Ciclone no RS: idosos foram resgatados no colo por vizinhos em cidade destruída. ‘Foi por pouco’

Em Muçum, uma das cidades mais destruídas pelo temporal, ruas estão tomadas por lama, caminhões e retroescavadeiras; Estado registra 41 mortes em sua maior tragédia climática

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Por Luciano Nagel
Atualização:

MUÇUM (RS) - Muçum, cidade de quase 5 mil habitantes no interior gaúcho, está tomada por lama, caminhões e retroescavadeiras, após a passagem do ciclone que causou a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. O município teve o maior número de mortes - 14 das 41 confirmadas no Estado. Entre os moradores, os relatos são de quem foi salvo por pouco, ao se abrigar no telhado ou sair carregado pelos vizinhos.

Muçum teve 80% do território alagado Foto: Luciano Nagel/Estadão

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O representante André Zeni, de 54 anos, estava no início da tarde na casa dos sogros, que têm 82 e 83 anos. “Quando a água começou a levantar, os vizinhos vieram socorrer. Se não, estavam na lista de desaparecidos”, diz ele sobre a noite de segunda-feira, 6. “Derrubaram o portão dos fundos. Vieram aqui e carregaram os dois no colo. A locomoção deles é difícil, são idosos. Foi por pouco”, continua.

Muçum ficou com 80% do território alagado - o cenário pelas ruas se assemelha a de um terremoto. Segundo Zeni, a cidade e Roca Sales, cidade onde nove morreram, foram “dizimadas”. Ele e mais oito voluntários faziam a limpeza do imóvel para que os idosos possam voltar nos próximos dias.

Imóvel dos sogros de Zeni foi tomado pela água Foto: Luciano Nagel/Estadão

Na cidade, só moradores, autoridades e a imprensa estão autorizados a ingressar na cidade. Voluntários também entrar, se forem ajudar na limpeza. Se for para a entrega de doações, os grupos deixam o material na entrada do município. A demanda maior não é por alimento e água, mas por materiais de limpeza e de higiene pessoal.

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A professora Emanuele Lorenzini, de 21 anos, relata os momentos de desespero no dia do temporal. Quando o nível da água subiu, a família levou grande parte dos pertences para o segundo andar do imóvel, onde ela vive com os pais e a irmã mais nova, de 16 anos. Na medida que a enchente piorava, eles se desesperavam.

O resgate demorou três horas para chegar. “Quando os bombeiros chegaram (de barco), ajudei eles a subirem no telhado”, conta a jovem. A saída foi passar por um alçapão para fazer a remoção de toda a família. Um dos bombeiros teve de até de ficar dentro d’água para empurrar todos para fora da residência.“Tive de ajudar os bombeiros a puxar as duas (a mãe e a irmã). A água tinha muita força.”

Além dos 39 mortos, o Estado tem nove desaparecidos. No total, mais de 6 mil pessoas foram forçadas a sair de casa por causa das enchentes.

Dono de padaria estima prejuízo de R$ 300 mil

O padeiro Erik Masetto, de 32 anos, estima que a água subiu quase cinco metros e destruiu seu estabelecimento, que funciona desde 1998. No início da noite de segunda, quando ele percebeu que o alagamento avançava pela cidade, ele correu para salvar os pertences e levou parte para o vizinho. Mas a água também alcançou o outro imóvel.

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“Perdemos todas as coisas”, afirma ele, ao listar a destruição de fornos, freezers e dos estoques de farinha. Masetto, cuja casa da mãe também foi invadida pela enxurrada, estima prejuízo de aproximadamente R$ 300 mil.


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