BRASÍLIA – Uma semana depois de assumir a presidência do Ibama, o tenente-coronel da Polícia Militar de São Paulo, Luis Carlos Hiromi Nagao, decidiu nomear mais um PM para cuidar de uma das principais diretorias do órgão.
Ary Kunihiro Kamiyama, que também é tenente-coronel pela PM de São Paulo, assumiu a Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Floresta do Ibama. Com sua nomeação para o cargo de confiança, foi exonerado o servidor Gustavo Bediaga de Oliveira.
Hiromi também nomeou, para a Diretoria de Planejamento, Administração e Logística, o coronel da Polícia Militar de São Paulo, Demetrius Martins Munhoz. Todos os nomes, inclusive o de Nagao, têm a chancela do ministro do Meio Ambiente (MMA), Ricardo Salles, que desde o início de sua gestão fez dezenas de nomeações de militares não só no Ibama, mas também no Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e no próprio MMA.
Luis Carlos Hiromi Nagao, que chegou ao Ibama em agosto de 2019, assumiu o comando do Ibama como presidente-substituto há uma semana, depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinar o afastamento do presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, envolvido nas investigações que apuram supostos crimes em exportação de madeira.
Os afastamentos no Ibama atingiram, inclusive, militares nomeados por Salles, como o diretor de Proteção Ambiental, Olímpio Ferreira Magalhães, e o superintendente de Apuração de Infrações Ambientais, Wagner Tadeu Matiota.
É da Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Floresta do Ibama que saiu uma das notas técnicas que liberaram uma remessa suspeita de exportação aos Estados Unidos, o que levou ao afastamento do analista ambiental e então diretor dessa divisão, João Pessoa Riograndense Moreira Junior, além do analista ambiental e coordenador-geral de Monitoramento do Uso da Biodiversidade e Comércio Exterior do Ibama, Rafael Freire de Macedo.
Hiromi é quem, de fato, já vinha dando as cartas em grande parte das decisões do órgão envolvendo contratos, mudanças de regimentos, entre outros temas. Nomeações de coordenadores, por exemplo, sempre passaram por ele, sem que o próprio Eduardo Bim, em algumas situações, soubesse de quem se tratava.
Por trás de suas decisões estão contratos polêmicos como a contratação emergencial de helicópteros pelo Ibama, que é alvo de apuração no Tribunal de Contas da União. Em março, o Ibama fechou o “contrato emergencial” de R$ 20 milhões com a empresa de táxi aéreo Helisul, para manter o aluguel de seis helicópteros que prestam serviços ao órgão do Meio Ambiente. A reportagem apurou que o processo chegou a receber um alerta de que poderia levar à suspeita de favorecimento da empresa, mas essa informação foi rejeitada e apagada do processo.
Depois de passar mais de oito meses discutindo como seria o edital para licitar a contratação de serviços de helicópteros, o Ibama não conseguiu concluir o processo. Por isso, recorreu a uma “contratação emergencial” para tentar garantir que os helicópteros continuem a dar apoio nas ações de logística e proteção das florestas.
Como os técnicos do órgão já sinalizavam, a empresa Helisul, que presta serviço ao Ibama desde 2015, foi declarada vencedora, também deste contrato emergencial. A empresa já teve seu contrato aditado muitas vezes e este não podia mais ser renovado, com fim em 26 de fevereiro. A avaliação é de que, por falta de tempo, não havia espaço para contratação de outra empresa que prestasse os mesmos serviços, com início imediato. O contrato de serviços de helicópteros do Ibama é o mais caro de todo o órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, superando a marca de R$ 60 milhões por ano.
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