Bastidores: Salles passa recado aos militares e tenta delimitar espaço

A estratégia de agir de surpresa e pegar desprevenido o Palácio do Planalto aparentemente deu certo

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Com uma só nota à imprensa, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se colocou nesta sexta-feira no ringue contra os ministros Walter Braga Netto, da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Ao dizer que paralisaria 100% o combate ao desmatamento na Amazônia e Pantanal após bloqueio feito pelo Ministério da Economia a pedido das pastas comandadas por dois militares, Salles quis delimitar o seu território no governo. 

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles Foto: Adriano Machado/Reuters

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A estratégia de agir de surpresa e pegar desprevenido o Palácio do Planalto aparentemente deu certo. Em menos de três horas, o governo já havia recuado, dizendo que não haveria suspensão de verbas. Em um primeiro momento, Salles saiu vitorioso na guerra de recursos, mas expôs a divisão interna no governo na questão ambiental.

O vice-presidente Hamilton Mourão, que coordena o Conselho da Amazônia, reagiu. Disse que o ministro do Meio Ambiente se “precipitou”. Salles retrucou e voltou a confirmar que houve a suspensão das verbas. Em nova nota, o ministério informou que com o desbloqueio as operações contra o desmatamento e queimadas estão mantidas. Na avaliação de outros integrantes do governo, com a atitude “kamikaze”, Salles colocou em risco o seu futuro à frente do Meio Ambiente, principalmente ao enfrentar alguns dos ministros considerados mais fortes no governo. 

Não é de agora que a relação do titular do Meio Ambiente com os militares é conflituosa. Em junho, conforme o Estadão mostrou, o ministro Ricardo Salles se tornou alvo de uma fritura atribuída justamente aos integrantes do governo egressos do Exército. 

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O argumento é que a condução da política ambiental do ministro era um empecilho para fechar acordos comerciais. Um grupo chegou a defender que Salles ficasse de fora das reuniões do Conselho da Amazônia, promovidas por Mourão. A interlocutores, após o rebuliço que causou no governo, Salles disse estar tranquilo tanto sobre a nota divulgada quanto ao seu futuro. O recado a militares foi passado: quem manda no Meio Ambiente é ele.

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