quatro vezes o tamanho da população há um século atrás - e, embora as taxas médias de fecundidade estejam em queda (2,8 filhos por mulher nas nações mais pobres e 1,6 nas mais ricas), anualmente em torno de 75 milhões de habitantes são acrescentados ao planeta.
Há quem diga que o problema não é a quantidade de pessoas no planeta, e sim seu padrão de consumo e também o desperdício de recursos como água e comida. Nesse time, está a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Em seu relatório "Perspectivas do Meio Ambiente para 2030", o grupo prevê que só o "stress hídrico" atingirá 3 bilhões de pessoas. "A população não representa um problema em si. As pressões exercidas sobre os recursos naturais não vem do número de habitantes, mas de seus hábitos de consumo." Nunca é demais lembrar que a OCDE reúne os países mais ricos do mundo, justamente aqueles que tem o padrão de consumo mais elevado.
E os leitores, o que pensam sobre o assunto?
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