Cúpula da Amazônia: como Brasil e vizinhos chegam ao encontro? Desmate e petróleo são destaques

Após 4 anos afastado do debate ambiental, Brasil tenta se projetar como liderança regional; Lula defende compromisso de desmate zero até 2030 e Colômbia destaca questão do petróleo

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Atualização:

Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), discutem nesta semana o futuro da floresta em Belém. Na pauta da 4ª reunião da Cúpula da Amazônia. estão a retomada de políticas em conjunto, o desmatamento zero até 2030 e a exploração de petróleo.

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O encontro dos presidentes e representantes dessas nações começa oficialmente nesta terça-feira, 8, e se estende até quarta-feira. 9. O evento é visto também como uma chance de aproximação das pautas ambientais dos países, liderados pelo Brasil, detentor da maior parte da floresta, após quatro anos em que o tema ficou em segundo plano.

Além de Luiz Inácio Lula da Silva, os presidentes Gustavo Petro (Colômbia), Luis Arce (Bolívia), Dina Boluarte (Peru), Irfaan Ali (Guiana) e Nicolás Maduro (Venezuela) confirmaram ida à cúpula. O venezuelano, porém, faltou após ter diagnóstico de otite.

Guillermo Lasso (Equador), e Chan Santokhi (Suriname) declinaram do convite do governo brasileiro. Lasso alegou compromissos internos em seu país para não comparecer. Santokhi priorizou uma data cívica de seu país.

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Membros de movimentos sociais protestam em Belém contra a exploração de petróleo na Amazônia Foto: Evaristo Sa/AFP

Ao final da cúpula, será lançada a Declaração de Belém, documento que apresentará o compromisso dos países que têm em seus territórios partes da floresta para a preservação da Amazônia. A expectativa dos diplomatas brasileiros que trabalham é que o acordo final traga o comprometimento dessas nações de atingir o desmate zero até 2030.

Outro tema também é sensível na cúpula: a exploração de petróleo em terras amazônicas. No Brasil, o assunto esquentou neste ano com a negativa do Ibama à Petrobrás para prospectar a Margem Equatorial, que vai do Rio Grande do Norte ao Amapá, a cerca de 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas. O veto gerou uma crise no governo, opondo a área ambiental, e a pasta de Minas e Energia.

Ao chegar a Belém, na tarde de segunda-feira, 7, Lula foi questionado sobre a exploração de petróleo na Amazônia e ironizou: “Você acha que eu vim aqui para discutir isso agora?”

No mesmo dia, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tocou indiretamente no assunto ao afirmar que, mesmo que a meta de desmatamento seja atingida, o mundo precisa interromper a emissão de gases por combustíveis fósseis, ou a Amazônia será prejudicada. Já seu colega, ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu que a população brasileira tem o “direito” de conhecer os recursos disponíveis no País.

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Já a ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, defendeu no domingo, 6, um plano progressivo para pôr fim à exploração de petróleo na Amazônia. Em entrevista, ela disse que a exploração do petróleo da região gera impactos graves, como a fragmentação dos ecossistemas e conflito com as comunidades amazônicas.

Veja abaixo como chega à cúpula cada país e o que está em jogo.

Brasil

Lula chega à Cúpula da Amazônia com o objetivo de convencer os países da região a assumir a meta de desmate zero – o que o Brasil prometeu fazer até 2030, como mostrou o Estadão. Para isso, ele terá de equilibrar interesses das nações vizinhas e ainda lidar com as contradições internas do próprio governo, como a polêmica sobre a exploração do petróleo na foz do Rio Amazonas.

Após um hiato de quatro anos no protagonismo brasileiro na área ambiental na gestão Jair Bolsonaro (PL), o Brasil tenta voltar à liderança global em busca de soluções para o planeta. Nos bastidores, ainda há cautela quanto a resultados práticos do evento. No cenário mais realista, a expectativa é de que os países estabeleçam metas intermediárias comuns de redução do desmate, mas não necessariamente firmando o compromisso de zerar a derrubada do bioma.

Colômbia

Entre os países amazônicos, a Colômbia é que mais se destaca na preservação da floresta. Após anos de aumento do desmatamento no governo do ex-presidente Iván Duque, a taxa de perda de cobertura florestal vem caindo. A pecuária e o plantio ilegal de coca são dois vetores que continuam a forçar a resistência do bioma.

