Em junho de 2021, o casal paulista formado pelo economista Dennis Hyde e pela psicóloga Leticia Alves pegou a estrada a bordo de um trailer. A ideia havia surgido em 2018, quando eles visitaram o Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, e se surpreenderam com o baixo número de visitantes. “Começamos a buscar um modo de ajudar”, disse Hyde. No ano passado, deram o pontapé em uma expedição com objetivo de conhecer e divulgar os 74 parques nacionais.
Hyde e Leticia já tinham apreço pela natureza antes de se conhecerem. Após o início do namoro, em 2016, as idas aos parques se intensificaram. O casal se casou na Chapada da Diamantina, na Bahia.
Uma das preocupações de ambos é que a falta de público nas áreas ambientais pode acabar facilitando desmatamento, caça e práticas ilegais. A partir da primeira ideia, foram mais de dois anos amadurecendo o planejamento.
Com o objetivo de documentar e trazer visibilidade para as áreas de conservação que existem pelo território nacional, eles já conheceram 40 dos 74 parques. Após as visitas, o conteúdo é compartilhado nas redes sociais, Instagram, YouTube e no blog autoral Entre Parques BR.
As mudanças de estações e as fases da Lua passaram a ser mais relevantes nessa aventura. Para Leticia, conhecer as riquezas naturais é um privilégio que toda a sociedade tem. “Sinto como se estivesse conhecendo mais minha própria história, como brasileira.”
Entre as paradas, algumas têm cachoeiras, espécies de animais diferentes e climas distintos. “O Parque das Emas, em Goiás, é quase um zoológico a céu aberto, Cerrado, super antigo e conservado. Chegamos na época de muita seca, durante nossa estadia choveu e é uma mudança linda, impressionante”, conta a viajante.
‘Impossível escolher’
Para Hyde, um momento marcante da expedição foi no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná. “Foi esvaziando e ficou só a gente com as cataratas, quando no céu surgiram vários casais de pássaros, além de uma família de jacutinga, ave ameaçada de extinção e muito rara de se ver, estava ensinando os filhotes a voar.”
Dentre as motivações que impulsionam o casal a continuar a jornada, está a expectativa de que as pessoas reconheçam o valor dessas unidades de conservação e seu papel fundamental na sociedade. “São fontes de água, abrigam biodiversidade. Queremos que os brasileiros saibam da importância, além de só ir tomar um banho de cachoeira”, diz Letícia.
Quando questionados sobre quais seriam seus parques favoritos, a resposta é uma só: “Impossível escolher”. “São como se fosse filhos, você não pode ter um favorito”, brinca o economista.
Segundo eles, em todas as cidades o acolhimento é excelente, pelos moradores e guias das regiões, que ficam felizes com a “aventura” do casal.
Na estrada
A casa móvel dos viajantes é equipada para suprir todas as necessidades. A cozinha improvisada tem geladeira, fogão a gás e pia. Há ainda um quarto conjugado com sala, onde fica a cama do casal. Já ao lado do veículo, é montada uma tenda como banheiro, com chuveiro e um vaso sanitário portátil.
Em cada lugar, o período da estadia é por volta de 15 dias, e ambos afirmam que não dá para romantizar a jornada, porque é tarefa difícil. Alagamento, objetos quebrados e visitantes inesperados, como aranhas e uma invasão de formigas, entram na lista dos perrengues já enfrentados nas viagens. “Eu acordei e o teto estava preto, completamente tomado por elas”, diz Hyde.
Para o futuro ainda existem algumas incertezas. “Vamos escrever um ou dois livros talvez, ou nenhum. Estamos sempre abertos a novas oportunidades, ideias. Queremos que a vida se apresente para a gente”, contam. Mas uma coisa já é certa: a vontade de continuar explorando e divulgando as belezas do Brasil permanece.
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