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‘Cortina de fumaça’: Roraima enfrenta ‘neblina’ resultante de queimadas na floresta; veja imagens

Indicador classifica como péssima a qualidade do ar em Boa Vista e outros municípios em decorrência de incêndios na Amazônia. Focos no Estado já são mais do que o dobro da média

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Por Felipe Medeiros
Atualização:

Tosse seca, ardência nos olhos e incômodo para respirar. Esses são alguns dos sintomas que os moradores de Boa Vista e outros municípios de Roraima relatam após terem de respirar fumaça resultante das queimadas nas últimas semanas. Como o Estadão mostrou, o Estado da Amazônia bateu recorde de focos de incêndio em fevereiro. Governos federal e estadual prometeram reforçar o combate, mas situação continua grave nas últimas semanas.

Na madrugada desta segunda-feira, 25, o índice de qualidade do ar em tempo real (IAQ) apontou alta concentração de material particulado (medida usada para mensurar o grau de poluição do ar), deixando a capital perigosa para a saúde. A plataforma Selva, da Universidade Estadual do Amazonas, classificou o ar como péssimo para respirar.

Fumaça encobre Boa Vista, que vê queda da qualidade do ar Foto: Reprodução/TV Globo

O pesquisador Reinaldo Imbrozio, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), divulgou em sua rede social, que “a poluição atmosférica em Boa Vista e na região do Amajari atingiu recordes globais nesse final de semana em Roraima”.

“Com base em dados de material particulado (MP 2.5) lançado na atmosfera pelos incêndios florestais (via sensores PurpleAir), ultrapassamos São Paulo e Hanói (Vietnã), cidades consideradas como altamente poluídas.”

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A média de focos de queimadas para março é de 599, conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entretanto, este mês já registrou 1.312, ou seja, 119% a mais para o período. Até mesmo o Sol ficou escondido entre as nuvens de fumaça, que se assemelha a uma neblina.

“Severos danos ambientais são observados nas nossas florestas e lavrado, mas também estamos vivenciando graves danos à saúde humana, com impactos diretos na nossa capacidade respiratória”, afirma Imbrozio, que também é doutor em ecologia e professor da Universidade Federal de Roraima.

Flávia Carvalho, de 29 anos, é mãe de uma bebê de um 1 e 8 meses. A moradora de Boa Vista contou que ela e a garota adoeceram na última semana. “Minha filha ficou com a garganta inflamada. Eu, que tenho rinite, tive de ir para o antialérgico. Essa madrugada (de segunda-feira) foi a pior para respirar até mesmo dentro de casa porque a fumaça entrava”, contou.

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Nancy Costa tem evitado sair de casa para que a filha mais nova, de 3 anos, não adoeça. “Neste momento é impossível ignorar a pesada cortina de fumaça que se espalha por nossa cidade devido aos recentes incêndios”, diz a administradora.

Segundo o médico de saúde da família Kender López, de cada 10 pacientes que ele atendeu neste mês, sete tinham queixas relacionadas a problemas provocados pela fumaça.

As pessoas com asma, rinite e doenças cardíacas são as mais afetadas. “Recomenda-se ficar em casa, obviamente. Mas se a pessoa consegue sair ou vai para a rua, o recomendável é usar máscara, a melhor é a N95″, orienta o profissional.

A fumaça tóxica pode provocar também tontura, dor de cabeça, cansaço e até náuseas, “porque atinge a parte gástrica do corpo”, explicou López que atende na capital e nas comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol.

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Nesta segunda-feira, o prefeito de Boa Vista, Arthur Henrique (MDB), anunciou reunião emergencial com o Comitê de Prevenção e Combate às Queimadas no município, “para definir recomendações de cuidado com a saúde de toda a população”, de acordo com nota divulgada pela gestão.

“O prefeito ressaltou que as ações da gestão ocorrem desde o mês de outubro do ano passado, para coibir as queimadas nesse período de estiagem e reduzir os riscos dos incêndios. Entre as ações estão as campanhas educativas e de sensibilização nos veículos de comunicação e nas ruas de Boa Vista, com orientação nos bairros, fiscalização de terrenos baldios e a intensificação de retirada de galhadas. Na área rural, foram feitas escavações de tanques e implantação de aceiros para contenção de chamas no entorno da cidade”, ressaltou a prefeitura.

Nas redes sociais, o governo do Estado reforçou recomendações de saúde para a população, orientando que se evite a exposição à inalação e que se busque atendimento médico se necessário.

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A gestão veiculou novamente mensagem sobre queimadas que havia divulgado em fevereiro. “Já são muitos dias sem chuvas, o que acarreta a desidratação da vegetação, favorecendo as tão temidas queimadas, que destroem a fauna, a flora e prejudicam a qualidade do ar, afetando o sistema respiratório da população.”

O Corpo de Bombeiros de Roraima, continua o governo, atua “especialmente nos pontos mais críticos do nosso Estado, onde já combateu mais de 900 focos de incêndio e já realizou mais de 5.000 ações preventivas, porém, é fundamental que a população contribua com a prevenção de queimadas”, declarou o governo no fim do mês passado.

Em nota, o Ibama diz que “tem atuado, desde novembro do ano passado, em conjunto com outras instituições federais, estaduais e municipais, nas ações de prevenção no combate aos incêndios”.

Também aponta as mudanças climáticas “como fator crítico para o aumento de episódios de incêndios, tendo o El Niño como fator agregador de risco devido à sua relação com a estiagem prolongada na região”.

De acordo com o Ibama, o “Prevfogo tem combatido os incêndios da região, desde janeiro deste ano, com a atuação de 377 combatentes, incluindo brigadistas federais e contingente de apoio”.

Visualizando o cenário climático previsto, acrescenta a nota, “em 2024 o Ibama contratou duas brigadas para atender exclusivamente a Terra Indígena Yanomami”. O órgão afirma ter contratado 17 brigadistas a mais que 2023 e 49 brigadistas a mais que 2022.

Já o Corpo de Bombeiros Militar disse que atua “com efetivo de 300 militares da corporação no combate direto às queimadas”. Segundo a gestão estadual, há em campo nove caminhões de combate a incêndio, 29 picapes com kit de combate a incêndio florestal, dois veículos de transporte de tropa e dois caminhões de carga logística, além de quatro drones para visualizar áreas atingidas.

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Além disso, o governo destaca que países vizinhos, como Venezuela, Suriname e Guiana, também tem sofrido com os focos de incêndio.

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