El Niño deve aumentar temperaturas e trazer prejuízo recorde à economia - e é pior para o Brasil

Até 2029, o fenômeno - previsto para se iniciar nos próximos meses pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), das Nações Unidas -, deve causar perdas de até US$ 3 trilhões

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Os custos econômicos do El Niño neste século chegarão a U$ 84 trilhões (R$ 413 trilhões), mesmo que as promessas de corte de emissões de gases do efeito estufa sejam cumpridas. Até 2029, o fenômeno — previsto para se iniciar nos próximos meses pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), das Nações Unidas —, deve causar perdas de até US$ 3 trilhões (R$ 14.7 trilhões). As estimativas fazem parte de estudo na revista Science e excedem em muito as perdas calculadas por pesquisas anteriores. Países tropicais, como o Brasil, podem ter danos maiores.

Os danos à economia podem envolver perdas, por exemplo, safras piores no agronegócio após secas Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 16/02/2023

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Diferentemente dos trabalhos anteriores, o estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Dartmouth (EUA) avalia os custos a longo prazo do El Niño, que podem persistir por vários anos após sua ocorrência. Eles mediram as consequências após o fenômeno em 1982-1983 e 1997-1998, dois dos mais intensos já registrados. Os resultados: US$ 4,1 trilhões (R$ 20 trilhões) e US$ 5,7 trilhões (R$ 28 trilhões), respectivamente, em perdas globais de renda se seguiram aos eventos.

O El Niño se caracteriza pelo aquecimento anormal do Oceano Pacífico equatorial, mas as alterações climáticas causadas pela atividade humana tendem a intensificar seus efeitos. Com a La Niña ocorre exatamente o contrário: o resfriamento das águas do Pacífico.

Pescador caminha no leito do Rio Magdalena, o maior e mais importante, da Colômbia, durante a seca causada pelo El Niño de 2016, um dos mais severos já registrados  Foto: John Vizcaino/REUTERS

Como um El Niño pode desencadear um La Niña subsequente (fenômeno de resfriamento das águas do Pacifíco), a análise leva em conta tanto os efeitos negativos do El Niño quanto os benefícios do La Niña seguinte.

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Os danos à economia podem envolver perdas, por exemplo, safras piores no agronegócio após secas, redução na pesca, gastos relativos a grandes inundações e escalada de doenças tropicais (a exemplo da dengue).

E se os valores das perdas econômicas parecem alto demais, os pesquisadores fazem uma ressalva no estudo. “Como esses eventos coincidiram com crises cambiais não relacionadas, usamos um modelo excluindo esses eventos para calcular de forma mais conservadora seus impactos”, dizem os autores.

“Nossos resultados sugerem que provavelmente haverá grande impacto econômico, que deprime o crescimento em países tropicais durante, potencialmente, até uma década”, afirma o pesquisador Christopher Callahan, do Departamento de Geografia, que participou das análises. “O resultado pode ser de trilhões de dólares em produtividade perdidos globalmente em relação a um mundo sem este El Niño.”

O último ciclo do El Niño (2014-2015) contribuiu para que um ano depois, em 2016, as temperaturas do planeta fossem as mais elevadas registradas, então neste ciclo os seus piores efeitos também poderiam ser sentidos com certo atraso, o que a OMM prevê que cheguem em 2024.

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No Hemisfério Norte, o aumento da temperatura das águas favorece o desenvolvimento de furacões no Pacífico, mas dificulta a formação deles no Atlântico. Nas últimas semanas, alguns dos países que podem ser vistos como potencialmente afetados pelo El Niño já começaram a emitir alertas de chuvas em algumas regiões.

Jovem carrega saco de colheita, nas plantações de Sumatra do Norte, na Indonésia Foto: Dedi Sinuhaji/EFE

PIB desaba em países como o Brasil

De acordo com a pesquisa, a atividade econômica global nas décadas seguintes ao fenômeno tem uma característica comum: o crescimento econômico desacelerado que se prolonga por mais de cinco anos. Países equatoriais como o Brasil, Equador e Indonésia perderam entre 5% a 19% de seus Produtos Internos Brutos (PIB) após o fenômeno registrado entre 1997 e 1998, diz a pesquisa.

Os pesquisadores alertam que os custos associados à prevenção costumam ser considerados altos, mas os resultados mostram que se comparados ao custo decorrente de não fazer nadam esses valores são bem menores. “Embora a mitigação do clima seja essencial para reduzir os danos acumulados pelo aquecimento, é imperativo dedicar mais recursos à adaptação ao El Niño nos dias atuais”, diz a pesquisa.

Segundo a OMM, é grande a possibilidade que o El Niño, tradicionalmente associado ao aumento de temperaturas, seja registrado em breve e produza ao menos dois anos de maior calor, depois de ter atingido o planeta entre 2015 e 2022, os oito anos mais quentes já registrados.

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“Esperamos um grave aumento da temperatura global nos próximos dois anos”, afirmou em maio o diretor do departamento de serviços de previsão da OMM, Wilfran Mufuma, que, no entanto, ressaltou que é preciso esperar por novos estudos para quantificar este aumento do aquecimento.

Segundo o relatório apresentado pelo especialista em Genebra, o fenômeno El Niño, que em algumas regiões do planeta costuma ser acompanhado por enchentes e em outros por seca, tem 60% de chance de se desenvolver antes de julho, e a probabilidade aumenta para 80% até setembro.

Pesquisadores do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam a formação do fenômeno El Niño nos próximos meses, o que pode aumentar as temperaturas e provocar estiagem em partes das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Já no outro extremo, em algumas partes da região Sul, o fenômeno deve causar excesso de chuvas.

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