O verão de 2024/2025 pode ser um dos mais quentes da história, caso se confirmem as previsões meteorológicas mais recentes. As mudanças climáticas globais e um La Niña muito fraco ou mesmo inexistente prometem elevar as temperaturas acima da média, turbinar os períodos de secas e provocar chuvas intensas no Brasil. O calor extremo pode ter impactos importantes no dia-a-dia da população e também na agricultura.
Após um ano de desastres climáticos, como a tempestade recorde no Rio Grande do Sul e as queimadas na Amazônia, 2025 segue a tendência do caos no clima, com dificuldades até mesmo para as previsões.
“Por enquanto, a previsão é de que teremos um verão mais quente do que o normal”, diz a meteorologista Danielle Ferreira, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). No balanço final, os números devem mostrar que 2024 superou os recordes de calor do ano anterior.
Verão 2025:
- Temperaturas acima da média: estação é normalmente marcada por dias mais longos, de grande insolação e alta umidade. O calor deve aumentar, sobretudo se o fenômeno La Niña (que ajuda a resfriar o planeta) não se formar
- Ondas de calor frequentes: Períodos mais quentes são comuns nessa estação. Mas as mudanças climáticas em curso tendem a agravar os eventos extremos
- Tempestades intensas: O mesmo ocorre com as chuvas. Embora elas sejam comuns no verão, os eventos tendem a ser mais intensos e mais frequentes
O fenômeno La Niña ocorre quando há resfriamento das águas do Oceano Pacífico, com impacto nos padrões de chuva e temperaturas em várias regiões do Brasil. Diferentemente do El Niño, que se caracteriza pelo aquecimento do Pacífico e faz o calor aumentar, o La Niña tende a manter as temperaturas mais amenas. Mas o fenômeno ainda não teve início e as chances de acontecer são cada vez mais remotas.
Boletim da Organização Meteorológica Mundial (OMM) na 2ª semana de dezembro reportou 55% de chances de formação de La Niña até fevereiro. Entretanto, ainda que o fenômeno ocorra, ele será muito fraco e de curta duração, com as condições de neutralidade retornando, no máximo, até abril.
“É uma surpresa. Sempre que tivemos El Niño forte, como o de 2023, tivemos La Niña em seguida. E, agora, ela não está se formando”, afirmou o pesquisador do Instituto de Física da USP Paulo Artaxo. “O que era padrão deixou de ser padrão. E isso diminui a nossa assertividade na previsão climática.”
Sem La Niña ou com La Niña muito fraco, segundo os meteorologistas, aumentam consideravelmente as chances de termos mais um verão com novos recordes de temperatura. O ano de 2023 foi o mais quente da história do Brasil, com temperatura média de 24,9ºC, acima da média histórica de 24,2ºC. Os dados de 2024 ainda serão divulgados.
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“Chuvas intensas no verão são características, sobretudo no Sudeste”, diz Lincoln Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Mas as mudanças climáticas estão agravando os eventos extremos e as chuvas estão ocorrendo com bastante intensidade e muito impacto.”
No caso de o La Niña não se formar, a expectativa é que as chuvas intensas registradas este ano no Sul se repitam, além de secas no Norte e no Nordeste. Se o La Niña se formar, no entanto, as previsões se invertem, com redução das precipitações no Sul e chuva acima da média no Norte e no Nordeste, principalmente no chamado Matopiba – que engloba trechos dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia e é considerada uma área importante de produção de grãos no País.
Secas:
- Se o La Niña se formar, a tendência é de redução das precipitações no Sul do País
- Se o La Niña não ocorrer, se repete o que foi registrado em 2024, com secas mais acentuadas no Norte e no Nordeste e riscos de queimadas - várias regiões viram uma escalada de incêndios neste ano, como Amazônia, Pantanal e interior de São Paulo
Chuvas:
- Se o La Niña se formar, a tendência é de aumento da precipitação no Norte e Nordeste, com impacto positivo na produção de grãos na região do Matopiba, que engloba áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)
- Se La Niña, a tendência é que se repita o que ocorreu este ano, com chuvas intensas no Sul do País e riscos de novas inundações
Temperaturas acima da média registradas no Atlântico Norte também exercem papel importante no cenário climático mundial, contribuindo para eventos extremos e alterando padrões do clima no Brasil. As altas temperaturas no Atlântico são associadas a períodos mais prolongados de seca na Amazônia, o que agrava o risco de novas queimadas.
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