Conheça a história do vendedor de frutas que, sozinho, criou um projeto para despoluir um rio

Diego Saldanha ganhou Prêmio Hugo Werneck por melhor exemplo de iniciativa individual; ele utilizou garrafas pet para criar barreira contra o lixo e já recolheu 20 toneladas desde então

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Foto do author Giovanna Castro
Atualização:

O paranaense Diego Saldanha, de 37 anos, cresceu e vive até hoje no município de Colombo, na região metropolitana de Curitiba, próximo ao Rio Atuba. Ao longo da vida, viu o rio em que costumava brincar e nadar quando criança ser transformado pela poluição. Foi então que decidiu, em 2017, criar por conta própria um projeto para retirar parte do lixo despejado no rio.

“O rio fica ao lado da minha casa e, de ver ele se tornando cada vez mais poluído, um dia decidi fazer alguma coisa sobre isso. Fazer minha parte, como cidadão”, diz. Após pesquisar na internet formas de retirar lixo de rios, ele construiu uma barreira de garrafas pet para recolher todo o resíduo sólido da água.

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Na época, Diego trabalhava vendendo frutas nas ruas e não imaginava que se tornaria uma referência no ramo da sustentabilidade. Em 2023, ele venceu a 13º edição do Prêmio Hugo Werneck, um dos mais conceituados do setor, na categoria melhor exemplo de iniciativa individual. “Fiquei muito feliz e emocionado. Para mim, foi um reconhecimento, um combustível para esse trabalho”, diz.

Hoje, ele já se dedica exclusivamente ao projeto, batizado como Eco Barreira Rio Atuba, entre outras iniciativas voltadas para a sustentabilidade, como o Eco Peneiras, de limpeza de praias. “Eu comecei a me interessar pelo assunto e não parei mais”, diz.

Também se tornou palestrante e criador de conteúdo sobre ecologia nas redes sociais, onde influencia mais de dois milhões de seguidores no TikTok, no Instagram e no YouTube.

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Diego Saldanha diz que já retirou mais de 20 toneladas de lixo do Rio Atuba desde a criação do seu projeto, em 2017. Foto: Thaina Prado/Divulgação: Eco Barreira Rio Atuba

20 toneladas de lixo tiradas do rio

De acordo com Saldanha, desde a criação da eco barreira do Rio Atuba, já foram retiradas 20 toneladas de lixo das águas. Segundo ele, a qualidade de água do rio melhorou e a iniciativa ajudou a evitar os alagamentos.

“Temos relatos de pessoas que viram lambaris, bagres, que são os peixes nativos daqui”, conta ele. “Meus filhos ainda não conseguem nadar nele, mas tenho esperanças de que um dia vão conseguir.”

Segundo Alceu Guérios Bittencourt, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), a iniciativa não resolve completamente o problema da poluição do rio, mas é “muito bem-vinda” e gera impacto positivo não só pela despoluição, em si, como também pela influência sustentável e pressão para que o poder público tome medidas no mesmo sentido.

“O problema de poluição de rios é um problema complexo, que envolve desde o despejo de esgoto não tratado nos rios, que ainda é comum no Brasil, até o não recolhimento correto do lixo, que acaba levado pela água da chuva até as galerias pluviais, que dão no rio. Também tem o despejo dos próprios cidadãos que, por verem o rio já poluído e não terem consciência ecológica, jogam mais lixo direto na água”, afirma o especialista.

De acordo com Bittencourt, à medida em que menos lixo circula pelo rio e, principalmente, menos esgoto é despejado nele, aos poucos o curso d’água se recupera naturalmente – o aparecimento de peixes é um sinal disso. Mas em casos de rios extremamente poluídos - como o Rio Pinheiros e o Rio Tietê, na capital paulista - são necessários também tratamentos químicos na água.

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Influência sustentável

Desde os primeiros meses de projeto, a ação de Diego repercutiu no bairro e ajudou a mudar a visão dos seus vizinhos sobre o rio. Isso, para ele, é motivo de orgulho. “Não são todas as pessoas que entendem importância de se preservar um rio. Infelizmente, tem gente que nem sabe que tem um rio passando pelo bairro. Eu luto para mudar essa visão”, diz.

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Marli Frade Zanatta, 45 anos, corretora de imóveis, foi uma das vizinhas que despertaram a consciência ecológica a partir da iniciativa de Saldanha. Ela conta que acompanha o trabalho desde a primeira barreira, feita de galões de plástico – hoje, ele já utiliza materiais específicos, próprios para esse tipo de projeto – e percebe a mudança visual do rio. “Hoje, penso duas vezes antes de jogar lixo em qualquer lugar”, conta ela.

Nas redes sociais, Saldanha também recebe centenas de mensagens de todo o Brasil pedindo dicas para replicarem sua fórmula. “Comecei totalmente despretensioso, um amigo meu incentivou a gravar um vídeo e postar nas redes. Eu não esperava alcançar a repercussão que alcançou”, diz.

Em seu projeto de limpeza de praias, Diego importou uma tecnologia que conheceu também na internet, criada no Marrocos, para desenvolvimento de peneiras ecológicas para captar sujeiras na areia. Hoje, ele vende essas peneiras para todo o Brasil, incentivando pessoas a limparem a praia e reunir recursos financeiros para seu sustento e também manter seus projetos. “Ainda tenho muito o que fazer.”

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