Cooperativas 2.0 ampliam escala das redes de reciclagem em São Paulo

Demanda de empresas de vários setores por matérias-primas que podem ser processadas a partir do lixo impulsiona profissionalização de catadores

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Por Eduardo Geraque
Atualização:

É um processo que está consolidado, afirma o gestor ambiental Telines Basílio, presidente da cooperativa de catadores de resíduos Coopercaps. Há 35 anos em São Paulo, vindo do Rio, o ex-carroceiro – que também abandonou a cocaína e o álcool há mais de 20 anos – não apenas se transformou em um dos maiores líderes da reciclagem do País, como viu o setor crescer e se profissionalizar, ainda antes do conceito da economia circular ganhar corpo.

“Em 2015, passamos a perceber que estava na hora de acabar com os atravessadores e fazer a venda direta para as empresas”, explica Basílio. Foi quando começou a cristalizar o conceito das cooperativas de segundo grau. “Percebemos que se ganhássemos volume, faríamos parte de uma grande cadeia de produção, cada vez mais valorizada”, diz o gestor de um grupo que, hoje, de forma associada, reúne centenas de pessoas e processa aproximadamente 70% dos resíduos sólidos residenciais da cidade de São Paulo por meio de um convênio com a Prefeitura. “Mas também temos catadores próprios”, avisa.

Reciclagem de garrafas plásticas:Dentro do contexto da economia circular, quanto menos material bruto acabar sendo extraído da natureza, melhor. Foto: Taba Benedicto/Estadão - 25/06/2020

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O crescimento da Coopercaps ocorreu principalmente porque várias das cooperativas existentes na cidade há uma década começaram a atuar de forma consorciada. O que resultou em aumento da produção e, portanto, de mais matéria-prima vinda do lixo para ser vendida. “Gosto de dizer que nós transformamos a vida. Vai muito além de apenas coletar os resíduos. Reciclamos pessoas”, afirma Basílio.

Segundo ele, além da geração de renda, o trabalho na cooperativa também abre espaço para ex-presos, refugiados, pessoas da comunidade LGBTQI+, trabalhadores com mais de 50 anos já renegados em outros setores e mulheres. “Do nosso pessoal, 65% é do sexo feminino”, diz o presidente da Coopercaps.

O fato de existir uma espécie de indústria 2.0 dos catadores de resíduos sólidos tem muito a ver com a demanda de várias empresas por matérias-primas que podem ser processadas a partir do lixo. Dentro do contexto da economia circular, quanto menos material bruto acabar sendo extraído da natureza, melhor. É por isso que empresas do setor de resinas plásticas, por exemplo, preferem fechar parcerias com os catadores. Desde que, claro, eles consigam entregar grandes quantidades de plástico bruto para movimentar as cadeias de produção.

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O gestor ambiental Telines Basílio, presidente da Coopercaps: "Vai muito além de apenas coletar os resíduos. Reciclamos pessoas". Foto: Coopercaps/Divulgação

Um dos fatores que geraram a aceleração do aprimoramento das cooperativas foi a promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em agosto de 2010. A partir dela é que os chamados projetos estruturantes, que envolvem vários setores, puderam ser colocados de pé. “Quando essa política ganhou corpo, as cooperativas passaram a se desenvolver muito. Com isso, foi possível investir em treinamento, em equipamentos e em processos de auto escala para os cooperados. Hoje, existem vários exemplos voltados para trabalhos em escala comercial que podem ser levados para o mundo”, afirma Gui Brammer, CEO da Boomera Ambipar.

Logística reversa

O executivo, que criou a empresa há dez anos, antes de ela ser adquirida no ano passado, recebeu um prêmio em Davos em maio pelos seus dez anos de trabalho com as cooperativas brasileiras. “Os processos estruturantes, muito mais sérios e perenes, são fundamentais para acelerar a logística reversa no Brasil. Trabalhamos juntos com as cooperativas e com a indústria. Elas viraram parceiras do negócios como fornecedoras de matéria-prima de alta qualidade em sua triagem. Isso faz toda a diferença nesses processos que chamamos de estruturantes”, afirma Brammer, que não nega que ainda existe muito a ser feito nos próximos anos.

Apesar de o pontapé inicial ter sido a lei, a necessidade que grandes empresas têm de conseguir fontes alternativas de matéria-prima de qualidade, disponibilizada agora pelos catadores, acelerou mais ainda toda a maturação do trabalho das cooperativas. Além das várias metas de sustentabilidade assumidas pelos grandes grupos.

Segundo Brammer, na Boomera Ambipar, – e a empresa é a responsável pelo desenvolvimento de tecnologias que transformam o plástico do lixo em resinas de alta performance, por exemplo, para vários fins, entre eles o automobilístico –, as cooperativas, hoje, são divididas em três tipos. As básicas, intermediárias e avançadas. No primeiro caso, ainda é preciso, muitas vezes, cuidar até de questões de segurança do trabalho. No segundo tipo, entram aquelas que ainda precisam se estruturar melhor, enquanto entre as avançadas, caso da Coopercaps e da Cooperlínia Ambiental do Brasil, de Paulínia (SP), entre outras, a associação é em rede é o grande segredo do negócio.

“Coletar, separar, prensar e vender nós já sabemos. Mas agora vamos dar mais um passo e também processar”, avisa Basílio. Segundo ele, além das seis centrais que a cooperativa que ele lidera administra, incluindo as duas da Prefeitura de São Paulo, haverá mais uma na zona sul da capital até 2023.

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Além de separar o joio do trigo, a nova unidade da Coopercaps também vai gerar produtos mais bem acabados a partir do lixo paulista. Mais valor agregado e mais renda para os trabalhadores. “Nós fazemos parte da solução ambiental das cidades”, diz o ex-carroceiro.

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