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Diferentemente do Brasil, no entanto, que passou a discutir a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas, a Colômbia discute um plano progressivo para pôr fim à exploração na floresta. Em Belém, a expectativa é de que se alie ao Brasil e também assuma o compromisso de desmatamento zero até 2030.

Peru

Ao todo, 75% do território peruano é coberto pela Floresta Amazônica. Mergulhado em uma crise político-institucional, o país andino tem visto as taxas de desmatamento aumentarem.

Um dos maiores problemas da Amazônia peruana, que ultrapassa as fronteiras com o Brasil, é o narcotráfico. A região em que o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips foram mortos, no Vale do Javari, em 2022, faz parte da tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru e é uma conhecida rota do tráfico na Amazônia.

Está é a primeira vez que a atual presidente Dina Boluarte deixa o Peru após assumir em dezembro de 2022. É esperado que o país também assine o compromisso de zerar o desmatamento.

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Vista aérea de área desmatada na Amazônia, em Mato Grosso Foto: REUTERS/Amanda Perobelli

Bolívia

A Amazônia boliviana, que corresponde a 43% do país, é uma das mais ameaçadas da região. Ao lado de Brasil e Peru, a Bolívia é o país que mais desmata o bioma. De acordo com dados da Global Forest Watch, entre 2020 e 2022, a Bolívia liderou o ranking de perda florestal no bioma, com 9,06% de supressão da vegetação, à frente do Brasil, com 8,46% e o Peru, com 3,58%.

No país andino, a atividade agrícola pressiona a floresta cada vez mais. Além disso, as questões agrárias e de titulação de terras indígenas são pontos a serem resolvidos se o país quiser, de fato, colocar em prática os compromissos climáticos e ambientais.

Guiana e Suriname

Dois dos países com as menores áreas de floresta amazônica são também os que tiveram os menores desmatamentos neste século, o que não significa que não tenham problemas. No Suriname, o garimpo ilegal é um dos vetores de destruição da floresta.

Denúncias de desmatamento e destruição causadas pela atividade já apontaram que brasileiros lideram o garimpo ilegal em terras amazônicas do Suriname. Assim como o Equador, o país não mandou representantes para Belém.

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Nas águas azuis profundas da costa da Guiana, navios gigantescos extraem petróleo de reservatórios a três quilômetros abaixo da superfície, como mostrou a publicação The Economist no mês passado. Essas máquinas estão transformando o destino de um dos menores e mais pobres países da América do Sul.

Em 2015, a ExxonMobil, a gigante petrolífera dos Estados Unidos, encontrou o primeiro do que hoje são cerca de 11 bilhões de barris de reservas provadas de petróleo bruto, ou cerca de 0,6% do total mundial. A produção começou três anos atrás e agora está aumentando o ritmo.

Equador

O único país amazônico a não fazer fronteira com o Brasil se prepara para decidir em referendo se continua a explorar petróleo na floresta. Em 2022, um vazamento em um oleoduto causou o derramamento de mais de 6 mil barris em rios da região, contaminação que se estendeu à Amazônia peruana levando à decretação de estado de emergência em uma área habitada por cerca de 2,5 mil indígenas.

O presidente Guillermo Lasso, um político de direita, pouco alinhado com o grupo de Lula, não virá ao Brasil. A ausência do chefe de Estado deu sinalização de que o país não pretende se comprometer com as decisões da Cúpula da Amazônia.

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Venezuela

No início de julho, o governo de Nicolás Maduro anunciou que as Forças Armadas Venezuelanas se preparavam para retirar cerca de 10 mil garimpeiros ilegais da Amazônia. A ação foi recebida pela comunidade internacional como uma forma de sinalizar compromisso com a cúpula organizada pelo governo brasileiro.

Apesar de não estar entre os maiores desmatadores do bioma, a Venezuela não produz dados com clareza. Depois do garimpo ilegal, esse é um dos principais problemas da floresta no país, apontam observadores internacionais.

Nos bastidores, a polarização e os cenários internos conturbados de alguns países amazônicos, como a Venezuela, têm dificultado a obtenção de acordos mais ambiciosos. Há a visão de que algumas nações não querem comprar certas brigas por falta de força política interna. /COLABOROU PAULA FERREIRA

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