ENVIADOS ESPECIAIS A SHARM EL-SHEIK - Os Estados Unidos ganharam este ano na Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-27) em Sharm el-Sheik, no Egito, o prêmio Fóssil Colossal, reconhecimento simbólico e irônico oferecido pela Rede Internacional de Ação Climática. O governo americano é acusado de se opor à criação de um fundo de compensação por perdas e danos aos países em desenvolvimento.
Ao lado da Rússia, que manteve um “suspeito comportamento discreto” durante o evento, o Brasil levou uma “menção honrosa”, por aumentar suas emissões de gases do efeito estufa e por “violar direitos humanos e ambientais”. O principal motivo por trás do aumento da poluição atmosférica no Brasil é a escalada do desmatamento da Amazônia.
No último ano da gestão Jair Bolsonaro (PL), o País se manteve como destaque negativo, como nas edições anteriores. De acordo com a rede, o Brasil passou os últimos quatro anos tentando destruir o Acordo de Paris.
Após longo período de isolamento no debate climático, a comunidade internacional espera uma guinada na política ambiental do governo após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em passagem pela COP nesta semana, Lula foi elogiado por seu discurso em que promete prioridade à questão climática em seu novo mandato.
O prêmio principal aos EUA coroa o bloqueio do País ao estabelecimento de um fundo climático. Em 2009, os países ricos prometeram colocar à disposição, a partir de 2020, US$ 100 bilhões anuais para que nações mais pobres pudesse financiar ações de mitigação e combate às mudanças climáticas. O compromisso, porém, não foi cumprido.
O grande tema da conferência deste ano é o financiamento climático e as tentativas de destravar esse dinheiro. Durante a COP, outros países desenvolvidos, como a Alemanha, acenaram com a concordância em ceder suas posições, mas os EUA mantiveram sua posição inalterada.
Presidência egípcia da COP é alvo de críticas
Observadores internacionais apontam falta de liderança da presidência da cúpula, exercida pelo ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shoukry. Segundo fonte ouvida pela reportagem, a organização egípcia deixa os debates “soltos”, o que atrasa as negociações.
Entre os pontos sem consenso para definir cifras e modelos de financiamento climático, estão listar quais países teriam direito aos recursos e a forma como isso seria distribuído. Países ricos, por exemplo, têm defendido que apenas ilhas e nações mais vulneráveis recebam o dinheiro, o que deixaria de fora emergentes como a China e o Brasil.
O vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, externou à imprensa a proposta de ter um fundo específico, mas que seja específico para as regiões mais vulneráveis e que considere a situação econômica do país em 2022, e não em 1992, em clara alusão à China, que passou por significativo crescimento econômico neste período.
O cenário global conturbado – diante das dificuldades econômicas impulsionadas pela pandemia e pela Guerra da Ucrânia, com a consequente crise de energia na Europa - tem emperrado as negociações. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
*O repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade
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