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Cientistas criam ‘coral de proveta’ para salvar espécie marinha ameaçada pela crise do clima

Projeto ReefBank coleta gametas de corais e cria banco de sêmen para reprodução assistida. Criogenia preserva gametas por tempo indeterminado

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Por Clara Marques
Atualização:

A missão é: salvar os recifes de corais com ajuda da tecnologia. Para isso, a equipe do projeto ReefBank, liderados pelo professor Leandro Godoy, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e da Rede de Pesquisas do Instituto Coral Vivo, idealizaram e executaram com sucesso a reprodução assistida de uma espécie endêmica da costa brasileira, a Mussismilia harttii (coral-couve-flor).

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Por meio da técnica de criogenia, os gametas desses corais são mantidos a -196°C em nitrogênio líquido, podendo ser armazenados por tempo indeterminado. Nesse processo, os pesquisadores conseguem criar um banco de sêmen de corais e fazer a inseminação artificial.


O projeto tem o objetivo de repovoar as espécies de corais da costa brasileira. Esses animais têm sofrido sistemático impacto das mudanças climáticas. Os efeitos incluem o processo de branqueamento e a morte em massa. Por conta do aquecimento global, mais de 90% dessas espécies correm risco de extinção até o fim do século, segundo relatório da World Resources Institute (WRI).

Os recifes de corais são um santuário de vida, sendo locais de alimentação, berçário e desova de diversas espécies. Eles também melhoram a qualidade da água, reduzem a força das ondas, e participam da produção primária e ciclagem de nutrientes.

Técnica de criogenia busca recriar recifes e recuperar corais. Foto: Mari Lopes/Projeto ReefBank

Estabelecer um protocolo para a reprodução assistida dos corais não foi fácil. Os desafios envolviam desde a formação de cristais de gelo, que podem romper as estruturas celulares e matá-las, como também coletar os gametas no momento certo.

As noites de Lua Nova são o momento em que os corais liberam os “pacotinhos” de gametas. Hermafroditas, esses seres produzem tanto óvulos como espermatozoides; a hipótese para o período da Lua Nova é o fato de que, em maré baixa, existente nessa fase, os gametas se encontram com mais facilidade. Os meses de coleta contemplam o pico reprodutivo entre setembro e novembro.

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A logística também foi um desafio: a maioria dos recifes de corais brasileiros estão no litoral nordestino, no sul da Bahia, e a equipe inteira, que está na UFRGS, em Porto Alegre, precisa se deslocar até a região. Apesar desses desafios, a pesquisa foi um sucesso: mais de 80% dos gametas sobreviveram ao processo de criogenia e puderam ser fecundados.

Segundo Leandro Godoy, o estudo agora está em segunda fase, que consistirá no monitoramento da adaptação e crescimento dos pequenos corais de proveta.

O projeto ReefBank também observará colônias de corais que apresentam mais resistência ao branqueamento ou que se recuperam de forma mais fácil. “Colônias que têm adaptação genética e resistem mais ao estresse do aquecimento dos oceanos e à acidificação da água, que chamamos de super corais, serão observadas em ambiente controlado. Iremos iniciar essa fase do estudo no segundo semestre.”

Em laboratório, os gametas passam por substâncias conhecidas como crioprotetores, para evitar a formação dos cristais de gelo, e são submetidos a uma temperatura ideal, para que as melhores células sejam fecundadas em provetas.

Além do Brasil, a tecnologia de criogenia para a preservação dos corais também é realizada no Havaí, no México e em Taiwan. Foto: Projeto ReefBank/

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Além do Brasil, a tecnologia de criogenia para a preservação dos corais também é realizada no Havaí, no México e em Taiwan. Essa técnica é revolucionária uma vez que a preservação passiva, como explica Godoy, que consiste no isolamento de áreas e aguardo de recuperação dos corais, já não é suficiente.

É necessário um movimento ativo, de aceleração da reprodução e recuperação das áreas dos recifes de corais.

Além de Godoy, a equipe do ReefBank é formada por outros pesquisadores e alunos de graduação e pós-graduação. Dentre os alunos, o projeto conta com acadêmicos de Zootecnia, Biologia, Medicina Veterinária, Engenharia de Pesca, Técnico em Aquicultura e Biotecnologia. O grupo também está presente nas redes sociais por meio do perfil @projetoreefbank_ no Instagram e do canal Projeto ReefBank no Youtube.

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