Ártico passa a emitir mais carbono do que consome; entenda por que isso é preocupante

Estudo da Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos mostra que, por conta do aquecimento global, a tundra ártica está liberando os gases de efeito estufa que estavam armazenados sob o seu solo congelado

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Por Redação

A tundra ártica está liberando os gases de efeito estufa que tem armazenados sob seu solo congelado há milênios devido aos incêndios que estão se tornando cada vez mais frequentes nesta área, disse nesta terça-feira, 10, a Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).

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“Nossas observações mostram que a tundra ártica, que está experimentando um aquecimento e um aumento nos incêndios florestais, agora está emitindo mais carbono do que armazena, o que vai piorar o impacto da mudança climática”, declarou o administrador da NOAA, Rick Spinrad.

Esta mudança é detalhada no Relatório Ártico 2024 da NOAA, que revelou que as temperaturas anuais do ar na superfície do Ártico este ano foram as segundas mais altas registradas desde 1900.

Vegetação no círculo polar ártico perto de Kiruna, na Suécia; aquecimento global estimula o crescimento de plantas. Foto: Olivier Morin/AFP - 6/03/2024

O aquecimento global tem um efeito duplo no Ártico. Enquanto estimula a produtividade e o crescimento das plantas, o que retira dióxido de carbono da atmosfera, também provoca um aumento da temperatura do ar na superfície, causando o derretimento do gelo permanente.

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Quando esta camada de gelo subterrânea derrete, o carbono preso abaixo é decomposto por microorganismos e liberado na atmosfera em forma de dióxido de carbono e metano, dois potentes gases de efeito estufa.

A mudança climática provocada pelo ser humano também está intensificando os incêndios florestais em altas latitudes, o que não apenas queima a vegetação e a matéria orgânica do solo, liberando carbono na atmosfera, mas também elimina as camadas isolantes, acelerando o derretimento do gelo permanente. Segundo o relatório, em 2024 foram registradas no Alasca as segundas temperaturas mais elevadas nessa camada de gelo subterrânea.

Desde 2003, as emissões de incêndios florestais circumpolares têm uma média de 207 milhões de toneladas de carbono por ano, segundo a NOAA. Ao mesmo tempo, os ecossistemas terrestres do Ártico continuam sendo uma fonte constante de metano.

O ano de 2023 foi o ano com mais incêndios na região, já que “os incêndios florestais canadenses queimaram mais do que o dobro de qualquer outro ano registrado no Canadá”, como declarou Brendan Rogers, coautor do relatório, durante uma coletiva de imprensa.

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Os incêndios emitiram quase 400 milhões de toneladas de carbono, mais de duas vezes e meia as emissões de todos os outros setores do Canadá juntos. Ao mesmo tempo, 2024 foi o segundo ano com mais emissões de incêndios florestais dentro do Círculo Polar Ártico.

Presságio alarmante

Quando perguntado se a mudança do Ártico de sumidouro de carbono para fonte poderia ser permanente, Rogers respondeu que ainda é uma questão em aberto. Embora as florestas boreais localizadas mais ao sul ainda funcionem como sumidouros de carbono, as regiões do norte são motivo de maior preocupação.

“Não há dúvida de que existe uma variabilidade interanual”, enfatizou. “O que estou informando aqui é a condição média que temos visto em um período de 20 anos”, entre 2001 e 2020.

Em reação à notícia, Brenda Ekwurzel, climatóloga da União dos Cientistas Preocupados com o Clima, disse: “A catástrofe climática que estamos testemunhando no Ártico já está tendo consequências para comunidades ao redor do mundo”.

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Além de mais quente, o Ártico também está se tornando mais úmido, e o verão boreal de 2024 será o mais chuvoso já registrado. Essa tendência acelera a erosão costeira e ameaça as comunidades indígenas que dependem da estabilidade do gelo para suas práticas tradicionais de caça.

O aumento das temperaturas também está afetando a fauna, e o relatório indica que o número de caribus (uma espécie de rena) da tundra diminuiu em 65% nas últimas duas ou três décadas, já que o calor do verão altera seus movimentos e sua sobrevivência, junto com as mudanças nas condições da neve e do gelo no inverno.

Surpreendentemente, no entanto, as populações de focas do Alasca continuam gozando de boa saúde. O relatório não encontrou impactos negativos a longo prazo na condição corporal, idade de maturidade, taxas de gravidez, ou na sobrevivência dos filhotes das quatro espécies de focas de gelo - aneladas, barbudas, manchadas e de fita - que habitam nos mares de Bering, Chukchi e Beaufort. /AFP

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