Fica em Abadiânia, em Goiás, uma das maiores obras de taipa de pilão da América Latina, a Igreja de São Miguel Arcanjo. O projeto não é famoso só por isso, mas por também ser executado com um modelo que promete ser mais sustentável e econômico.
Essa é uma técnica de construção milenar, desenvolvida na China há cerca de 4 mil anos e que ainda hoje pode ser vista em algumas partes da Grande Muralha do país asiático.
O processo envolvia o uso de terra socada por capim e até fezes dos animais para funcionar como liga, segundo um dos arquitetos responsáveis pelo projeto da igreja, Clairton da Silva, conhecido como Jappa.
Ele e o irmão Neimar Marcos da Silva, ou Marcos Ninguém, donos de uma empresa de arquitetura sustentável, executaram o projeto do arquiteto goiano Rhitielly Ramos. Ele era aluno de um curso de bioconstrução ministrado pelos irmãos.
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A construção teve início em 2019, antes da pandemia, e a parte estrutural da igreja foi concluída em 2023. No momento, a obra está em fase de instalação das portas e vitrais.
A obra é mais econômica do que a convencional, pois só utiliza (muita) terra, areia e uma proporção de 8% a 10% de cimento. Jappa calcula que a economia em comparação a uma técnica convencional atinja até 35%.
Na obra da igreja, a economia foi ainda maior, porque a terra usada foi toda doada pelos moradores e pela a prefeitura, que estava construindo uma estrada na mesma época. Com isso, toda terra retirada foi destinada à construção do espaço religioso. “Os padres não compraram nenhum caminhão de terra.”
Para o padre Welison Borges de Lima, que acompanhou a construção, uma das vantagens é o risco menor de as paredes apresentarem infiltrações, uma vez que a água é naturalmente absorvida pela terra da parede.
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A terra é a principal matéria-prima da taipa, que utiliza ainda pouca água e cimento. Na construção da igreja, que tem paredes de 40 centímetros de largura e o pé direito de 7,5 metros, a economia foi, segundo Jappa, de 500 mil litros de água.
Já a proporção de cimento, que é de 4 por 1 na massa convencional, na taipa subiu para 12 por 1. A única madeira usada na construção é para fazer os moldes das paredes, material que é todo reaproveitado.
Jappa aponta outras vantagens da técnica: a durabilidade e o fato de serem antissísmicas. Diferentemente das construções com cimento, a taipa não usa junta seca de argamassa, que se rompe com o tremor, explica o Jappa. “Como a parede de taipa e´mais larga, o tremor teria de derrubar toda a estrutura”, diz, e dá o exemplo da cidade iraniana de Arg-é Bam, de 500 a.C, que é toda construída com terra e sobreviveu a dois grande terremotos.
A construção em taipa é também bioclimática, mantém o calor à noite e refresca durante o dia, acrescenta Jappa. Isso porque as paredes largas demoram cerca de oito horas para transferir o calor do sol, só atingindo o interior do imóvel à noite. E as paredes resistem também até a tiros de fuzil, afirma Jappa. “Porque usamos terra e areia, que é o que se usa para desacelerar balas.”
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“O meio ambiente é um assunto muito visado dentro da Igreja (Católica), porque o papa Francisco tem falado sempre que é importante preservar a Terra, que é a nossa casa”, diz o padre Welison.