Desmate no Cerrado cresce 25,3% em 2022 e atinge maior patamar em sete anos

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência, 10.688,73 km² do bioma foram perdidos entre agosto de 2021 e julho deste ano

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Atualização:

O desmatamento no Cerrado brasileiro cresceu 25,29% neste ano em relação ao valor apurado em 2021, segundo dados divulgados nesta quarta-feira, 14, pelo Prodes, o sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O órgão, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, fornece a taxa oficial de desmate dos biomas no período de um ano.

Ao todo foram 10.688,73 km² perdidos de vegetação, entre agosto de 2021 e julho de 2022, período analisado pelo sistema. Os dados divulgados no ano passado indicavam uma área devastada de 8.531,44 km².

Área de desmatamento e mineração irregulares no Cerrado, em Cavalcante, nordeste de Goiás descoberta durante operação é realizada na região FOTO SEMAD Foto: Semad

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Este é o terceiro ano consecutivo de aumento da desmate no Cerrado, situação inédita na série histórica do monitoramento do Inpe. No governo de Jair Bolsonaro (PL), criticado pelo desmonte de órgãos ambientais e o avanço da derrubada das florestas, o desmatamento do bioma acumulou área perdida de 33.444 km², o equivalente a mais de seis vezes a área de Brasília.

Os Estados que tiveram as maiores destruições foram os do chamado Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), chegando a 71 % do total desmatado no bioma. O Maranhão lidera o ranking com 2.833,9 km², 27% do total desmatado no bioma. Em seguida aparecem a Bahia, o Tocantins e o Piauí.

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O Cerrado se distribui por uma área de cerca de 1 milhão de km² de vegetação nativa remanescente, quase duas vezes a área da França. Essa savana tropical representa mais de 5% da biodiversidade mundial. Também abriga 25 milhões de pessoas, cerca de 100 povos indígenas e comunidades tradicionais.

Considerado a maior fronteira agrícola do mundo, o Cerrado tem hoje cerca de 50% de sua área de vegetação primaria.

“É a maior fronteira agrícola ativa do mundo e está em um bioma que é pouco protegido”, diz Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil. “Apenas 12% do Cerrado está em Unidades de Conservação e em Terras Indígenas e o Código Florestal prevê que até 80% das áreas das propriedades podem ser abertas.”

Segundo ela, esse é um caminho que precisa ser interrompido o quanto antes, uma vez que, além das perdas naturais, o mercado internacional para produtos agropecuários ligados ao desmatamento deve se fechar em breve. Na última semana, os países que fazem parte da União Europeia chegaram a um acordo para banir a compra de uma série de commodities como soja, carne bovina, madeira, cacau, óleo de palma e café, entre outros. A medida deve se estender produtos que as usem como matéria-prima. A nova legislação, no entanto, deixará por enquanto a maior parte do Cerrado de fora. As regras mais rígidas devem ser aplicadas aos produtos vindos da Amazônia.

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“O desmatamento na Amazônia está mais ligado à ilegalidade. No Cerrado há uma forte corrida para abrir essas áreas ainda possíveis e expandir as atividades agrícolas muitas vezes por pastos de baixa produtividade que serão abandonados depois”, afirma.

No último dia 30, o Prodes divulgou a estimativa oficial para Amazônia Legal. Foram perdidos 11.568 km² em 2022, recuo de 11% em relação a 2021, mas ainda assim um dos patamares mais elevados dos últimos anos.

“Precisamos mudar a trajetória do desmatamento do Cerrado urgentemente, depois de 3 anos seguidos de aumento da destruição. Preservar o bioma é fundamental para manter os regimes hídricos que irrigam tanto a produção de commodities, como a agricultura familiar, e enchem reservatórios de hidrelétricas pelo país. Desmatar o Cerrado é agir contra o agro, contra o combate à fome e a inflação - menos Cerrado significa alimentos e energia elétrica mais caros”, afirma Edegar de Oliveira Rosa, diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil.

Procurado, o Ministério do Meio Ambiente ainda não se manifestou.

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