No Rio Grande do Norte, estado responsável por 43,2% da produção nacional de camarões no ano passado, a ONG Gamboa do Jaguaribe tenta desde 2006 recuperar uma área de manguezal desmatada pela carcinicultura. “A ajuda que vem é de voluntariado, dos pescadores”, conta Iran Medeiros Torres, de 45 anos, que na última década já conseguiu recuperar cerca de 5 hectares da Mata Atlântica na reserva ambiental, entre mata ciliar e mangues.
A área foi destruída ainda em 2004, quando fazendeiros de Natal planejavam criar ali um viveiro para a criação de camarões, mas foram impedidos pela Polícia Federal. “Conseguimos que o órgão fiscalizador viesse e começamos a fazer um trabalho de formiguinha há uns 10 anos. Já temos árvores aqui com 14 metros de altura”, comemora Iran, que contou com a ajuda da sociedade civil, de pescadores, agricultores e estudantes, para erguer o espaço inaugurado em 2016.
Hoje, a Gamboa do Jaguaribe, batizada em homenagem ao rio de mesmo nome que nasce no Ceará, funciona não só como a maior Área de Proteção Ambiental em Natal, mas também para o turismo ecológico da região. Por lá, Iran e a equipe da ONG construíram uma oca onde realizam sessões de cinema, além de receberem estudantes e visitantes para passeios pelo rio, onde eles conhecem a fauna e flora típica dos manguezais.
“Como todas as áreas das Américas, aqui também é uma área indígena. Estamos onde começou a construção de Natal e a história do Rio Grande do Norte com os povos potiguares”, explica Iran, que também realiza mutirões para a coleta e plantio de sementes do mangue, assim como para a coleta de lixo das margens do estuário Potengi.
Iran conta que, desde antes de o projeto nascer, ele tem denunciado a ocupação ilegal de manguezais na região pelas fazendas de carcinicitura, mas precisou parar após ameaçarem seu pai e seu irmão. “Você fazia denúncia e entrava na mira desse povo. Chegaram ao meu pai e ao meu irmão dizendo para me avisar que ‘os caras têm dinheiro e o negócio é sério’. Então, eu não podia mais denunciar sozinho, daí montamos uma cadeia de denunciadores.”
Agora, ele mantém a área por meio de uma “parceria de base comunitária”, mas afirma que não teve ajuda de nenhuma entidade a nível estadual ou municipal, muito menos dos carcinicultores que desmataram aquele espaço. “Em algumas partes, eles entregaram as áreas degradadas sem fazer nada, nem abrir as comportas dos tanques para a água do mar entrar e replantar o manguezal eles fizeram.”
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