Desmatamento da Amazônia faz Brasil ter maior alta de emissões de gases de efeito estufa em 19 anos

Elevação de 12,2%, registrada em 2021 ante o ano anterior, é do Observatório do Clima; cúpula da ONU sobre aquecimento global será realizada a partir da próxima semana

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Atualização:

O Brasil registrou a maior alta nas emissões de gases de efeito estufa em 19 anos, segundo levantamento do Observatório do Clima divulgado nesta terça-feira, 1º. A elevação, de 12,2%, ocorreu em 2021, em relação ao ano anterior, e tem como principal causa o desmatamento. O País tem sido alvo de pressão internacional para conter a recente escalada de destruição da Amazônia, maior floresta tropical do mundo.

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Em 2021, o Brasil despejou na atmosfera 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente - uma forma de mensurar todos os gases estufa em uma mesma medida. O último aumento dessa monta foi em 2003, quando os dados de desmate bateram o recorde histórico. As emissões de gases estufa subiram 20% naquele ano, conforme o Observatório, que reúne mais de 50 organizações da sociedade civil.

Em novembro de 2021, em Glasgow, durante a última Cúpula do Clima, a COP-26, o governo federal se comprometeu a cortar 50% das emissões até 2030, mas avançou pouco no cumprimento dessa meta. A próxima conferência das Nações Unidas sobre o tema será realizada a partir da próxima semana em Sharm el-Sheikh, no Egito.

“Esse aumento tem sido consistente nos últimos anos e está muito ligado às mudanças no uso da terra, e grande parte disso ligado ao desmatamento na Amazônia”, diz Felipe Barcellos, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). “É fruto também de um processo de desvalorização das políticas de meio ambiente nos últimos anos colocando a perder a queda no desmatamento do início dos anos 2000.”

No mandato de Jair Bolsonaro (PL), o Brasil se isolou nas discussões sobre aquecimento global, ao negar a dimensão do problema na Amazônia e fragilizar órgãos de combate a crimes ambientais, como o Ibama e o ICMBio. Agora, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a comunidade internacional aguarda a retomada de uma agenda alinhada aos esforços de frear a devastação do bioma.

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Nem a retomada da economia após o controle da pandemia de covid-19 pode explicar o aumento. Em 2020, na contramão do planeta, que diminuiu em cerca de 7% as emissões, o Brasil viu seus dados crescerem 9,5%. A alta no desmatamento foi a causa desse resultado.

No ano passado, as emissões decorrentes das mudanças do uso do solo e das florestas, novamente protagonizaram o avanço com alta de 18,5% ante 2020, na esteira de mais um ano de aumento nas taxas de desmate da Amazônia e de outros biomas, como o Cerrado.

O principal responsável pela alta sem precedentes desde o início do século: o desmatamento  Foto: Bruno Kelly/Reuters

Do total de 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente, o desmatamento foi responsável por 1,19 bilhão de toneladas. Para se ter uma ideia do que isso representa: é um valor maior do que todas as emissões do Japão.

Segundo Barcellos, a boa notícia é que o País tem espaço para reduzir suas emissões. “Fala-se muito das emissões difíceis e das fáceis de reduzir. Felizmente as nossas são mais fáceis porque estão ligadas ao desmatamento. Se pararmos de permitir que isso aconteça elas caem”, afirma.

Na agropecuária, setor que costuma ter flutuações pequenas nos resultados de emissões brasileiras, o aumento foi de 3,8%. Um dos motores da economia nacional, o segmento teve as maiores emissões da série histórica: 601 milhões de toneladas, ante 579 milhões em 2020. Se fosse um país, o setor do agro brasileiro seria o 16.º maior emissor da Terra, à frente, por exemplo, da África do Sul.

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A pecuária puxa essa fila com as emissões de metano. Essa é a principal fonte do setor, com 79,4% das emissões, processo reforçado pelo aumento expressivo do rebanho bovino em 2021, de 3,1% (seis vezes mais que a média dos últimos 18 anos).

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A alta nas emissões de metano foi um dos destaques dos alertas feitos pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a piora do aquecimento global. Na agricultura, pesaram ainda a alta no consumo de fertilizantes nitrogenados (13,8%) e o volume de calcário nas lavouras, que subiu 20%.

Outro setor que teve sensível aumento de emissões no Brasil foi o de energia. Em 2021, o País emitiu 435 milhões de toneladas de CO2 equivalente ante 387 milhões em 2020. Esse resultado, a maior alta de emissões em quase 50 anos, vem na esteira do acionamento das termelétricas com a crise hídrica de 2021, a pior em 90 anos na região centro-sul do País. Também resultado da crise hídrica, a safra de cana caiu, o que gerou menor participação de biocombustível nos transportes.

“Não dá para colocar esse aumento no setor de energia na conta apenas de uma recuperação econômica após a crise gerada pela pandemia. Ano passado foi, na média, um ano em que a participação das fontes renováveis foi menor na geração de energia, com acionamento de termelétricas e menor consumo de etanol”, afirma Barcellos. “Há uma política de incremento das termelétricas, como no processo de privatização da Eletrobrás em que foram inseridos ‘jabutis’ para o uso delas. Ou seja, estamos contratando emissões para o futuro.”

No setor de processos industriais e uso de produtos o avanço foi de 8,2%; e de 12,2% no setor de energia, a maior alta desde a época que ficou conhecida como “milagre econômico” durante a ditadura militar, nos anos 1970. 1973. O setor de resíduos foi o único com emissões estáveis.

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Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, lembra que o relatório publicado nesta terça-feira é o último sob o governo Bolsonaro, mas não o último a retratar a governança ambiental de sua gestão, uma vez que o de 2023 trará os dados relativos a 2022. Segundo ele, a alternância na Presidência da República, confirmada como a eleição de Lula, no último domingo, representou para o SEEG a confirmação de que o trabalho da plataforma deverá continuar, uma vez que havia incertezas sobre o futuro da publicação, que não tem seus dados reconhecidos pelo Governo Federal.

Procurado, o Ministério do Meio Ambiente afirma que “trabalha com dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e não comenta dados não oficiais.”

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