RIO - O ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ricardo Galvão disse nesta quarta-feira, 4, que o presidente Jair Bolsonaro tem uma mentalidade "obscurantista e autoritária". Galvão, dispensado por Bolsonaro em agosto após a divulgação pela imprensa de dados de desmate na Amazônia, foi homenageado nesta quarta na Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Na época da crise com Galvão, Bolsonaro chegou a dizer que cientista era “mentiroso” e que estaria a serviço de ONGs internacionais. O monitoramento do Inpe constatou alta expressiva nos focos de desmatamento na floresta nos últimos meses. A tendência de aumento das queimadas foi confirmada também por dados da Agência Espacial Americana, a Nasa.
Galvão afirmou que as ofensas do presidente não foram um ataque só ao Inpe, mas à toda a ciência brasileira. Por isso, disse, tinham que ser respondidas à altura. “Pensei muito no que ia dizer, nas palavras que ia usar, não reagi por conta da emoção”, revelou. “Eu sabia que seria exonerado, mas tinha de enfrentar o bom combate.”
O seminário Sistemas de Monitoramento de Cobertura e Usos da Terra, sobre o monitoramento do desmate da Amazônia, reuniu alguns dos maiores nomes da ciência brasileira, como o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ildeu Moreira, o presidente da ABC, Luiz Davidovich, e o organizador do evento, o climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas em Amazônia, além do americano Matthew Hansen, que trabalha com dados da Agência Espacial Americana, a Nasa.
“A Amazônia é uma floresta úmida, ela não queima sozinha, é sempre uma ação criminosa”, disse Galvão. “Não estou dizendo que o governo está promovendo ações criminosas, mas existe uma visão capitalista destruidora.”
Para o ex-presidente do Inpe, os ataques à ciência deixaram o governo numa posição vulnerável internacionalmente. “Eles são muito despreparados”, disse Ricardo Galvão se referindo aos integrantes do governo. “Não contavam com o prestígio internacional do Inpe. Agora, todos os olhos do mundo estão voltados para lá.”
O presidente da ABC, Davidovich, elogiou a postura de Galvão e afirmou que já era tempo de alguém por limite nas "fake news" e no "obscurantismo" do governo.
"Gostamos de novas tecnologias, mas elas não são necessárias para o gerenciamento do uso da terra”, afirmou. “Se tivéssemos tecnologia de dez anos atrás, poderíamos combater o desmatamento, que depende, basicamente, de vontade política”, afirmou o cientista americano Matthew Hansen, que trabalha com dados da Nasa.
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