NOVA YORK - Era início de tarde quando milhares de pessoas começaram a se concentrar na Foley Square, no centro de Manhattan, em Nova York, para marchar nesta sexta-feira, 20, contra as mudanças climáticas. O público é formado basicamente por jovens que faltaram à aula para tomar as ruas da cidade e protestar pacificamente. Entre as pautas, pedem o fim do uso de combustíveis fósseis e a proteção de florestas.
Em passeata, os jovens descem as ruas de Manhattan em direção ao Battery Park. Todos seguem o chamamento da adolescente sueca Greta Thunberg, de 16 anos, que há mais de um ano começou a fazer protestos às sextas-feiras - as chamadas “Fridays for Future". Nos atos, Greta pede ação dos governantes contra o aquecimento global.
Na segunda-feira, 23, ocorre a Cúpula do Clima da ONU, convocada pelo secretário-geral da organização, António Guterres, para clamar aos chefes de governo, empresários e lideranças a terem mais ambição no combate às mudanças climáticas.
Crianças também participam do ato. Uma turma de cerca de 40 jovens entre 12 e 14 anos da George Jackson Academy era acompanhada por dois professores que entoavam: "Say it louder!". E os meninos respondiam: "Solar Power!". Os amigos Ethan e Johnny explicaram, modestos: “A gente está aqui para parar as mudanças climáticas”.
Simbolizando diversos “espíritos ecológicos”, integrantes de uma organização chamada Earth Celebration vieram de várias partes de Nova York usando fantasias feitas pela artista Felicia Young. Segundo afirmam, elas representam tanto soluções para o clima, que podem ser obtidas com florestas, por exemplo, quanto as consequências das mudanças climáticas. Uma delas, por exemplo, retratava os glaciares derretendo.
O trio de amigos Anna, Helena e Jack, todos de 18 anos, fazia pose em um poste com cartazes chamativos. “Nossos políticos não fazem nada, então cabe a nós fazermos”, diz Helena. “Eu estou literalmente aterrorizada com o que pode acontecer com o planeta. Como as pessoas conseguem viver calmamente como se tudo não fosse mudar em poucos anos”, afirma Anna.
A brasileira Carolina Schafer, de 29 anos, se juntou aos protestos com um cartaz sobre a Amazônia. Segundo ela, o protesto é uma forma de chamar atenção do mundo para a causa ambiental. “Para as pessoas perceberem que elas podem fazer a diferença, seja negando uma sacola de plástico, comendo menos carne ou plantando uma árvore”, diz.
Alguns dos países mais afetados pelas mudanças climáticas são os pequenos Estados insulares em desenvolvimento. Segundo a ONU, há 57 nesta categoria, como Jamaica, Porto Rico, Cuba, Fiji, Timor Leste, Cabo Verde, Bahrain e Cingapura. Após ter viajado 12 mil quilômetros desde a ilha de Tuvalu, na Oceania, a jovem ativista Eleala Avanitele diz que foi à manifestação para demonstrar as preocupações dos habitantes de regiões que mais sofrem com as mudanças climáticas, por causa de tempestades, enchentes e a elevação do nível do mar. "Queremos mostrar que isso é uma realidade nos nossos países, é a nossa vida diária e só estamos pedindo respeito e ajuda".
Opinião semelhante tem a engenheira ambiental Maria Ortiz Esquivel, da Costa Rica, de 25 anos. Ela acredita que o movimento global fará mais gente compreender os efeitos da crise climática. "As mudanças começam quando as pessoas entendem que cada um pode fazer sua parte. Esses movimentos servem para a informação chegar mais rápido."
José Mupote, de 38 anos, veio de Moçambique para o protesto. O país tem sido afetado dramaticamente por catástrofes climáticas recentes. “Há muitos países que estão a sofrer diariamente situações de emergências climáticas, cheias, tempestades, secas, que estão transformando a geografia mundial. Muitas pessoas estão sem suas habitações, crianças sem escola, a passar fome. Precisamos de uma mobilização mundial para isso mudar e proteger nosso futuro.”
A estudante Hannah Torok, de 15 anos, é uma das milhares de jovens que vieram à greve para pressionar os políticos a adotarem medidas para reduzir as ameaças das mudanças climáticas. Em seu cartaz: “se vocês fossem mais inteligentes nós estaríamos na escola”.
Marchas pelo mundo
Principal inspiração dos atos, Greta está em Nova York para participar da Cúpula do Clima da ONU. Ela acompanha as mobilizações no mundo pelo Twitter. Nos cinco continentes, crianças, adultos e idosos promovem manifestações em mais de 130 países, entre eles França, África do Sul, Japão, Austrália e Brasil. Abaixo, há imagens dos atos em várias partes do mundo.
França
Inglaterra
Quênia
Uganda
Austrália
Indonésia
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