Algumas boas notícias e outras nem tanto: este é o balanço da COP-27, a 27ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada no Egito em novembro. Olhando-se para o copo meio vazio, havia uma expectativa de avanços na organização do mercado global de carbono, depois das definições sobre o tema na COP anterior, mas isso não ocorreu. Houve também um ataque à meta de limitar o aquecimento global a 1,5 grau até o fim do século, defendida pela maioria da comunidade global e mantida ao final do encontro. Um importante avanço foi a criação de um fundo destinado a compensar perdas e danos dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas – iniciativa considerada histórica, pois o tema vinha sendo postergado havia três décadas, sem sequer entrar na pauta de discussões.
“Outro ponto positivo relevante foi a grande participação brasileira, com a segunda maior delegação e a presença maciça das empresas do País”, destacou Rafael Tello, diretor de Sustentabilidade da Ambipar, durante o evento “As consequências reais da Reunião do Clima da ONU”, edição do Diálogos Estadão Think que, no dia 29 de novembro, debateu os resultados da COP-27. Para Tello, a iniciativa privada brasileira tem apresentado um nível de interesse e de engajamento nas metas de sustentabilidade bem acima da média, o que reforça a expectativa de que o País (re)assuma um papel de protagonismo global. “Nossas empresas abraçaram essa temática com muito mais intensidade do que verificamos em outros países com o mesmo nível de desenvolvimento”, destacou o executivo durante o painel, mediado pela jornalista Michelle Trombelli.
Annie Groth, líder de Relações Institucionais da Biofílica Ambipar Environment, lembrou que a empresa atua na conservação dos biomas brasileiros há 15 anos, por meio do mercado voluntário de carbono. “Começamos como uma empresa de conservação da Amazônia e o crédito de carbono surgiu como caminho para financiar os projetos que ajudam a manter a floresta em pé”, ela descreveu. Esse mercado vem crescendo 30% globalmente desde 2017, mas saltos bem mais expressivos são esperados com a maior adoção de metas de neutralização por empresas ao redor do mundo.
Diálogo amplo
O Brasil desponta como um dos líderes do mercado global de carbono, tanto o voluntário quanto o regulado – avanços sobre o tema são aguardados para a próxima COP, programada para novembro de 2023 nos Emirados Árabes Unidos. Ao contrário do que ocorre na maior parte dos países, que dependem de uma reestruturação ampla da matriz energética, aqui a maior fonte de emissões de gases causadores de efeito estufa são o desmatamento, a degradação florestal e as mudanças do uso do solo.
Um cenário de zero desmatamento até 2030 na Mata Atlântica e na Amazônia resultaria em 82% de redução das emissões brasileiras. “Sabemos com clareza onde está o nosso grande desafio e qual é o problema central a ser atacado, mas nem por isso a questão se torna simples. Precisamos de um diálogo amplo e plural para transformar esse problema em um ativo ambiental, econômico e social para o País”, descreveu Tello.
O acordo de perdas e danos estabelecido durante a COP-27 enfatiza um aspecto relevante destacado por Annie Groth: a importância crescente atribuída ao pilar Social, o “S” da sigla ESG, na compreensão que se tem hoje sobre sustentabilidade. “Todos os projetos da Biofílica consideram as pessoas que vivem nessas áreas, pois melhorar as condições de vida dessas pessoas precisa ser um cobenefício-chave da redução das emissões”, ela descreveu.
Multinacional fundada no Brasil em 1995, a Ambipar cresceu rapidamente e já atua nos seis continentes. A iniciativa original se transformou em um sólido grupo, resultado da combinação entre a ampliação orgânica das áreas de negócio e a aquisição de dezenas de empresas que vêm fortalecendo o portfólio de serviços, como é o caso da Biofílica. “Ajudamos nossos clientes a acelerar seus processos e compromissos com sustentabilidade, não só oferecendo ferramentas, mas trabalhando com educação e conscientização para demonstrar o quanto isso é relevante, pois aumenta a capacidade de inovação e de geração de valor, além de reduzir riscos”, acrescentou o diretor de Sustentabilidade da Ambipar.
Sabemos com clareza onde está o nosso grande desafio e qual é o problema central a ser atacado, mas nem por isso a questão se torna simples. Precisamos de um diálogo amplo e plural para transformar esse problema em um ativo ambiental, econômico e social para o País
Rafael Tello, diretor de Sustentabilidade da Ambipar
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