COP no Brasil estimula luta para reduzir desmatamento na Amazônia, diz Carlos Nobre

Lula afirmou que vai pedir à ONU para sediar a conferência climática em 2015; presidente eleito participa nesta semana da cúpula das Nações Unidas em Sharm el-Sheik, no Egito

PUBLICIDADE

Atualização:

ENVIADA ESPECIAL A SHARM EL-SHEIK - O climatologista Carlos Nobre, uma das maiores referências em aquecimento global, elogiou a ideia de levar a Conferência do Clima (COP) para a Amazônia em 2025, conforme prometeu o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em discurso nesta quarta-feira, 16. O pesquisador acompanhou a fala do petista no pavilhão dos governadores amazônicos na COP-27, em Sharm el-Sheik, no Egito.

(A ideia de ser sede da COP) É muito boa porque faz a gente olhar para frente. Com uma COP daqui a três anos, vamos lutar muito para reduzir enormemente o desmatamento e aí o Brasil vai ser um grande líder, talvez um dos maiores do mundo”, afirmou Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP e diretor científico do Instituto de Estudos Climáticos da Universidade Federal do Espírito Santo.

Participação de Lula na conferência climática no Egito tem sido acompanhada com atenção pela comunidade internacional Foto: Mohamed Abd El Ghany/Reuters

PUBLICIDADE

Lula confirmou que vai pedir à Organização das Nações Unidas (ONU) para sediar o evento daqui a três anos - possivelmente no Amazonas ou no Pará. Esse pedido foi feito pelo consórcio dos governadores amazônicos, liderado por Helder Barbalho (MDB), chefe do Executivo paraense.

“Se o Brasil conseguir reduzir o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, que são muito altos ainda, vai se tornar o primeiro país do mundo com altas emissões a atingir seus objetivos do Acordo de Paris (pacto climático assinado por 195 países em 2015). Podemos atingir a meta de 2030 antes de 2030 e a de 2050, em 2040″, afirmou. A meta brasileira prevê atingir a neutralidade de carbono (compensar todas as emissões de gases de efeito estufa) até a metade do século.

Cerca de 50% das emissões brasileiras decorrem do desmatamento, “quase todo ilegal”, destaca Nobre. Já a China tem 80% de suas emissões relacionadas à queima de combustíveis fósseis - o que torna o corte na poluição atmosférica mais difícil, diante dos impactos econômicos e os custos da transição energética.

Publicidade

Cientista defende desmate zero na floresta

No caso do bioma amazônico, especificamente, Nobre argumenta que é preciso “zerar” o desmatamento, ainda que o Código Florestal permita que proprietários de terras desmatem 20% de suas áreas. A medida é necessária, defende, porque a Amazônia está muito próxima do chamado tipping point (ponto de não retorno), estágio a partir do qual o bioma não conseguirá mais se recuperar, o que trará impactos severos para a biodiversidade da região e o clima do planeta.

“Para salvar a Amazônia, que está muito próxima do tipping point, precisaremos zerar o desmatamento - em toda a Amazônia, não só a brasileira. Temos mais de 1 milhão de metros quadrados desmatados e outro 1 milhão degradados. Não tem nenhuma necessidade de desmatar mais, podemos triplicar a produção de alimentos na região sem desmatar uma única árvore”, enfatiza.

Nos últimos quatro anos, a gestão Jair Bolsonaro tem sido alvo de críticas diante da escalada do desmatamento na Amazônia. A expectativa da comunidade internacional é de que Lula promova uma guinada na política de combate a crimes ambientais.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.