Como é novo parque criado para proteger árvores gigantes na Amazônia

Floresta Estadual do Paru abriga angelim-vermelho de 88,5 metros de altura, quase 10 metros de circunferência e 400 anos de vida

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Por Aline Reskalla

Na Amazônia profunda, existe um santuário de árvores gigantes que tem intrigado cientistas. Fica no Norte do Pará, na Floresta Estadual do Paru, onde só se chega de barco, após oito dias de viagem pelo Rio Jari. Pela importância desse deslumbrante ecossistema na mitigação da crise climática, o local acaba de ser transformado em uma unidade de preservação, o Parque Estadual das Árvores Gigantes.

Entre seus 560 mil hectares, encontra-se o maior exemplar já identificado no Brasil e também um dos dez maiores do mundo: um angelim-vermelho (Dinizia excelsa) de 88,5 metros de altura, quase 10 metros de circunferência e 400 anos de vida.

Angelim-vermelho no Parque Estadual das Árvores Gigantes tem 88,5 metros de altura e 400 anos de vida. Foto: Fernando Sette/Divulgação

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O status de parque passa a considerar o santuário uma área de proteção integral, onde são permitidas apenas a realização de pesquisas científicas, atividades de educação ambiental e turismo ecológico. Já a categoria “floresta estadual”, em vigor até o mês passado, permitia o uso sustentável da região.

A iniciativa de conservação é liderada pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), do governo do Pará, e conta com as parcerias do Instituto Federal do Amapá (IFAP), Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e financiamento do Andes Amazon Fund (AAF).

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A copa dessas árvores gigantes tem um ecossistema próprio, uma biota ainda pouco conhecida. O solo onde elas crescem também é especial, algo que faz com que elas alcancem esses tamanhos extraordinários.

“Estamos incentivando pesquisas para entender melhor isso. Se, por exemplo, descobrirmos que há uma concentração específica de nutrientes no solo que favorece o crescimento dessas árvores, poderíamos aplicar esse conhecimento na agricultura ou no reflorestamento, o que seria um grande avanço”, explica Victor Salviati, superintendente de Inovação e Desenvolvimento Institucional da FAS.

Árvores têm quase 10 metros de circunferência e um ecossistema próprio; solo onde elas crescem também é especial. Foto: Fernando Sette/Divulgação

As proximidades do parque são ocupadas por povos tradicionais há mais de 150 anos. Essas comunidades se sustentam com a pesca, agricultura de subsistência e produção de farinha, características da Amazônia. Além do angelim, há outras 14 espécies de árvores gigantes na região, o que torna a área única.

“Há relatos de moradores sobre a existência de árvores ainda maiores. A área é extensa e não mapeamos todas as árvores gigantes ainda por falta de recursos”, afirma Victor Salviati. Segundo ele, existe tecnologia de satélite poderia ajudar nesse mapeamento, mas o custo é alto.

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“Nossa ideia é buscar parcerias para, futuramente, mapear a reserva e mostrar que temos as maiores árvores da América Latina. Quem sabe a gente não encontra um angelim de 108 metros e conquista o título de maior árvore das Américas, superando as sequoias dos Estados Unidos!?”, sonha Salviati, biólogo apaixonado pelo local.

Turismo de natureza

Os envolvidos no projeto estudam a possibilidade de desenvolver áreas fora do parque para o turismo de natureza de baixo impacto. A proposta é oferecer trilhas e experiências que permitam aos visitantes conhecer, por exemplo, os imponentes angelins gigantes. “É algo semelhante ao que ocorre na Chapada dos Veadeiros, que tem uma longa trajetória nesse tipo de turismo. Isso tem se mostrado eficaz em várias partes do Brasil”, afirma Victor.

Parque Estadual das Árvores Gigantes só pode ser acessado de barco, após oito dias de viagem pelo Rio Jari. Foto: Fernando Sette/Divulgação

Uma vez criado o parque, o próximo passo será a implementação efetiva da unidade de conservação. O presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, explica que, no momento, uma equipe está elaborando o plano de manejo e estruturando o conselho gestor. O grupo também inicia discussões sobre a infraestrutura necessária para receber os turistas que desejam visitar a região.

“É uma área isolada, distante e de difícil acesso. Precisaremos implantar um heliponto, permitindo que as pessoas cheguem de helicóptero e, posteriormente, evoluir para um campo de pouso para pequenas aeronaves, além de uma infraestrutura básica de recepção”, disse Pinto ao Estadão.

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Segundo ele, será necessário também implantar uma torre de observação que proporcione aos visitantes uma vista privilegiada da copa das árvores. O presidente do Ideflor faz um apelo: “Isso requer investimento. Não há um prazo definido para a realização desses investimentos, mas temos interesse em que nossos parceiros se apresentem para nos ajudar a implantar essa infraestrutura o mais rapidamente possível, especialmente para aqueles que amam a natureza.”

O projeto conta com o apoio financeiro do Andes Amazon Fund (AAF), que atua no financiamento de planos federais e estaduais de proteção do seu patrimônio natural, que inclui paisagens naturais, biodiversidade e bens culturais da Amazônia. O porta-voz do AAF, Enrique Ortiz, destaca que o Parque Estadual das Árvores Gigantes é muito importante pelo seu valor de biodiversidade, “pela proteção de um tipo único de florestas que tem maravilhado o mundo (as maiores árvores dos trópicos)”.

Ele acrescenta que é também uma área crítica, que fornece serviços ecossistêmicos dos quais os brasileiros desfrutam, “particularmente crítica nestes tempos em que vemos chuvas extremas, secas e eventos climáticos”.

Segundo ele, o parque abre caminho para a próxima COP 30 do Clima, que será sediada no Pará, em Belém. Através de uma parceria com o Governo do Pará, Ideflor-Bio e Fundação Amazonas Sustentável (FAS), a AAF forneceu fundos para avançar nos planos de proteção da área. “Nosso papel é o de financiador e, até certo ponto, de aconselhamento, com base na experiência da AAF nos processos relacionados com áreas protegidas.”

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