Aumento de incêndios florestais dá início à nova era da poluição atmosférica; entenda efeitos

Partículas tóxicas presentes na fumaça penetram os pulmões e podem chegar à corrente sanguínea

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Por Redação

O mundo enfrenta uma incomum temporada de incêndios florestais, com regiões próximas e distantes cada vez mais afetadas pela exposição à fumaça. Na Grécia, por exemplo, um incêndio devora as encostas do Monte Parnitha, nos arredores da capital Atenas, e já deixou 20 mortos. Na Espanha, as chamas consumiram quase 15 mil hectares, o equivalente a 7% da ilha de Tenerife, no arquipélago turístico das Ilhas Canárias. Já nos Estados Unidos, os incêndios florestais que destruíram a ilha de Maui, no Havaí, deixaram ao menos 115 pessoas mortas.

No Brasil, por causa do tempo quente e seco, a Defesa Civil de São Paulo emitiu alerta para a possibilidade de incêndios em todo o Estado até o fim da semana devido a uma onda de calor.

Diante do cenário, especialistas de todo o mundo se debruçam sobre os efeitos da poluição do ar provocada por estes fenômenos naturais.

Queimada no setor de clubes sul em Brasília na quarta-feira; temperaturas devem continuar altas na capital federal até sexta-feira Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Partículas tóxicas

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Um dos aspectos que identificam a fumaça dos incêndios florestais é o “material particulado”, toxinas que, dependendo de seu número, podem torná-la visível. Estas partículas de 2,5 mícrons de diâmetro (PM 2,5) são “particularmente perigosas para a saúde humana e são emitidas em quantidades realmente grandes”, disse à agência AFP Rebecca Hornbrook, química do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA, que as identifica a partir de aviões que sobrevoam áreas com este tipo de fumaça.

As PM 2,5 penetram profundamente nos pulmões e podem chegar até mesmo à corrente sanguínea.

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O americano médio já havia sido exposto a 450 microgramas de fumaça por metro cúbico no início de julho, uma medida pior do que o total identificado entre 2006 e 2022, alertou recentemente o economista da Universidade de Stanford Marshall Burke, na rede social X (antigo Twitter), citando cálculos realizados pelo Laboratório de Mudanças Ambientais e Resultados Humanos da instituição de ensino.

Também há preocupação sobre substâncias invisíveis conhecidas como compostos orgânicos voláteis (COV), como o butano. Eles causam irritação nos olhos e na garganta e alguns são conhecidos como cancerígenos.

Bombeiro caminha em meio à fumaça de incêndio florestal perto da cidade de Alexandroupolis, na Grécia; chamas já mataram ao menos 20 pessoas no país Foto: Achilleas Chiras/AP

Efeitos pouco estudados

Com o aumento da compra de automóveis após a Segunda Guerra Mundial, nas décadas seguintes, os cientistas obtiveram informações sobre seu impacto nos seres humanos, desde o início da asma durante a infância até o aumento do risco de infarto e a demência, em estágios posteriores.

Entretanto, este conhecimento não existe no caso da fumaça proveniente de incêndios florestais, explicou Christopher Carlsten, diretor do Laboratório de Exposição à Poluição Atmosférica da Universidade da Colúmbia Britânica.

Com base em dezenas de estudos publicados, “parece haver uma proporção maior de efeitos respiratórios do que cardiovasculares da fumaça em comparação à poluição do trânsito”, disse à agência AFP.

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O laboratório onde Carlsten trabalha iniciou experimentos em humanos com fumaça de lenha para obter mais clareza. De acordo com o especialista, que também é médico, algumas medidas sanitárias podem ser tomadas nestes casos, como corticoides inalatórios, anti-inflamatórios não esteroides e filtros de ar, mas é necessário investigar para saber a melhor forma de utilizá-las.

Incentivos incertos

O aquecimento do planeta também afeta o bem-estar psicológico de diversas formas, explicou à AFP Joshua Wortzel, presidente do comitê da Associação Psiquiátrica Americana que estuda o impacto das mudanças climáticas na saúde mental.

Uma das respostas é a angústia, “raiva, tristeza, ansiedade, face aos desastres naturais que se espera que venham”, acrescentou, enfatizando que estas taxas são muito mais elevadas nos mais jovens.

Para Hornbrook, que mora no Colorado, o que o leste da América do Norte viverá em 2023 é o que a parte ocidental do continente tem vivido há anos, e as perspectivas globais só irão piorar, dado a queima acelerada de combustíveis fósseis.

“É frustrante saber que há anos que soamos o alarme e agora vemos o que temos alertado”, disse, acrescentando, no entanto, que ainda há esperança. “Talvez agora as pessoas comecem a notar e veremos algumas mudanças.” /Com informações da agência AFP

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