“O mais importante da moda é diminuir o consumo.” A frase pode parecer ter saído diretamente da boca de um ambientalista, mas quem disse isso foi Oskar Metsavaht, fundador da Osklen. Preocupado com critérios ambientais e sociais desde a concepção da marca, o empresário é também embaixador da Unesco para Sustentabilidade e diz não acreditar em uma democratização da moda que preze pelo consumo igual de todos. Não se esse consumo for exagerado. “Para mim, democratização nessa área significa democratizar o conhecimento da moda, entender o valor das peças, levar a informação. Não temos de democratizar o consumo para que ele seja ainda maior”, afirma.
Outro desafio, segundo os debatedores, é garantir o upcycling na moda, ou seja, o reaproveitamento de materiais. Felipe Guimarães Fleury, docente de Negócios da Moda e Design de Moda da Universidade Anhembi Morumbi, diz que o processo depende da educação dos consumidores e Metsavaht destacou que a logística reversa, para o upcycling, é cara.
Mesmo para quem quer usar peças do momento, que na próxima estação já podem estar ultrapassadas, também há saídas mais sustentáveis. Uma delas são as empresas que alugam roupas. Existem lojas que oferecem uma espécie de “guarda-roupas compartilhado” aos clientes, que pagam planos mensais e podem escolher um número determinado de peças para emprestar por esse período. A Roupateca, de São Paulo, é um exemplo. “Pensamos que poderíamos criar um espaço que estimulasse o entendimento do consumo que passa longe da posse, perto do acesso”, escrevem as fundadoras em carta aberta às clientes.
A tendência de compartilhar bens e não mais comprá-los já se reflete em diversos mercados – de carros a casas de temporada e mesmo com o streaming de filmes –, e vem como uma resposta mais responsável ao consumo desenfreado. “A sensação de posse sempre foi muito importante, mas isso começa a mudar, com um modelo de negócio em que oferecer acesso funciona”, observou Guilherme Brammer, CEO e fundador da Boomera, no painel complementar Economia Circular.
Mesmo compartilhando, em algum momento, os produtos chegam ao fim da vida útil. E é aí que entra mais uma iniciativa para tornar o mercado mais sustentável: em vez de descartar, reaproveitar os resíduos. É a chamada economia circular. “O sucesso de uma marca sempre foi visto como a venda do próximo produto, a gente criou essa ideia de linearidade”, observa Brammer. Com a Boomera, o objetivo é ajudar as marcas a se inserirem no processo da economia circular – do engajamento à logística reversa, passando por etapas de design e pesquisa.
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