Desmatamento no Cerrado cai 25% em um ano; Amazônia tem queda de 30%

Apesar da redução das áreas destruídas, a seca histórica e outros fatores têm colocado a floresta em risco

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Foto do author Paula Ferreira
Atualização:

BRASÍLIA - Pela primeira vez desde 2019, o Brasil registrou queda no desmatamento do Cerrado. Segundo dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), foram desmatados desde agosto de 2023 a julho de 2024, 8.174 km² no bioma, uma queda de 25,7% em relação a 2023, quando o desmate foi de 11.002 km² no período.

Além do Cerrado, o desmatamento na Amazônia caiu 30,6% em relação a 2023, chegando ao menor patamar registrado em nove anos. De agosto de 2023 a julho de 2024 foi desmatada uma área de 6.288 km², ante 9.064 km² no período anterior. A taxa confirma a tendência de queda no desmatamento da Amazônia. No ano passado, foi registrada uma queda de 21,8% em relação a 2022.

Brigadistas do Distrito Federal combatem incêndio em área de Cerrado próxima ao aeroporto de Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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O desmatamento do Cerrado era uma pedra no sapato do governo Lula, que desde o primeiro ano de mandato já registrava queda do desmate na Amazônia, mas ainda não tinha obtido resultados positivos no Cerrado.

Na última divulgação do Prodes, o Cerrado vivia um cenário de estabilidade em relação ao desmatamento, com um aumento de 3% na área desmatada em relação a 2022, porcentual dentro da margem de erro. Apesar disso, em 2023, a área desmatada bateu recorde.

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O governo assinou ainda, nesta quarta-feira, o Pacto para a Prevenção e Controle do Desmatamento e de Incêndios no Cerrado dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. “Matopiba” corresponde às siglas desses Estados e é considerada por especialistas uma área crítica, onde a combinação de alta aptidão agrícola, expansão de infraestrutura, desafios na fiscalização, pressões econômicas e questões de governança a faz uma região crítica para o desmatamento no Brasil.

Cerca de 76% do desmatamento no Cerrado se concentrava nesses Estados neste ano. Todos eles registraram queda no desmate. A maior redução foi registrada na Bahia, que teve uma queda de 63,3%; em seguida, o Maranhão teve uma queda de 15,1%; depois, o Piauí, com 10,1%; e Tocantins, com 9,6%.

O pacto está em curso desde abril e inclui, por exemplo, o envio de uma lista periódica por parte do Ministério com dados sobre imóveis registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) com desmatamentos acima de 50 hectares. Outra medida é o embargo remoto de imóveis que pratiquem desmatamento sem autorização.

“O dado que acabamos de ver de queda do desmatamento no Cerrado, que para muitos parecia impossível, é fruto desse trabalho integrado e que começa a ganhar força cada vez mais”, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

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Na Amazônia, apesar das quedas, a seca histórica na região e outros fatores têm colocado a floresta em risco. De janeiro a novembro deste ano, foram registrados 123.361 focos de incêndio no bioma, segundo dados do Inpe. O número representa um aumento de cerca de 48% no número de queimadas em comparação com o mesmo período de 2023 (83.356).

A ministra Marina Silva afirmou que o governo atuou com 3.096 brigadistas em todo país para conter os incêndios florestais. Ela disse ainda que o governo articulou órgãos de fiscalização, como Ibama e ICMBio, a Polícia Federal e implementou ações de combate ao fogo.

“E o fator fundamental: se não tivesse essa redução de desmatamento, essa grande quantidade de incêndio seria incomparavelmente maior”, afirmou Marina.

Na próxima semana, o Brasil participa da Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-29) em Baku, no Azerbaijão. Os dados sobre desmatamento são um trunfo importante do País na intenção de mostrar ao mundo a disposição de atuar no combate às mudanças climáticas. A queda do desmatamento, segundo o governo, rendeu a redução de emissões da ordem de 400,8 milhões de toneladas de gases do efeito estufa.

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“O que deixou de ser emitido nesse período é toda a emissão da Argentina. Reduzimos a Argentina inteira. É uma conquista realmente importante”, afirmou o vice-presidente, Geraldo Alckmin. “Vamos levar para a COP essas conquistas que não são só do Brasil, ajudam planetariamente e são exemplos, mostram que é possível, sim, descarbonizar e segurar as mudanças climáticas gerando emprego, gerando renda.”

Neste ano, o principal tema discutido na conferência é o financiamento climático. A expectativa é de que os países entrem em um acordo sobre o o valor a ser pago aos países em desenvolvimento para que possam implementar ações que minimizem o aquecimento global. O governo brasileiro considera fundamental que o tema seja resolvido neste ano para que não se arraste até a COP-30, que será realizada em Belém, no Pará.

Inicialmente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participaria do anúncio dos dados do desmatamento, mas foi substituído pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, após atrasos na agenda. Antes da divulgação dos dados, Alckmin, a ministra Marina Silva, e outros ministros participaram de uma reunião com Lula sobre as metas do País para limitar gases do efeito estufa, a chamada Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês).

As NDCs foram estabelecidas pelo Acordo de Paris, em 2015, e serão revistas na COP-30, no ano que vem, em Belém, no Pará. Há uma expectativa de que o governo apresente sua NDC na COP-29, em Baku, no Azerbaijão, que começa na próxima semana. Até o momento, no entanto, o Planalto não bateu o martelo sobre as metas. O Ministério do Meio Ambiente apresentou três modelos de NDC que levam em conta três cenários distintos: um conservador, um meio termo e outro mais ousado. Uma nova reunião deve ocorrer na próxima sexta-feira para debater sobre o tema. Os países devem entregar suas novas NDCs até fevereiro do ano que vem.

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“Obviamente que há uma expectativa não só por parte da sociedade brasileira quanto dos países de que aquele que vai ser o anfitrião possa já levar sua NDC. Mas o presidente foi econômico dizendo que vai ser ainda nesse ano. Obviamente o esforço está sendo feito para que a gente possa ir para a COP devidamente calçado”, disse Marina, afirmando ainda que vários ministérios estão fazendo contribuições para as metas.

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